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11.4.18

ACHA QUE É DEPENDENTE DA SUA RELAÇÃO AMOROSA?


Tenho conhecido muitas pessoas que assumem que «precisam» de estar numa relação amorosa para se sentirem bem. Curiosamente, experimentam muitas dificuldades em manter uma relação que as satisfaça e que traga a tão desejada felicidade. Ou saltam de relação em relação, com algumas traições à mistura, ou mantêm relações duradouras marcadas por muitos conflitos e até violência.

A relação amorosa é vista por estas pessoas como uma espécie de tábua de salvação - e não como uma forma de serem mais felizes e fazerem alguém feliz. De resto, estas pessoas vivem extremamente angustiadas em relação à possibilidade de estarem sozinhas, olhando para o fim das relações com o mesmo desespero de uma criança abandonada. É assim que se sentem a propósito de uma rutura: abandonadas. A menos, claro, que a rutura aconteça quando já estão apaixonadas por outra pessoa.

Mesmo quando se tratam de pessoas com um percurso profissional notável, é comum haver uma autoestima baixa e a sensação de ter pouco ou nenhum valor.

O QUE É A PERSONALIDADE DEPENDENTE?


É normal que nos sintamos dependentes das nossas relações – as pessoas de quem gostamos fazem-nos mais felizes e é difícil imaginar a nossa vida sem elas. Daí que muitas vezes seja difícil identificar este problema psicológico.



As pessoas com personalidade dependente mostram níveis de angústia muito elevados em relação à mera possibilidade de ficarem solteiras – mesmo que se sintam profundamente insatisfeitas na relação conjugal. Não é o simples medo de ficarem sozinhas para sempre ou de não encontrarem alguém que as possa fazer felizes. É uma profunda desorientação, que pode levá-las, por exemplo, a desvalorizar as próprias necessidades afetivas e a tolerar inúmeros comportamentos abusivos.


Catarina prometeu a si mesma que ficaria um ano sem namorado. Estava cansada de sofrer por amor e de viver com medo de não ser suficientemente boa para fazer alguém feliz. Duas semanas depois desta resolução, conheceu o Pedro, por quem se apaixonou «loucamente». Nos últimos dois anos passaram por inúmeras ruturas e respetivas reconciliações. A cada rutura, Catarina identificava alguns comportamentos abusivos por parte do namorado – tratamento do silêncio, chantagem emocional e outras formas de manipulação. Mas o desespero acabava por tomar conta de si e, dias depois, acabava por voltar. Sente-se incapaz de tomar decisões e questiona o seu valor e a capacidade de algum dia construir uma relação amorosa feliz.



São mais frequentes os pedidos de ajuda de mulheres com estas dificuldades. Sentem muitas dúvidas, colocam permanentemente o seu valor em causa e mostram demasiados comportamentos passivos. Se alguém lhes perguntar se determinado comportamento é justo, são capazes de responder. Mas se a pergunta disser respeito ao seu próprio relacionamento, as dúvidas multiplicam-se. Não estão habituadas a reconhecer, aceitar e valorizar na medida certa os seus sentimentos e as suas necessidades afetivas, pelo que não conseguem fazer escolhas assertivas. Dizer «Não» é demasiado doloroso – mesmo que seja absolutamente necessário – porque vivem com o medo de ser abandonadas.

As críticas são muito difíceis de aceitar porque são vividas de forma demasiado intensa. Na prática, uma simples chamada de atenção é vista como um sinal de alarme que as remete de imediato para o medo da rutura.

Estas pessoas mostram-se quase sempre muito dependentes dos conselhos dos outros. A insegurança é tal que se sentem permanentemente divididas.

QUAL É A ORIGEM DA INSEGURANÇA?


Estas dificuldades têm quase sempre a ver com as experiências vividas na infância. Nem sempre há traumas ou episódios de violência, o que pode tornar mais difícil o reconhecimento do problema e da necessidade de pedir ajuda.



Na minha prática clínica, tenho observado que existem quase sempre lacunas sérias no relacionamento com os pais. As pessoas com personalidade dependente costumam relatar que tiveram infâncias marcadas pela dificuldade em verem os seus sentimentos devidamente reconhecidos pelos pais e descrevem quase sempre situações de grande desamparo. Habituaram-se a sobreviver sem a segurança afetiva dos adultos, sem a certeza de um porto de abrigo emocional e cresceram com grandes dificuldades em termos de autoestima. Como em muitos destes casos os pais deram o seu melhor, por exemplo, trabalhando arduamente para garantir a subsistência dos filhos, estas crianças cresceram com a sensação de estarem em dívida para com os pais, o que torna, em adultos, ainda mais difícil assumir as próprias necessidades afetivas.

COMO É QUE SE PODE CURAR A INSEGURANÇA?


Ao contrário do que se possa pensar, a nossa autoestima não é imutável e ninguém está condenado a viver em constante insegurança ou dependente – no mau sentido – de uma relação amorosa. É claro que se foram precisas algumas décadas para identificar o problema não vai ser da noite para o dia que ele vai ser resolvido mas o primeiro passo é suficiente para que qualquer pessoa perceba que pode mudar.

É preciso coragem e, sobretudo, compromisso, para alcançar mudanças significativas. O trabalho psicoterapêutico é poderoso. Num ambiente seguro, é possível conversar sobre as experiências do passado, identificando as vivências mais difíceis e as vulnerabilidades que daí resultaram mas sem a necessidade de encontrar “bodes expiatórios”. O objetivo é desenvolver o poder pessoal, não é apontar o dedo a ninguém – muito menos aos pais e mães, que fazem quase sempre o melhor que sabem.

Depois é preciso aprender a reconhecer e gerir as próprias emoções. É preciso que cada pessoa descubra que tem valor, que merece ser feliz e que isso começa pela capacidade de se fazer respeitar. Fazer escolhas diferentes requer tempo e investimento mas é um caminho que não tem preço.

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