Quem passa por uma infidelidade sente quase sempre muitas dúvidas. Para que a pessoa traída se sinta capaz de lidar com a situação e fazer as suas escolhas, é essencial que haja resposta para as perguntas que a assolam. Hoje escolhi dar resposta a 3 das perguntas mais frequentes.
Porque é que a pessoa que trai não pensa nas consequências ou só pensa nisso depois de já ter acontecido alguma coisa?
A maior parte das pessoas que tenho conhecido e que foram infiéis não tinham a intenção de trair ninguém nem estavam propriamente à procura de qualquer relação. Acabaram por ser apanhadas desprevenidas por sentimentos com que não contavam e que acabaram por tomar conta de si. Não, não estou a desculpar ninguém e muito menos a desresponsabilizar quem quer que seja pelas próprias escolhas. Aquilo que quero dizer é que, na maioria dos casos, não só não houve premeditação, como a relação extraconjugal não surgiu em resposta aos problemas no casamento.
Talvez até fossem capazes de dizer, de forma honesta, que se sentiam satisfeitas com a relação. De repente, são surpreendidas com um conjunto de emoções positivas de que já nem se lembravam e deixam-se levar.
Algumas destas pessoas não só foram sempre pessoas honestas e leais como se foram “esquecendo” de si mesmas, dedicando-se à família. Quando surge o affair, a pessoa sente-se desejada como há muito tempo não sentia, sente-se valorizada, sente-se vista, sente-se especial e… cede. Na prática, a infidelidade tem muito mais a ver com o esquecimento da própria pessoa do que com a desvalorização do casamento.
É possível que tenha havido paixão e sentimentos de culpa em simultâneo?
Uma das coisas de que uma pessoa traída mais precisa é da certeza de que o companheiro se importa com os seus sentimentos, com a mágoa que a traição provocou. E uma das coisas que mais frequentemente atrapalha essa confiança é o reconhecimento de que houve paixão.
Mas a verdade é que a tal paixão que surge e que, como referi antes, tem mais a ver com os sentimentos e necessidades afetivas que estavam adormecidos do que com os problemas da relação, não apaga a ligação que já existia. Há muitas pessoas que se sentem profundamente culpadas por estarem a trair o/a companheiro/a ao mesmo tempo que têm medo de abdicar da relação que os fez voltarem a sentir coisas tão positivas.
É possível voltar para a relação original e ser feliz?
Nem todas as relações “sobrevivem” a uma relação extraconjugal. Atualmente até pode ser mais difícil para algumas pessoas conviver com a vergonha que possa resultar de perdoar uma traição do que com uma rutura. A verdade é que muitas pessoas à nossa volta nos pressionam para que não nos contentamos com menos do que merecemos e, às vezes, isso também se traduz em apontar o dedo àqueles que escolhem voltar a investir na relação.
É exatamente isto que acontece com muitos dos casais que ultrapassam a traição.
Se tiver havido o tal envolvimento emocional, pode levar algum tempo até que a pessoa que traiu e que escolheu voltar para o casamento consiga desligar-se completamente e investir em pleno na sua relação. Por outro lado, a pessoa traída pode reconhecer que ainda ama o companheiro e que quer perdoar e reconstruir a relação mas pode dar por si enredada em ressentimento, pensamentos negativos e muita dificuldade em seguir em frente. E, mesmo quando a poeira assenta e deixa de haver discussões acesas, nem sempre é fácil olhar para trás e identificar aquilo que é preciso mudar - não apenas para restabelecer a confiança mas, sobretudo, para que cada um se sinta realmente vivo dentro da relação. Algumas pessoas precisam de ajuda terapêutica para fazer este caminho.