Deixar ir - a pessoa que ainda amamos, ainda que não nos ame, o emprego que nos dá estabilidade mas onde já não fazemos falta ou os lugares onde fomos felizes mas onde (já) não cabem todos os sonhos – é dificílimo mas é essencial para uma vida plena e feliz.
Perdi a conta ao número de vezes que alguém me disse que estava a ser difícil lidar com o fim de uma relação, apesar de a rutura ser uma escolha consciente, normalmente fruto de más experiências.
Para que a tristeza desse lugar ao discernimento e à tranquilidade e para que pudéssemos voltar a ser felizes rapidamente. Mas isso está muito longe do que acontece na realidade. Quando nos apegamos a alguém, há uma parte de nós, da nossa identidade e dos nossos sonhos, que fica associada àquela pessoa. Não deixamos de gostar da noite para o dia nem conseguimos que a nossa mente apague as memórias e os sonhos que ficaram por concretizar.
Fugir dos pensamentos que nos ligam àquela pessoa também parece uma tarefa difícil: quanto mais tentamos não pensar nisso, mais somos invadidos por uma chuva de pensamentos que nos lembram que não podemos controlar tudo. É fácil inundarmo-nos de ruminações que só nos põem para baixo: «Porquê que ele(a) fez isto?», «Se eu não tivesse feito aquela escolha…», «Se eu tivesse prestado mais atenção…» e por aí fora… Sem darmos por isso estamos a alimentar a tristeza e os sentimentos de culpa e sentimo-nos cada vez mais presos ao passado e àquilo que deixou de ser a nossa realidade.
Como é que isto se faz?
Como é que deixamos ir aquilo que (já) não é para nós?
1. ACEITAR A TRISTEZA
Parece um paradoxo mas é a mais pura verdade: sentimo-nos infinitamente mais tristes quando tentamos fugir deste sentimento. Quando há uma perda ou uma desilusão, há tristeza e ela precisa de ser sentida. Não vale a pena ter pressa, querer que passe num instante. Se antes houve apego, interesse, investimento afetivo, agora é preciso tempo para fazer o luto. É um sinal de respeito por si e pelo tempo que dedicou àquela pessoa, àquele projeto ou àquele sonho.
2. DIZER NÃO ÀS RUMINAÇÕES
Uma coisa é dar por si a recordar momentos felizes e permitir que a tristeza se instale. Outra, bem diferente, é inundar-se de perguntas e «E ses» que só o(a) desgastarão. Quando reparar no facto de estar a ruminar, pare e tente prestar atenção ao momento presente. Foque a sua atenção no que quer que esteja a acontecer nesse instante.
Os exercícios de meditação em modo mindfulness podem ajudar a treinar a sua mente neste sentido.
Ouço muitas vezes frases como «Eu
não tenho jeito para meditar» ou «Eu não consigo meditar», que
traduzem sobretudo desconhecimento e algumas ideias feitas sobre esta
ferramenta terapêutica. A verdade é que a meditação mindfulness não tem nada de
esotérico ou religioso e também não requer propriamente esforço ou alguma capacidade
especial. Para meditar, basta que tiremos alguns minutos por dia (todos os
dias) e que observemos o momento presente.
Partilho aqui uma meditação
guiada, com a duração de 10 minutos, que pode fazer toda a diferença para quem
procura acalmar a mente e eliminar os pensamentos negativos:
Lembro que é a prática regular que traz frutos. Da mesma maneira que precisamos de ir ao ginásio com regularidade para desenvolver os nossos músculos, é crucial que nos disciplinemos para trabalhar o “músculo” do cérebro.
3. ASSUMIR UMA POSTURA DE GENUÍNA CURIOSIDADE
Como está a sua vida neste momento? Como estão as pessoas à sua volta? Quais são os seus sonhos hoje? O que é que você pode fazer hoje para se sentir mais em paz? Que escolhas estão ao seu alcance? Quais são os passos que o podem ajudar a lidar com aquilo por que está a passar?
Aceitar uma realidade difícil não é baixar os braços e permitir que só haja tristeza. Pode não ser fácil encontrar motivação para desviar a atenção do passado mas a disciplina de se focar no momento presente com uma postura de abertura e curiosidade trar-lhe-á a perceção de que nenhuma perda representa o fim de todos os seus sonhos.
4. RESPEITAR AS ESCOLHAS DOS OUTROS
Quando nos envolvemos com uma pessoa, seja romanticamente, seja em contexto profissional ou outro, esperamos que seja capaz de vir ao encontro daquilo de que precisamos. Esperamos que dê o seu melhor e, mesmo que falhe, torcemos para que se mantenha atenta aos nossos sentimentos. Mas isso nem sempre acontece.
Não significa que nos queiram mal ou que tenham a intenção de nos magoar. Pode pura e simplesmente não ser o momento. Pode não ter havido o crescimento necessário. Ou podem ter surgido sentimentos diferentes daqueles que havia no início. Não controlamos tudo o que acontece na nossa vida e a capacidade de respeitar os sentimentos e as escolhas das outras pessoas ajudar-nos-á a amadurecer e a desdramatizar.
À medida que o tempo for passando e for capaz de prestar atenção a todos os seus sentimentos, o mais provável é que consiga dar-se conta de que não só é muito mais forte do que pensava como é capaz de continuar a sonhar, apesar da mágoa. Este processo de aceitação, que implica que diga a si mesmo(a) que vai ficar tudo bem, trar-lhe-á paz e maturidade.
As pessoas mais maduras e serenas que conheço não estão sempre bem e já viveram perdas, desilusões e períodos de muita aflição. Não é a inexistência de obstáculos ou de acontecimentos difíceis que caracteriza uma vida plena. É a capacidade de aprender com tudo isso e continuar a sonhar.