Não é novidade para ninguém que a autoestima de cada pessoa começa a ser construída na infância. Quando nos sentimos amados pelos que nos rodeiam, quando os nossos sentimentos são reconhecidos e valorizados e quando somos incentivados a fazer as escolhas que nos tragam paz e felicidade, é (mais) provável que nos transformemos em pessoas seguras e com uma imagem positiva de nós mesmos. Estarmos bem connosco ajuda-nos a construir relações mais felizes e a rodear-nos de pessoas que nos façam bem.
Mas nem todas as pessoas têm infâncias marcadas por experiências positivas. Episódios traumáticos como a separação prolongada do pai ou da mãe, a negligência afetiva ou alguns comportamentos abusivos podem deixar marcas muito significativas na autoestima de uma pessoa, comprometendo também a capacidade de construir relações geradoras de bem-estar. Quanto mais inseguros nos sentirmos, maior será a probabilidade de nos rodearmos de pessoas tóxicas, de fazermos escolhas que não correspondam às nossas necessidades e de enveredarmos em círculos viciosos desgastantes e nos quais sentimos que temos pouco ou nenhum controlo.
Uma infância difícil não tem de ser uma condenação e há sempre esforços que cada um de nós pode fazer para melhorar a própria autoestima e, assim, ser mais feliz. Nem sempre é um processo fácil e muito menos rápido mas é seguramente o maior investimento que podemos fazer para termos uma vida mais plena.
1. PRESTAR ATENÇÃO
Achamos quase sempre que nos conhecemos muito bem e que sabemos de cor os nossos defeitos e as nossas qualidades. Mas a verdade é que o olhar que temos sobre nós mesmos é muito condicionado pelos pensamentos que fomos interiorizando a propósito das relações mais próximas. Se alguém nos disser continuamente que somos isto ou aquilo, o mais provável é que nos habituemos a olhar para nós próprios dessa forma, sem qualquer forma de questionamento.
Uma das ferramentas que proponho com frequência em contexto clínico é um exercício de mindfulness: parar diariamente durante alguns minutos para meditar.
O objetivo é parar, de propósito, para prestar atenção ao que surge a cada momento e sem juízos de valor.
Ouço muitas vezes frases como «Eu
não tenho jeito para meditar» ou «Eu não consigo meditar», que
traduzem sobretudo desconhecimento e algumas ideias feitas sobre esta
ferramenta terapêutica. A verdade é que a meditação mindfulness não tem nada de
esotérico ou religioso e também não requer propriamente esforço ou alguma capacidade
especial. Para meditar, basta que tiremos alguns minutos por dia (todos os
dias) e que observemos o momento presente.
Partilho aqui uma meditação
guiada, com a duração de 10 minutos, que pode fazer toda a diferença para quem
procura acalmar a mente e eliminar os pensamentos negativos:
Lembro que é a prática regular que traz frutos. Da mesma maneira que precisamos de ir ao ginásio com regularidade para desenvolver os nossos músculos, é crucial que nos disciplinemos para trabalhar o “músculo” do cérebro.
2. TOMAR CONTA DAS EMOÇÕES
Quando crescemos rodeados de adultos que não são capazes de compreender aquilo que sentimos e muito menos dar a devida importância a esses sentimentos, torna-se mais difícil desenvolver a capacidade de gerir as emoções. Isso faz com que tantas vezes façamos escolhas que não traduzam o respeito por nós próprios ou que em alguns momentos não consigamos evitar que algumas emoções nos dominem.
Se a raiva, o medo ou a culpa tomarem conta de nós, o mais provável é que façamos escolhas mais impulsivas, mais disparatadas e mais descontroladas.
Parar diariamente para escrever sobre o que sentimos, numa espécie de autoauscultação, é um exercício que dá trabalho mas que nos ajuda a organizar pensamentos e sentimentos e a dar importância às nossas necessidades. Costumo dizer que cada um de nós tem o direito de sentir tudo mas isso não nos dá o direito de fazer tudo. Eu tenho o direito de sentir raiva num determinado momento mas isso não me dá o direito de fazer o que me apetecer, desrespeitando a liberdade de outra pessoa, por exemplo.
Parar para fazer um diário sobre as nossas emoções mais significativas pode ajudar-nos a reconhecer as alternativas de comportamento mais ajustadas.
3. PARAR DE FAZER COMPARAÇÕES
Aceitarmo-nos exatamente como somos e sermos capazes de abandonar hábitos que não contribuam para a nossa paz depende da capacidade de competirmos apenas connosco próprios. Numa altura em que quase todos temos contas de Facebook e Instagram e somos confrontados com a partilha sistemática de momentos de aparente felicidade, é muito fácil sentirmo-nos diminuídos a propósito de exercícios de comparação de que nem sempre temos consciência.
O corpo de outra pessoa não é igual ao seu e está tudo bem. As lutas e as vulnerabilidades de outra pessoa são diferentes das suas e está tudo bem. Procure travar qualquer exercício de comparação e foque a sua energia naquilo que quer mudar. Faça-o por si, para se sentir melhor. Compita consigo mesmo.
4. VALORIZE-SE
Pode parecer um cliché mas a verdade é que todas as pessoas têm qualidade e defeitos. Uma pessoa pode ser virtuosa na cozinha e ser uma nulidade para a música. Ou pode ser uma nulidade nas duas matérias e ser um poço de sensibilidade. Identifique com clareza e honestidade as suas características mais positivas e aquelas que vale a pena tentar melhorar. Preste atenção à opinião de pessoas que sejam boas para si – repare no que elas dizem sobre si porque é provável que tenham razão.
Todas as pessoas falham e nesses momentos é provável que olhem para si mesmas de forma mais pessimista. Se está a atravessar um período particularmente triste, seja tolerante consigo porque o mais provável é que esteja a olhar para si próprio de forma muito mais negativa.
Faça exercício físico. Alimente-se de forma equilibrada. Trate de si – do seu corpo – todos os dias.
5. FAÇA BEM AOS OUTROS
É muito curiosa esta correlação entre o nosso bem-estar e o bem que escolhemos fazer aos outros. Há muitos estudos que mostram que as pessoas mais felizes são mais descentradas de si mesmas, mais altruístas, mais interessadas em promover o bem-estar de quem está à sua volta. Sermos capazes de prestar genuinamente atenção às dificuldades de outras pessoas, interessarmo-nos pelas suas lutas – mesmo que sejam muito diferentes das nossas, contribui para o nosso bem-estar.
Já reparou que um simples «Bom dia», acompanhado de genuína demonstração de interesse em relação ao que se passa à nossa volta é um poderoso aproximador? Experimente olhar à sua volta e interrogue-se sobre os gestos simples que possam contribuir para a felicidade e o amparo das pessoas que o(a) rodeiam. Ouça-as com atenção, faça perguntas com genuíno interesse e dê o melhor de si.