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5.9.18

FALAR SOBRE SEXO NA RELAÇÃO


Há quem acredite que quanto mais se fala sobre sexo, menos se faz. E há quem tenha medo de falar abertamente sobre os próprios gostos ou preferências com medo de que o companheiro leve a mal e/ou pense que está a fazer tudo errado. Nada poderia estar mais longe da verdade. Quanto mais abertamente o casal conseguir falar sobre a sua sexualidade, maior é a probabilidade de ambos se sentirem satisfeitos.


Uma percentagem considerável dos casais com quem tenho trabalhado assumem que têm dificuldade em falar sobre sexo. Apesar de se tratar da relação mais íntima – quer do ponto de vista físico, quer emocional – a comunicação conjugal nem sempre flui com transparência e naturalidade quando o assunto é a intimidade sexual.

Por pudor, com medo de ferir a suscetibilidade do companheiro ou pura e simplesmente por falta de hábito, muitas pessoas limitam-se a aceitar o que o outro tem para oferecer.


Claro que muitas vezes o resultado é o empobrecimento da conexão. Afinal, se o sexo é uma das formas de nos ligarmos à pessoa que amamos, é legítimo que sintamos a necessidade de nos revelarmos (para que o outro possa vir ao encontro do que desejamos) e que queiramos conhecer a pessoa que está ao nosso lado (e fazê-la feliz também).

NÃO É FÁCIL FALAR SOBRE SEXO


«Cresci com a ideia de que o sexo era uma coisa suja e feia. Falar sobre isso era o mesmo que ser rotulada de ordinária, pelo que em casa dos meus pais era impensável haver qualquer transparência em relação ao tema. Mas acho que os efeitos que essa educação teve sobre mim foram muito além da comunicação. Quando comecei a namorar, parti para a relação com a ideia de que o meu papel era agradar aquele que viria a ser o meu marido. Nunca me preocupei com o meu prazer dentro da relação. Claro que explorei o meu corpo e conheci o prazer físico – mas sempre sozinha, como se estivesse a fazer alguma coisa que não deveria ser feita. Só depois da infidelidade do meu marido e da crise que se instalou no meu casamento é que começámos a falar sobre estes assuntos. A traição foi o maior terramoto da minha vida e trouxe-me muito sofrimento mas foi a oportunidade para que eu começasse a olhar para a minha sexualidade de forma mais saudável.»

Maria, 55 anos

«Já tentei tudo mas a minha mulher pura e simplesmente não é capaz de me dizer do que é que gosta ou o que é que deseja que eu faça. Falar sobre as fantasias de cada um é impensável. Parece que estou a falar com uma freira. Há muito tempo que me queixo, há muito tempo que procuro expor as minhas necessidades e o resultado é sempre o mesmo: sinto-me rejeitado e julgado. É como se eu fosse um “tarado” que está a falar-lhe de aberrações que, na verdade, são coisas banais de que deveríamos, pelo menos, ser capazes de falar. Sei que teve uma educação muito conservadora – eu conheço o meu sogro e também me lembro de todas as restrições que ele impunha enquanto namorávamos – mas não consigo acomodar-me a esta repressão»

Mário, 38 anos

Embora os casos que aqui identifiquei se refiram a dificuldades vividas por mulheres, a comunicação à volta do sexo pode ser constrangedora tanto para homens como para mulheres. É verdade que (ainda) há diferenças na forma como homens e mulheres são educados e que, pelo meu gabinete, passam mais mulheres com marcas de uma educação demasiado conservadora. Mas também é usual trabalhar com casais em que é a mulher que mostra vontade de falar abertamente sobre estas matérias e é o homem que mostra resistência. Além disso, estas dificuldades são extensíveis aos casais homossexuais – masculinos e femininos.

A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO


Quando reconhecemos a importância de nos revelarmos e assumirmos uma postura de curiosidade em relação à pessoa de quem gostamos e fazemos a escolha de falar abertamente sobre a nossa sexualidade, é importante que o façamos de forma consciente. Isso implica prestar atenção a alguns detalhes: 

ESCOLHER O MOMENTO. Não basta falar sobre sexo durante o ato sexual e muito menos será positivo fazê-lo apenas em tom crítico. É importante que estas conversas aconteçam também (ou será sobretudo?) antes e depois.

Gaste algum tempo a arrumar os seus pensamentos e a tentar explorar, pela positiva, os seus gostos, as suas preferências, as suas fantasias e as suas expectativas.


HONESTIDADE NÃO É BRUTALIDADE. Como em quase tudo na vida, ser frontal não é necessariamente uma qualidade. É claro que é importante dar-se a conhecer – tanto quanto é importante que assuma uma postura de genuína curiosidade em relação às preferências do seu parceiro – MAS isso não significa que deva criticá-lo de forma gratuita. Lembre-se de que esta é uma oportunidade para se conhecerem (ainda) melhor e para se ligarem. Se se sentirem criticados, é mais provável que se retraiam. 

ATENÇÃO À COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL. É importante ter cuidado com as palavras e tentar ser claro(a) e honesto(a) em relação aos seus sentimentos, necessidades e expectativas MAS é ainda mais importante que preste atenção à FORMA como comunica. Assuma a intenção de transmitir a sua mensagem de forma calorosa, divertida, carinhosa. Traga para estas conversas os gestos e as carícias que sabe que ajudam o seu parceiro a acalmar-se e a sentir-se acarinhado. Toque-o(a) sempre que o(a) vir em tensão e procure que o seu rosto traduza a vontade de se conectarem e não a vontade de criticar.

Sempre que exploramos novos caminhos, é legítimo que nos sintamos entusiasmados e inseguros. A vontade de melhorar uma área da vida que pode levar-nos a sentirmo-nos ainda mais felizes pode fazer com que cometamos alguns erros. É normal. O importante é que não desistamos e, se for necessário, saibamos pedir ajuda, sem dramas.

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