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29.8.18

4 RAZÕES E 4 DICAS PARA DEIXAR DE GRITAR COM OS SEUS FILHOS


Os pais e as mães não são robôs, não estão sempre calmos, não são perfeitos. E as crianças também não precisam de perfeição. Mas vale a pena refletir sobre tudo o que acontece quando gritamos com os nossos filhos e sobre as alternativas que nos podem ajudar a construir a nossa felicidade em família. Sem perfeição.


Não há ninguém que esteja sempre calmo ou disponível. A raiva, a irritabilidade e a impaciência fazem parte da vida e aquilo que importa é que saibamos lidar com cada uma das nossas emoções, gerindo-as, em vez de permitirmos que sejam elas a comandar-nos e a empurrar-nos para comportamentos impulsivos dos quais possamos arrepender-nos. Os nossos filhos são, provavelmente, as pessoas mais importantes da nossa vida, as pessoas que mais amamos, que mais desejamos proteger e mimar mas… também podem ser aquelas que mais facilmente nos tiram do sério, as que mais nos desafiam e as que mais exigem de nós fisicamente. Num minuto estamos a olhar para as fotografias deles no telemóvel e a ansiar voltar para casa para os abraçar e no outro estamos a entrar em casa, a ouvir berros e «Oh mãe olha o que a mana me fez» e com vontade de voltar a sair.

Quem tem filhos pequenos sabe que que as crianças tão depressa estão a inventar brincadeiras e a rir à gargalhada como depois estão às turras. É normal. Os irmãos zangam-se várias vezes por dia e tendem a solicitar a ajuda dos pais para resolver estas tensões. Quando essa ajuda não aparece podem perder a paciência e começar aos empurrões… À medida que o dia decorre e que este “filme” se repete, é fácil sentirmo-nos impacientes, é fácil resolver a situação com castigos e um par de berros. Mas (quase) toda a gente sabe que isso não resulta.

RAZÕES PARA DEIXAR DE GRITAR COM OS SEUS FILHOS 


#1: NÃO HÁ NADA DE PEDAGÓGICO EM GRITAR.


Há quem defenda que as crianças só aprendem assim ou que só “obedecem” quando ouvem um par de berros. A verdade é que os gritos – assim como as palmadas – podem ser eficazes, pelo menos na medida em que por eficácia entendermos a imposição momentânea da nossa vontade.



Sim, é de descontrolo que falamos. Perante a nossa postura mais agressiva, o que é que a criança sente?

MEDO

Não vale a pena escamotear a realidade. Os gritos amedrontam. Mesmo que a criança nunca tenha sido alvo de violência física, vai assustar-se com os gritos e temer pelas consequências de qualquer “mau comportamento”. Isto é muito diferente de ensiná-la a compreender que as suas escolhas têm consequências ou explicar-lhe porque é que é importante – para nós ou para ela – que faça aquilo que estamos a pedir.

#2: É PRECISO GRITAR CADA VEZ MAIS ALTO.


A partir do momento em que a criança aprenda a lidar com os gritos – o que é muuuuito diferente de compreender a importância do que lhe está a ser pedido -, o mais provável é que se habitue a “desobedecer”, fazendo exatamente aquilo que tem vontade e que vá ao encontro dos seus desejos sempre que não houver gritos. Isto é, numa casa onde haja gritos, as crianças deixam de responder às solicitações normais em que se sintam contrariadas. É como se interiorizassem que só “têm de” o fazer se se sentirem ameaçadas. Por outro lado, se deixarem de se sentir ameaçadas e passarem a encarar os gritos como a forma de comunicação “normal”, os adultos vão precisar de assumir estratégias cada vez mais agressivas.

#3: AUMENTA A PROBABILIDADE DE SEREM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA NO NAMORO.


Como é que gostaria que os seus filhos fossem tratados numa relação amorosa? Todos os pais e mães desejam o melhor para os seus filhos e isso também passa por desejar que eles sejam capazes de construir amizades e relações amorosas em que sejam tratados com respeito e afeto. Numa altura em que tanto se fala em violência no namoro, importa que reflitamos sobre os exemplos que estamos a dar.



Parece dramático. E é.

Quando aprendemos a controlar a nossa própria raiva e impaciência e fazemos escolhas que nos ajudem a respeitar o bem-estar dos nossos filhos ao mesmo tempo que impomos os limites do respeito por nós, estamos a semear para que mais tarde eles construam relações afetivas baseadas nos mesmos valores.

#4: É FÁCIL CRIAR CÍRCULOS VICIOSOS


Há famílias que pedem ajuda para lidar com os “maus comportamentos” dos filhos – ou porque há queixas na escola, ou porque a criança está cada vez mais desafiante em casa. Qualquer psicólogo treinado olhará para a dinâmica familiar, para a comunicação entre o pai e a mãe e para a forma como lidam com os filhos. Não com o objetivo de os julgar ou de recriminar, mas com a intenção de perceber se há círculos viciosos que estejam a escapar ao seu olhar e com a genuína vontade de ajudar a criar condições para que as emoções de cada um sejam geridas de forma mais equilibrada.

Os comportamentos são a face visível das nossas emoções e, de uma maneira geral, os “maus comportamentos” das crianças não são mais do que a sua forma de lidar com emoções difíceis. Se as crianças estiverem habituadas a ser tratadas com gritos, ameaças e castigos, é natural que sintam mais dificuldade em lidar com a sua própria tristeza, frustração e impaciência. É natural que reajam a estas emoções com impulsividade, com comportamentos que nos desafiem e que nos levem a gritar cada vez mais.

DICAS PARA DEIXAR DE GRITAR COM OS SEUS FILHOS


#1: OLHAR PARA TRÁS


Há pessoas que cresceram em ambientes familiares caóticos, marcados por berros e que cedo se habituaram a fazer-se ouvir desta forma. Mais do que uma aprendizagem, os gritos passaram a ser um mecanismo de sobrevivência. Habituaram-se a ter de gritar para se sentirem ouvidas e/ou para imporem a sua vontade sem terem grandes oportunidades de parar para refletir sobre as alternativas. E ainda que, quando comecem a construir a sua própria família, tenham boas intenções, não são capazes de se dar conta de que podem estar a reproduzir os modelos em que foram educadas.

Parar para fazer essa reflexão e identificar os caminhos alternativos pode não ser fácil sem a ajuda externa e é por isso que a psicoterapia é quase sempre um acelerador nesta matéria. Aquilo que importa é que a pessoa seja capaz de identificar aquilo que NÃO quer para as suas relações e, depois, de forma clara e detalhada, definir as suas próprias intenções.

#2: REPARAR NAS PRÓPRIAS NECESSIDADES


É muito mais provável que tenhamos comportamentos impulsivos se deixarmos de prestar atenção às nossas necessidades.



Por exemplo, se uma mãe acordar cedo para preparar o pequeno almoço dos filhos e abdicar de cuidar da sua própria alimentação nesta altura do dia, é muito mais provável que perca a paciência perante as primeiras birras da manhã.

Prestar atenção às nossas necessidades implicar garantir que nos alimentemos e que durmamos aquilo de que precisamos mas também implica que tenhamos a coragem e a honestidade para olhar para os diferentes capítulos da nossa vida e questionar:

«Estou a cuidar de mim?»

«Estou a fazer o que está ao meu alcance para me sentir seguro/a no trabalho, na minha relação conjugal ou noutras áreas da vida?»

«Estou a fazer o que está ao meu alcance para conseguir relaxar, divertir-me e sentir-me vivo/a para além da parentalidade?»


Os filhos vão continuar a desafiar-nos, vão continuar a zangar-se, vão continuar a exigir a nossa disponibilidade física e mental e a testar os limites da nossa paciência. Mas tudo se torna infinitamente mais fácil se cuidarmos das nossas necessidades com afeto e responsabilidade.

#3: REPARAR NAS NECESSIDADES DAS CRIANÇAS


Antes de qualquer outra tentativa para lidar com os desafios da parentalidade, questione-se:

«A criança tem sono?»
«A criança tem fome?»


Uma parte considerável das birras acontecem por estes dois motivos. Depois, há evidentemente outras necessidades por preencher. A necessidade de segurança afetiva, a necessidade de alegria e entusiasmo, a necessidade de exercício e tantas outras.

Nem sempre é fácil manter uma postura de genuína curiosidade em relação às emoções que possam estar por detrás das birras e dos comportamentos desafiantes mas essa é sempre a alternativa emocionalmente mais inteligente. Querer saber, perguntar, mostrar que estamos curiosos e com vontade de ajudar é a melhor forma de garantir à criança que estamos “lá” para ela, mesmo nos momentos mais difíceis. Às vezes é tentador assumir que já sabemos, fazer juízos de valor e assumir uma postura autoritária. Mas isso só desajuda.

Por exemplo, se nos dermos conta de que há a possibilidade de a criança estar a utilizar os comportamentos desafiantes para chamar a atenção para os ciúmes que sente do irmão mais novo, não adianta ignorar as birras ou ralhar. Isso só vai fazer com que as necessidades de segurança afetiva da criança continuem por preencher. Precisamos, isso sim, de tentar perceber de que formas podemos garantir que a criança continue a sentir-se segura do nosso amor incondicional, apesar da presença de outra criança. Ouvi-la, prestar atenção às suas sugestões até pode dar-nos boas ideias sobre o que há a fazer.

#4: DAR ESPAÇO PARA QUE AS CRIANÇAS SE ENTENDAM 


Como referi antes, os irmãos zangam-se várias vezes ao dia. Isso pode ser irritante para os adultos e pode levá-los a querer intervir a cada briga. A verdade é que há dias em que a única coisa que desejamos é que haja alguma paz à nossa volta. É normal. Mas é preciso que estejamos disponíveis para investigar alternativas ao par de berros. E às vezes aquilo que é preciso é aceitar a nossa própria realidade, aceitar que haja zangas e dar espaço para que as crianças se entendam. Noutras alturas, naquelas em que sentimos que estamos prestes a rebentar, é importante que nos questionemos: 

«O que é que eu posso fazer agora?»


Não vale a pena perder tempo ou energia com aquilo que NÃO podemos fazer. Se o marido não puder ajudar nesse instante, não vale a pena pensar em quão bom seria se ele ali estivesse. Mas talvez lhe ocorra a possibilidade de ligar a um amigo para desanuviar. Ou a possibilidade de largar o que estiver a fazer e sair com as crianças para que todos se divirtam com uma atividade fora de casa.

As crianças vão continuar a desafiar-nos e, independentemente de todos os nossos esforços, hão de sempre existir dias em que “a tampa salta” e nos “passamos da cabeça”. Não vale a pena martirizarmo-nos. Talvez possamos, isso sim, aproveitar a nossa própria imperfeição e as nossas falhas para pedir desculpa aos nosso filhos e ensiná-los a aceitar as suas imperfeições.

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