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26.6.18

COMO MELHORAR A AUTOESTIMA


A autoestima condiciona rigorosamente todas as áreas da nossa vida - o amor, o trabalho, a relação com os amigos e até a nossa saúde física. As pessoas com autoestima elevada não estão sempre bem mas têm maior capacidade para dar a volta às situações negativas. Mas nem todas as pessoas saem da infância com uma boa autoestima, pelo que importa perguntar: o que é que cada um de nós pode fazer para melhorar a autoestima?


A autoestima está diretamente relacionada com as primeiras relações afetivas. A forma como os pais se relacionam com os filhos é determinante para que as crianças aprendam a valorizar-se na medida certa, independentemente das suas competências e das frustrações por que possam passar. Quando um pai ou uma mãe mostra o seu amor incondicional de forma clara, quando valoriza as necessidades afetivas da criança e quando responde com afeto à maior parte dos seus apelos (mesmo que seja para dizer «Não»), semeia o amor-próprio e a segurança emocional.

É infinitamente mais provável que uma criança encontre os recursos para dar a volta a um problema ou aprenda a lidar com aquilo que a entristece se, a cada desilusão ou frustração, não questionar o seu próprio valor. E essa forma de olhar para si mesma estender-se-á à vida adulta.

UMA BAIXA AUTOESTIMA NÃO É UMA CONDENAÇÃO 


Muitas pessoas crescem com variadíssimos pensamentos negativos acerca de si mesmas – normalmente resultantes das críticas que ouviram dos adultos à sua volta – e questionam-se sobre a possibilidade de se verem livres dessas crenças.



Sim, é possível. A autoestima é mutável. Não vou mentir: quanto maiores forem as marcas resultantes da hipercrítica, da exigência, da negligência afetiva, dos acontecimentos violentos ou traumáticos, maior é o desafio. Todos os dias tenho o privilégio de trabalhar com pessoas que começam por sentir-se profundamente limitadas pela falta de autoestima e que gradualmente, graças ao seu trabalho terapêutico, ao seu próprio investimento, se vão libertando.




O QUE É A AUTOESTIMA?


Há quem me peça ajuda para recuperar a autoestima na sequência de uma perda (pessoal, profissional). Às vezes constato que o pedido de ajuda está mais relacionado com a perda ocasional da autoconfiança numa área específica da vida. Ou porque a pessoa foi alvo de uma situação abusiva no trabalho e começou a questionar as suas capacidades, ou porque acabou de sair de uma relação e acha que não vai voltar a ser feliz no amor. E o pedido de ajuda – legítimo - acaba por ser um sinal de respeito pelos próprios sentimentos, uma espécie de alavanca que ajudará a encontrar o rumo. Em muitos desses casos a autoestima é relativamente boa, ainda que a autoconfiança numa área específica esteja fragilizada.

Do mesmo modo, conheço muitas pessoas – dentro e fora do consultório – que se sentem muito confiantes em determinadas áreas (no emprego, por exemplo) e que não se têm em grande estima e, por isso, vão abaixo perante episódios de rejeição ou frustração, como se aqueles acontecimentos as levassem a confirmar o seu baixo valor enquanto pessoas.

Esta distinção (entre autoestima e autoconfiança) é especialmente interessante na medida em que pode ajudar-nos a perceber alguns comportamentos. Por exemplo, refiro-me muitas vezes ao facto de os comportamentos abusivos estarem relacionados com a baixa autoestima de quem os pratica. Sim, a maior parte dos abusadores são pessoas com baixa autoestima que utilizam os abusos como forma de sentirem que têm poder sobre os outros (em vez de tentarem desenvolver o seu poder pessoal).

Em resumo, a autoestima é a forma como nos sentimos em relação a nós mesmos.



COMO PODEMOS DESENVOLVER A NOSSA AUTOESTIMA? 


Cultivar a autoestima pode ser surpreendentemente difícil. Há várias ferramentas com comprovada eficácia terapêutica mas importa lembrar que o “segredo” está na disciplina. É preciso um investimento contínuo. Aqui estão alguns passos importantes:

#1: CALAR A AUTOCRÍTICA


A maior parte das pessoas com baixa autoestima habituaram-se a ouvir muitas críticas a seu respeito e é provável que tenham interiorizado pensamentos autodestrutivos como «Não tenho valor», «Os outros não vão gostar de mim» ou «Não vou ser capaz…». Se estes pensamentos estão enraizados há décadas, é natural que seja preciso tempo e paciência para se ver livre deles. Um dos passos importantes nesse sentido passa por identificar esses pensamentos à medida que surgem e tentar substituí-los por pensamentos positivos e realistas. Não adianta dizer a si mesmo «Eu sei que vou ser capaz» se, lá no fundo, não acreditar. Mas talvez possa dizer a si mesmo(a) «Vou continuar a tentar até conseguir» por oposição a «Mais vale desistir».

#2: TREINAR A AUTOCOMPAIXÃO


Se olhar à sua volta é provável que dê por si a ser tolerante em relação aos erros dos outros, a colocar algumas vezes os juízos de valor de lado e a permitir que a compaixão o(a) ajude a perdoá-los. Procure fazer este exercício em relação a si mesmo(a).



Permita que o seu amor por si mesmo(a) seja maior do que a crítica.

#3: MEDITAR


Mesmo que não se sinta capaz de parar para meditar durante 10 ou 20 minutos, dê a si mesmo(a) a possibilidade de experimentar os benefícios desta prática. Pode fazer o download de uma das muitas aplicações para telemóvel que estão disponíveis e começar por fazer uma ou duas pausas por dia. Cada pausa pode durar apenas um minuto. O importante é que se habitue a parar para reparar no que está a acontecer no momento presente e, assim, dar-se conta de que é possível travar a voracidade dos seus pensamentos. Muitas vezes chegamos ao fim do dia cansados sem que tenhamos feito qualquer atividade que o justifique. É o desgaste provocado pela nossa mente.

#4: PRATICAR O AUTOCONHECIMENTO E O RESPEITO POR SI MESMO(A)


Permita-se parar para prestar atenção aos seus interesses, às coisas que quer fazer, àquilo que, do seu ponto de vista, possa acrescentar “cor” à sua vida. Sem juízos de valor, vá anotando aquilo que acha que lhe pode dar prazer, aquilo que o(a) entusiasma, aquilo que o(a) faria sentir mais vivo(a). Olhe para a sua lista e pergunte «O que é que eu posso fazer?» a propósito de cada item. Se um dos seus sonhos for fazer uma viagem à Austrália e (ainda) não tiver dinheiro para o concretizar, pode, por exemplo, começar a poupar nesse sentido. Alguns objetivos são difíceis de alcançar mas também costumam ser os mais gratificantes. Centrar a sua atenção naquilo que você PODE fazer hoje, em vez de desperdiçar energia com aquilo que não controla, ajudá-lo(a)-á a sentir-se melhor consigo.

Olhe à sua volta e procure identificar os hábitos e as rotinas que fazem parte do seu dia-a-dia. A propósito de cada um, questione-se: 


«Para quê (que faço esta escolha)?»
«Qual é a minha intenção?»
«Como é que esta escolha me faz sentir?»
«O que é que eu posso fazer neste momento
para ir ao encontro da minha intenção
respeitando os meus sentimentos?»



Parar para observar pode dar lugar à constatação de que muitas das suas escolhas têm sido feitas de forma automática. Talvez se dê conta de que não tem dado muita importância aos seus sentimentos. E talvez repare no facto de não ser fácil mudar tudo de uma vez. Foque-se naquilo que você PODE fazer hoje. O simples ato de colocar a pergunta «O que é que u posso fazer?» é um gesto de respeito e compaixão.

#5: PARAR COM AS COMPARAÇÕES




Habitue-se a travar todos os exercícios de comparação e a focar a sua atenção naquilo que você pode fazer para ir ao encontro das suas metas. Esta postura é especialmente adequada numa época em que somos bombardeados com estímulos através das redes sociais que podem baralhar-nos momentaneamente. Não há vidas perfeitas mas a sua vida pode ser melhor a cada dia se se centrar naquilo que VOCÊ pode fazer.

#6: PRATICAR A GRATIDÃO


Mudar para melhor é sempre bom MAS é fundamental que nos habituemos a valorizar aquilo que temos e que torna a nossa vida feliz. Todos os dias somos confrontados com gestos que traduzem afeto, bondade, cuidado, altruísmo mas nem sempre estamos disponíveis para reparar neles e para os valorizar na medida certa. Sair de casa com a intenção de prestar mais atenção a estes comportamentos pode ser o suficiente para nos darmos conta de que esta “caça ao tesouro” pode fazer muito pelo nosso bem-estar. 

#: 7 PRATICAR A AUTOVALORIZAÇÃO


Se se sente especialmente em baixo na sequência de um rompimento, é natural que se questione sobre a sua capacidade para manter uma relação amorosa. Para impedir que os pensamentos negativos toldem a sua perceção de si mesmo(a), pare para fazer uma lista com as qualidades que você sabe que tem enquanto namorado(a) (por exemplo, ser leal ou carinhoso(a)). Faça um pequeno texto sobre uma dessas qualidades (com um ou 2 parágrafos) e repita o exercício ao longo de pelo menos uma semana (a propósito de outras qualidades).

Se esta é a altura em que tem questionado o seu valor profissional, experimente fazer o exercício a propósito das suas características enquanto profissional.

Melhorar a autoestima dá trabalho, sim. Mas quando nos damos conta de que é possível colher frutos e de como isso afeta, pela positiva, toda a nossa vida, é mais fácil disciplinarmo-nos. Às vezes pode ser preciso falar com um profissional e trabalhar em equipa para que, do compromisso terapêutico, surjam resultados mais sólidos.

Terapia Familiar e de Casal em Lisboa