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4.9.18

MANTER A CHAMA ACESA NUMA RELAÇÃO


No meu trabalho com casais há duas perguntas comuns: «Como manter a chama acesa na relação?» e «Como ultrapassar a falta de desejo?». O sexo já não é só uma das componentes do amor romântico e muito menos uma “obrigação conjugal”. Precisamos do desejo sexual para nos sentirmos felizes e ligados à pessoa que está ao nosso lado e procuramos fazer as escolhas que permitam que ele faça parte do nosso dia-a-dia.


Até há bem pouco tempo era comum que muitos casais permanecessem juntos ainda que já não se sentissem apaixonados. Para muitos, manter a relação era a forma de manter a família unida e corresponder aos padrões sociais e a paixão era muitas vezes vivida fora da relação. Ter um(a) amante era para muitas pessoas a única possibilidade de continuarem a sentir-se desejadas, escolhidas, especiais – a única forma de se sentirem mesmo VIVAS.

A infidelidade não desapareceu das nossas vidas MAS há cada vez mais pessoas capazes de colocar um ponto final à sua relação para poderem viver uma paixão com um novo companheiro.




AMOR E DESEJO


No meu trabalho com casais ouço muitas vezes queixas como:

«Eu amo o meu marido mas não me sinto apaixonada por ele»

«Eu sei que ela gosta de mim mas há muito tempo que não me sinto desejado»

«Ele não fala comigo e depois quer que tenhamos sexo»

«Eu estou sempre pronto mas não me lembro da última vez que a minha mulher tomou a iniciativa»

«Nunca tive um orgasmo com o meu marido. Só sozinha»

«Nós não falamos sobre sexo»

«Depois de me sentir rejeitado vezes sem conta, deixei de voltar a tentar»


A história de cada casal é única e especial e é evidente que os casais que me pedem ajuda não têm todos os mesmos problemas. Há casais que estão demasiado distantes do ponto de vista emocional e para quem o afastamento físico e sexual é “só” mais uma consequência dessas dificuldades. Mas também há muitos casais que são verdadeiramente companheiros, que conversam diariamente sobre os seus sentimentos, sobre as suas vivências e para quem o desejo sexual vai esmorecendo. Amam mas não se sentem apaixonados. Sentem-se próximos mas não sentem vontade de namorar. É quase como se estivessem “demasiado próximos”.

A certeza de que amamos a pessoa que está ao nosso lado mas não a desejamos pode ser desesperante – tanto quanto a sensação de não nos sentirmos desejados.

Ainda que a maior parte das pessoas opte por manter a relação mesmo quando já não se sentem apaixonadas, mais cedo ou mais tarde a diminuição do desejo transforma-se num problema. Para muitos casais que chegam até mim, o problema tem um nome: infidelidade. Há muitas pessoas que são apanhadas de surpresa pelo terramoto da traição. Não me refiro só à pessoa que é traída. Refiro-me à pessoa que trai e que, muitas vezes, faz uma escolha que jurou que nunca faria. Isto é o que acontece quando deixamos de prestar atenção aos nossos sentimentos, às nossas necessidades afetivas e vamos “empurrando a vida com a barriga” à espera que as coisas se resolvam ou quando nos convencemos de que é normal que a paixão desapareça.

É evidente que numa relação duradoura não há a inquietação dos primeiros tempos de namoro. À medida que o tempo passa e nos vamos ligando de forma segura à pessoa por quem nos apaixonámos, o coração deixa de bater de forma tão acelerada, o cérebro deixa de funcionar como se estivesse sob uma certa forma de demência e conseguimos pensar noutras coisas para além da pessoa de quem gostamos. Mas isso não significa que as relações tenham de passar a ser mornas, que a paixão desapareça completamente ou que seja normal e saudável amar sem desejar. 

ALIMENTAR O DESEJO


Quando combinamos jantar no nosso restaurante preferido, começamos imediatamente a sonhar com o prato que adoramos e que queremos voltar a degustar. Dias antes de lá voltarmos, somos perfeitamente capazes de visualizar a experiência, somos capazes de sentir alegria, entusiasmo e prazer em relação a uma coisa que ainda não aconteceu. Até somos capazes de começar a salivar. O mesmo acontece quando planeamos uma viagem que desejamos muito que aconteça. E o mesmo acontece em relação a um beijo que ainda não demos. Quem é que nunca sentiu prazer só por sentir que o desejo por outra pessoa está prestes a materializar-se?



O desejo é uma energia potentíssima. Faz com que nos sintamos vivos, entusiasmados, felizes e otimistas. Quando desaparece, nem sempre reparamos no impacto que isso tem no nosso bem-estar, na qualidade da nossa relação, na vontade de estar com o nosso companheiro.

Preocupamo-nos em assegurar que a pessoa que está ao nosso lado saiba que nos importamos com ela mas nem sempre fazemos o que podemos para mostrar que a desejamos. Nem sempre continuamos motivados para a seduzir. E nem sempre reparamos na importância de continuarmos a ser seduzidos.

Manter a chama de uma relação acesa também passa por aí: por manter a sedução. Como é que isso se faz? Sobretudo com criatividade, com novidade mas também com genuína curiosidade pelo que faz com que o outro se sinta desejado ou excitado. Não me canso de dizer que a inteligência emocional numa relação também passa pelo respeito pela novidade. O que quero dizer é que é infinitamente mais provável que continuemos a desejar a pessoa que já temos se ela continuar a trazer-nos coisas novas. Isso nem sempre passa por novas posições sexuais ou escolhas demasiado excêntricas. Passa, isso sim, por uma postura de incentivo mútuo à vivência de experiências positivas a dois e individualmente e pelo contínuo investimento na individualidade de cada um.

Quando uma pessoa investe em si mesma e cultiva relações profissionais e de amizade para além da relação conjugal, quando se mostra disponível para olhar para si e para o outro com contínua curiosidade, é mais provável que dê conta de que há sempre coisas novas para descobrir e que esse mistério pode ser entusiasmante. 

Não há receitas que funcionem para todos os casais. Algumas pessoas precisam de fazer quase tudo a dois, precisam de sentir muita segurança para continuarem a sentir vontade de tocar e de fazer amor. Outras precisam de um certo afastamento que as faça continuar a sentir um friozinho na barriga.

Quando procuramos olhar para nós com curiosidade, sem juízos de valor, e quando assumimos aquilo que sentimos e aquilo de que precisamos com abertura e coragem, é mais provável que construamos a relação que nos faça sentir seguros, entusiasmados e com vontade de continuar.
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