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14.3.18

INFIDELIDADE – A PESSOA TRAÍDA TAMBÉM É RESPONSÁVEL?


Quando há uma traição, qual é a responsabilidade da pessoa traída? Será corresponsável por não ter sabido corresponder às necessidades afetivas do companheiro? E a partir do momento em que perdoa a traição, está a assumir mais responsabilidade? Afinal, já tem conhecimento da situação e, mesmo assim, escolhe ficar…


Li há pouco tempo um texto que colocava uma parte da responsabilidade de uma traição nos ombros da pessoa traída. O artigo não estava assinado mas surgia numa página de divulgação de temas relacionados com a Família e as Emoções e onde estão textos escritos por psicólogos, pelo que qualquer leitor pode facilmente pensar que as ideias ali veiculadas são defendidas pelos profissionais de saúde que se dedicam a esta temática. 

RECONSTRUIR A RELAÇÃO DEPOIS DE UMA TRAIÇÃO


Eu trabalho todos os dias com casais que estão a viver o terramoto provocado pela infidelidade. O meu papel não é o de julgar NINGUÉM. No meu gabinete procuro ajudar cada uma daquelas pessoas a sentirem-se ouvidas e amparadas e, claro, a implementarem as mudanças que as ajudem a sentir-se felizes e em paz. Na maior parte dos casos, estes casais pedem-me ajuda porque, apesar de quererem voltar a dar uma oportunidade à sua relação, não estão a conseguir fazê-lo sozinhos e o assunto “infidelidade” acaba por consumir-lhes os dias. Sentem-se quase sempre enredados em círculos viciosos e não sabem como encontrar novos caminhos.

Numa fase posterior, é provável que precisem de olhar para trás e que ambos tenham de assumir a sua responsabilidade em relação à distância emocional que porventura abriu espaço para o aparecimento de outra pessoa. Mas isso é MUITO DIFERENTE de assumir que ambos sejam responsáveis pela traição. Cada um de nós é responsável pelos próprios comportamentos. Nestes casos, é fundamental que a pessoa que traiu possa falar sobre os seus sentimentos sem se sentir julgada MAS a confiança só começa a ser reconstruída se houver arrependimento genuíno e reconhecimento do erro.



Alguns casamentos esbarram precisamente neste ponto. 

ESCOLHER FICAR DEPOIS DA TRAIÇÃO


Quando alguém escolhe dar uma nova oportunidade à relação depois de ter sido traído, fá-lo porque ainda ama a outra pessoa e, quase sempre, porque acredita no seu arrependimento e na sua vontade de mudar. Quererá isso dizer que passa a ser cúmplice da infidelidade? Claro que não!

Nenhuma relação permanece igual depois da revelação de uma traição e nalguns casos é mesmo muito difícil para a pessoa traída lidar com as dúvidas e os medos que resultam da quebra de confiança. Num processo de terapia conjugal é quase sempre necessário estabelecer compromissos e compete a cada um dos membros do casal fazerem escolhas que permitam que AMBOS se sintam respeitados e seguros. Não vale tudo nem a traição pode implicar que, de repente, um passe a sentir-se subjugado pelo outro. 



E se isto não acontecer? E se a pessoa que traiu voltar a fazê-lo? É natural que haja vergonha e até algum arrependimento. «Porque é que eu voltei a acreditar nele(a)?», perguntar-se-ão algumas pessoas com legitimidade. A verdade é que nós esperamos sempre o melhor das pessoas que amamos e isso pode fazer com que demos o melhor de nós mesmo quando do outro lado o compromisso deixou de fazer sentido. Mas a repetição das mentiras e da quebra de confiança são apenas da responsabilidade de quem trai.

AS TRAIÇÕES NÃO SÃO TODAS IGUAIS


Desengane-se quem ache que a infidelidade só acontece a quem passe os dias a discutir ou aos casais que já não trocam gestos de afeto nem se sentem sexualmente satisfeitos. Há vários tipos de infidelidade. Há quem traia e continue a amar o companheiro (e sofra genuinamente com o próprio erro), há quem traia para acabar a relação sem ter de lidar com a tristeza da outra pessoa (porque é mais fácil lidar com a raiva), há quem traia porque pura e simplesmente não respeita os sentimentos da pessoa com quem se comprometeu.

Quando alguém trai vezes sem conta, dificilmente escolherá deixar de o fazer, mesmo que continue a mostrar muita aflição e arrependimento quando é apanhado. À pessoa traída compete ser capaz de enfrentar esta realidade e fazer as escolhas que lhe permitam ser (mesmo) feliz.



Sem querer, podem estar a transmitir a mensagem de que a outra pessoa “pode” voltar a trair.

Parar para prestar atenção às nossas emoções e àquilo de que precisamos para construir um futuro mais feliz e em paz não é sempre fácil. Às vezes é preciso fazer escolhas que doem no aqui e agora mas que são a única forma de deixar ir o que não é para nós e abrir espaço para aquilo que merecemos.

Terapia Familiar e de Casal em Lisboa