Recebo muitos pedidos de ajuda de quem está prestes a divorciar-se ou acabou de o fazer. Muitos destes pedidos partem de quem tomou a iniciativa – não porque tenham dúvidas em relação à decisão mas sobretudo porque há quase sempre muita dificuldade em lidar com a incerteza do futuro.
Os filhos vão ficar bem?
O dinheiro vai ser suficiente?
Será que vai aparecer a pessoa certa?
A família e os amigos continuarão a apoiar-me?
Estes são os principais medos de quem passa por um divórcio. Traduzem quase sempre preocupações legítimas e uma atitude ponderada. É positivo que paremos para pensar sobre o impacto das nossas escolhas – em nós e nas pessoas que amamos – mesmo quando nos sentimos seguros em relação aos sentimentos. Quando a angústia e a incerteza tomam conta de nós, impedindo-nos de fazer o que quer que seja, vale a pena considerar a hipótese de conversar com um psicólogo e, assim, reencontrar a paz.
OS FILHOS
Não vale a pena escamotear a realidade. O divórcio é duríssimo para os filhos. A maior parte das crianças e jovens sentem-se aterrorizados com a possibilidade de deixarem de ter a família unida e, mesmo que haja cordialidade entre os progenitores, é expectável que haja muita tristeza. Trata-se de uma perda, não há volta a dar. Isso está muito longe de significar que se trate de uma perda irreparável ou que o divórcio seja o pior que possa acontecer a um filho. Muitas vezes, esta decisão (difícil) é precisamente a escolha que melhor protege os interesses das crianças.
Refiro-me muitas vezes à importância de educarmos os nossos filhos com honestidade e isso também se aplica em relação aos sentimentos.
Aceitar os sentimentos dos filhos – tristeza, raiva, medo – é meio caminho para que corra tudo bem. É preciso dar tempo para que o luto seja feito, é preciso prestar muita atenção às dúvidas, às expectativas e às necessidades afetivas de cada filho. É preciso ter paciência e reconhecer que a realidade de um possa ser diferente da realidade do outro. E é preciso lembrar – com clareza e honestidade – porque é que os pais optaram por este caminho: para que cada um pudesse voltar a ser feliz.
As crianças tendem a ser mais resilientes do que nós, adultos, e, de uma maneira geral, adaptam-se bem às mudanças práticas associadas a um divórcio. Precisam, sobretudo, de colo, tempo, paz e de interiorizar a mensagem de que também elas deverão – sempre – fazer as escolhas que traduzam a sua verdade e que lhes permitam sentir-se em paz.
DINHEIRO
Se já é difícil fazer planos quando a família está intacta, é natural que haja medo em relação ao futuro perante a hipótese de um divórcio. Na verdade, é exatamente por este motivo que muitas pessoas adiam a decisão – não tanto por terem dúvidas sobre como vai ser mas por não terem meios que garantam a sua subsistência. A experiência mostra-me que, de uma maneira geral, quando duas pessoas se mantêm casadas apenas por dificuldades financeiras a comunicação tende a deteriorar-se e o divórcio é normalmente mais tenso.
Quando há filhos é ainda mais importante que se façam todos os esforços para evitar a escalada de agressividade.
Para muitas pessoas o divórcio implica voltar a contar com a ajuda financeira dos pais – pelo menos, durante algum tempo – e isso é gerador de tristeza. Não é fácil lidar com este retrocesso. De novo, é possível voltar a sentir paz na medida em que cada pessoa aceite a sua realidade tal como ela é e se concentre naquilo que pode fazer para alterar o que lhe desagrada.
Na maior parte dos casos, o divórcio implica passar a fazer uma gestão mais apertada do dinheiro e abdicar, pelo menos temporariamente, de alguns sonhos. A maior parte das pessoas acabam por reestruturar-se também deste ponto de vista – às vezes é preciso trabalhar (ainda) mais, fazer cortes e refazer planos para reencontrar a paz.
NOVA RELAÇÃO
Há quem decida divorciar-se precisamente por se ter apaixonado por outra pessoa. Quando isso acontece, nem sempre é fácil lidar com a tensão associada – o ex que é apanhado de surpresa e que pode fazer tudo para pressionar o novo casal, os filhos que podem não aceitar o(a) namorado(a) novo(a) e ainda a família alargada que pode ter dificuldade em aceitar a decisão. Na prática, há muitas relações que não resistem à pressão mas quando o amor supera estas barreiras iniciais, tende a dar lugar a uma relação mais sólida.
Para muitas pessoas, o divórcio – mesmo que tenha acontecido por iniciativa sua – implica a incerteza de voltar a amar e o medo de voltar a investir numa relação de compromisso. É legítimo que haja desânimo e dúvidas. O divórcio é, acima de tudo, o fim de um conjunto de sonhos e pode ser gerador de um olhar mais pessimista em relação ao amor.
Há quem sinta muita dificuldade em lidar com a solidão e se precipite em relações claramente sem futuro. É preciso parar para prestar atenção aos próprios sentimentos e evitar o desgaste destas situações. Aceitar a própria tristeza não significa resignar-se. Implica olhar para a própria realidade de forma honesta, ter paciência e focar-se no essencial para evitar escolhas impulsivas.
O divórcio também implica quase sempre voltar a ter tempo e disponibilidade emocional para investir em atividades geradoras de bem-estar. Alimentar o amor-próprio, relaxar, sair e divertir-se aproximá-lo(a)-á das pessoas certas.
A FAMÍLIA E OS AMIGOS
Uma das coisas mais difíceis de gerir durante um divórcio diz respeito ao luto que a família alargada também tem de fazer. Quando duas pessoas se separam, é natural e legítimo que se foquem no seu próprio sofrimento e que procurem o amparo dos familiares.
É preciso aceitar estes sentimentos, dar tempo e tentar sempre manifestar os próprios sentimentos sem atacar nem desrespeitar. De uma maneira geral, a família acaba por aceitar a decisão e os laços voltam a estreitar-se.
Os amigos também podem ter dificuldade em lidar com a separação e com os conflitos de lealdade. Para algumas pessoas, apoiar um dos membros do casal (normalmente o amigo mais antigo) implica cortar laços com o outro. Isso tem mais a ver com a necessidade de mostrar de forma clara o apoio em relação à amizade mais longa e tem menos a ver com qualquer animosidade. Mas o afastamento destas pessoas é quase sempre gerador de tristeza e desamparo. Como em relação a quase tudo na vida, é preciso aceitar estes sentimentos e manter o foco. Evitar o isolamento, sair com outras pessoas, praticar desporto e/ou outras atividades que permitam descontrair e conhecer pessoas novas é meio caminho para elevar os níveis de bem-estar.
Passar por um divórcio também implica reconhecer as pessoas que merecem estar ao seu lado. Aquelas que estão “lá” nos momentos mais difíceis são certamente as pessoas que vai querer ao seu lado quando voltar a ser altura de celebrar.