Imediatamente depois de uma discussão acesa, o mais comum é que nos sintamos feridos e que desejemos que seja a outra pessoa a dar o primeiro passo para a reconciliação. Mas à medida que o tempo passa e isso não acontece, sentimo-nos divididos entre a vontade de fazer as pazes e o medo de que a pessoa que amamos aproveite esta aproximação para dizer «Eu tinha razão». Como é que se faz as pazes depois de uma discussão?
Quando nos apaixonamos, esperamos que o amor que sentimos seja suficientemente forte para nos ajudar a lidar com as diferenças que, inevitavelmente, surgirão. (Quase) ninguém gosta de discutir mas a maior parte de nós reconhece que é impossível manter uma relação autêntica e conhecer realmente a pessoa que está ao nosso lado sem qualquer discussão. As discussões ajudam-nos a revelarmo-nos tal como somos, ajudam-nos a conhecer os sentimentos e as necessidades da pessoa que está ao nosso lado. Ajudam-nos a construir relações íntimas e verdadeiras. Mas é sempre difícil discutir com a pessoa de quem gostamos. Faz-nos mal, sentimo-nos tristes e fragilizados e desejamos que fique tudo bem rapidamente.
Por norma, no início é fácil: estamos tão apaixonados que nos apressamos a tentar resolver as coisas assumindo a nossa responsabilidade, mostrando o nosso afeto e tentando que a nossa aproximação facilite o regresso à normalidade. Mas à medida que o tempo passa e deixamos de estar tão vigilantes também é natural que façamos mais braços-de-ferro (ainda que nem sempre de forma consciente) e que coloquemos mais vezes o orgulho à frente de qualquer tentativa de reaproximação.
FAZER AS PAZES:
QUEM DEVE DAR O PRIMEIRO PASSO?
Quanto melhor conhecemos uma pessoa, maior é a probabilidade de lhe explorarmos as manhas, os defeitos, as limitações e tudo quanto nos irrita. À medida que o tempo passa, até podemos reconhecer, de cabeça fria, que não há pessoas perfeitas e que a pessoa que está ao nosso lado tem o direito a alguns defeitos com os quais teremos de ser capazes de conviver. Mas a vida a dois também é feita de expectativas e de desejos e se há coisa que a maior parte de nós deseja é que a pessoa que está ao nosso lado consiga mostrar de forma clara que se importa com os nossos sentimentos.
Nem sempre nos lembramos de que, numa discussão, ambos erram, ambos dizem coisas que magoam. É natural que nos foquemos sobretudo naquilo que ouvimos e nos magoou e não propriamente nos erros que cometemos, nas coisas que dissemos ou nos equívocos de comunicação que surgem quando os ânimos estão exaltados. Sentimo-nos feridos e, pelo menos durante instantes, só queremos um pedido de desculpas e dizemos a nós próprios que vamos ficar zangados até que isso aconteça. Achamos que temos razão e que não há outra volta a dar ao problema.
Claro que, independentemente de quem começou a discussão ou de quem atirou mais farpas, há outras questões que vão sobressaindo. Porque quando ainda há amor não chega dizer a nós mesmos que temos razão. Porque, mesmo que nos sintamos magoados com as coisas que ouvimos, sentimo-nos sobretudo tristes e sentimos a falta da pessoa de quem gostamos. Precisamos que fique tudo bem.
Desejamos que fique tudo bem.
Na maior parte das relações felizes ter razão é pouco importante na altura de fazer as pazes. A urgência de retomar a normalidade e voltar a trocar gestos de afeto sobrepõe-se a tudo o resto. Isto não significa que seja fácil fazer uma reaproximação e muito menos significa que, ao fazer as pazes, o assunto que deu azo à discussão fique automaticamente resolvido.
O que acontece é que para algumas pessoas
há algo que está muito claro:
É preferível cuidar da relação
do que provar que se tem razão.
FAZER AS PAZES O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL
Quanto mais tempo permanecemos zangados com a pessoa de quem gostamos, mais tempo ficamos entregues aos nossos pensamentos negativos, à nossa neura, à nossa ruminação. E o mesmo acontece com o nosso companheiro. Isso vai deixando marcas e vai fazendo com que seja cada vez mais difícil recuperar das discussões. Pelo contrário, quando permitimos que o nosso afeto e a vontade de fazer as pazes nos conduzam a uma tentativa de fazer as pazes ou à capacidade de aceitar qualquer tentativa de aproximação que o nosso companheiro faça, é infinitamente mais provável que os assuntos em que discordemos sejam geridos com inteligência emocional.
COMO FAZER AS PAZES DEPOIS DE UMA DISCUSSÃO:
PASSO A PASSO
#1: Sempre que possível, dê o primeiro passo. Assuma alguma responsabilidade pela escalada de agressividade (sem frases do tipo «Eu só disse isto porque tu disseste aquilo»).
#2: Mostre o seu afeto de forma clara. Um abraço ou um beijo têm poderes curativos. Podemos sentir-nos magoados mas é muito mais provável que abdiquemos de qualquer braço-de-ferro se nos sentirmos amados.
#3: Mostre de forma clara e autêntica que se preocupa com os sentimentos do seu companheiro. Coloque-se na posição dele(a). Procure olhar para a realidade de outro ponto de vista.
#4: Mostre interesse genuíno. Quando se sentir mais calmo(a), faça perguntas que o(a) ajudem a perceber os sentimentos e as necessidades do seu companheiro.
#5: Não tenha pressa em resolver o problema em questão. É importante que reconheçamos que muitos dos problemas conjugais não vão ser resolvidos. Vão ser geridos. E é mais provável que nos sintamos tranquilos com isso se a gestão tiver em conta a vontade de conhecer e respeitar os sentimentos de ambos.
#6: Aceite SEMPRE um pedido de desculpas genuíno. Evite expor a pessoa de quem gosta a (mais) sentimentos de rejeição. É difícil dar o primeiro passo. Ajude-o(a), acolhendo-o(a) e mostrando o seu afeto.