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26.4.18

COMO DISCUTIR SEM DESTRUIR A RELAÇÃO


Uma das coisas que não me canso de dizer é que para se ser feliz numa relação também é preciso saber discutir. Não é a inexistência de discussões que caracteriza uma boa relação. Aliás, é dificílimo manter uma relação genuinamente íntima quando não há discussões – porque isso implica quase sempre que não haja verdadeira revelação da parte dos membros do casal. Quando nos defendemos da pessoa que amamos ao ponto de não revelarmos aquilo que verdadeiramente somos ou sentimos, é só uma questão de tempo até que surjam problemas muito sérios. 

Também não é saudável que haja discussões a toda a hora ou que as discussões atinjam proporções assustadoramente agressivas. Na prática, é preciso saber mostrar zanga sem desrespeitar, sem humilhar, sem desprezar.

COMEÇAR UMA DISCUSSÃO:
DE FORMA RÍSPIDA OU DE FORMA SUAVE?


«É sempre a mesma coisa. Tu és incapaz de fazer qualquer coisa bem. Não ouviste o que eu pedi? És surdo ou atrasado mental?» .

Este é um exemplo daquilo a que eu chamo de iniciar uma discussão de forma ríspida. Tem tudo para dar errado: a pessoa que quer mostrar desagrado utiliza frases do tipo «Tu… tu… tu…», faz generalizações, despreza e… perde qualquer oportunidade de ver os seus sentimentos reconhecidos. Quando ouvimos este tipo de frases, sentimo-nos legitimamente atacados, desprezados e sem a mínima vontade de nos colocarmos na posição da outra pessoa.



Normalmente não o fazem por mal. Fazem-no com a intenção de reduzir a sua própria ativação fisiológica, com o propósito de se acalmarem. Claro que a maior parte das mulheres – que já estão irritadas – sentem-se ainda mais enfurecidas com esta retirada. Estão reunidas as discussões para um círculo vicioso de que é difícil sair. 

É neste ponto que muitos casais me procuram – enredados em discussões sem saberem como podem interromper o círculo vicioso.

A alternativa que procuro ajudar a implementar
é iniciar a discussão de forma suave.

Mas o que é que isto quer dizer?

Ninguém está à espera que uma pessoa que se sinta irritada seja capaz de dizer coisas como «Meu amor, precisava que falássemos» ou «Querido, quero dizer-te uma coisa. Estou zangada…». Isto não acontece na vida real! Nem é desejável que aconteça. 

Se há algo que caracteriza todas as relações felizes é a autenticidade. Se estamos zangados, é importante que consigamos mostrar essa zanga de forma clara, sem máscaras. Mas zangarmo-nos de forma clara não pode querer dizer zangarmo-nos à bruta.


O “SEGREDO” É:


Dizer como me sinto
a propósito do quê
e do que preciso.



Aqui estão alguns exemplos:

«Estou mesmo triste por não teres feito um esforço para ir a casa dos meus pais. Preciso que mostres que te importas com o que eu sinto».

«Quando gozas com o facto de ganhares mais do que eu, sinto-me triste e desrespeitada. Preciso que valorizes e respeites o meu trabalho».

«Estou furiosa por não teres dito nada à tua mãe quando ela me criticou. Sinto-me desamparada. Preciso que mostres de forma clara que estás do meu lado».

Em todos estes casos, há zanga, há desagrado e há respeito. Todos estes exemplos são formas claras de mostrar desagrado EM RELAÇÃO A UMA SITUAÇÃO ESPECÍFICA, sem generalizações, sem ataques à personalidade do companheiro.

Isto é aquilo a que eu chamo de iniciar uma discussão de forma suave – mostrar zanga sem desprezo nem híper crítica. 

Então, e funciona sempre? 


Sim e não.

Se a sua intenção for fazer-se ouvir e ver os seus sentimentos reconhecidos, então a resposta é sim. Pelo menos, na maior parte das vezes.Se a sua intenção for garantir que o seu companheiro diga sim ao que está a ser pedido, então a resposta talvez seja não. Pelo menos, algumas vezes. 



TENTAR COLOCAR-SE NA 
POSIÇÃO DA OUTRA PESSOA 


Imagine que é uma mulher que acabou de passar por uma cesariana e que o seu marido se queixa, de forma suave:

«Sinto-me triste e rejeitado por não fazermos amor há algum tempo. Preciso de sentir que sou importante para ti».

Antes de gritar «ÉS DOIDOOOOOOO? NÃO VÊS QUE EU ACABEI DE SAIR DE UMA CESARIANA?», preste atenção à manifestação de desagrado, coloque perguntas que a ajudem a perceber como é que ele se sente, valorize esses sentimentos e… explique como é que você se sente.

Sempre que tentamos “calçar os sapatos” da outra pessoa, colocando perguntas que nos ajudem a entender como se sente, ligamo-nos de verdade. Mesmo quando temos de dizer «não» ao que está a ser pedido.

Numa relação saudável, às vezes cede um, às vezes cede o outro. Se isto não acontecer, é preciso conversar. E quando as conversas a dois parecem não levar a lado nenhum, pode ser importante pedir ajuda.

Terapia Familiar e de Casal em Lisboa