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27.11.18

DISCUSSÕES DE CASAL

Discussões de casal


Quais são as respostas da terapia de casal para as discussões sobre o uso da tecnologia, a gestão do dinheiro, o stress do trabalho e a distribuição das tarefas domésticas? Estes são alguns dos tópicos mais frequentes nas discussões conjugais e hoje preparei um texto e um vídeo com respostas para cada um.


DISCUSSÕES DE CASAL #1: TECNOLOGIA


Passamos cada vez mais tempo “agarrados" aos telemóveis, tablets e computadores e, mesmo quando há queixas da parte da pessoa que amamos, tendemos a desvalorizar o assunto, como se fosse impossível fazer escolhas diferentes. A verdade é que quase ninguém contabiliza o tempo que passa online mas quase todas as pessoas já experimentaram a sensação de frustração e desamparo por estarem a falar sobre alguma coisa importante enquanto o companheiro mantém os olhos no ecrã.


Uma investigação recente mostrava que os casais norte-americanos passavam, em média, 35 minutos por semana a conversar olhos nos olhos.


RESPOSTA:



Não há volta a dar: se há queixas, é fundamental PARAR PARA CONVERSAR sobre a forma como cada um se sente em relação a este assunto e, a dois, definir compromissos que permitam ir ao encontro das necessidades de ambos. Isso pode passar por desligar a Internet à hora das refeições, manter os telemóveis desligados a partir de determinada hora ou pura e simplesmente não responder às mensagens durante alguns rituais familiares. O importante é que ambos se sintam escutados, compreendidos e valorizados.

DISCUSSÕES DE CASAL #2: STRESS DO TRABALHO


É cada vez mais difícil deixar o trabalho à porta de casa. Para muitas famílias, uma parte do trabalho é feito em casa, o que acrescenta stress e retira disponibilidade para os afetos. E, mesmo quando os afazeres profissionais são terminados no escritório, é difícil “des-stressar” e conectar com o que verdadeiramente importa. É difícil desligar das preocupações, dos prazos por cumprir, das mil e uma responsabilidades. E, como se não bastasse, a maior parte dos pais e mães ainda têm um “segundo emprego” ao chegar a casa: o conjunto de afazeres domésticos e os cuidados com as crianças.

RESPOSTA:

Há escolhas que cada um de nós pode fazer e a que podemos chamar de rituais de relaxamento e conexão. Refiro-me aos comportamentos que nos ajudem a descomprimir e a ligarmo-nos à pessoa que amamos. Por exemplo, para algumas pessoas, é essencial haver alguns minutos de mimos, de gestos de afeto que ajudem a desligar do stress do trabalho.

Meia dúzia de minutos de “ronha” não farão mossa nas rotinas domésticas e podem ter um efeito terapêutico potente. Para outras pessoas, um banho quente é o primeiro passo para ajudar a relaxar. Aquilo que importa é que cada um possa identificar aquilo que o/a ajudará a descontrair.




Por outro lado, há um ritual que está presente na esmagadora maioria dos casais felizes e que se resume à existência de conversas diárias sobre o dia de cada um. Não são conversas profundas sobre o estado da relação. São, isso sim, oportunidades de conexão em que cada um aproveita para prestar atenção ao que o outro tem para contar.

A ligação acontece quando, no final do dia, temos oportunidade de falar sobre aquilo que mexeu connosco – pela positiva ou pela negativa - e nos damos conta de que há alguém que presta atenção, que se importa connosco e que nos dá colo antes de qualquer sugestão ou sermão.


Estes rituais são uma fonte de relaxamento e de conexão.


DISCUSSÕES DE CASAL #3: DINHEIRO


Independentemente do tamanho do orçamento, é fácil haver discussões sobre a forma como o dinheiro deve ser aplicado. Às vezes há um que é mais poupado do que o outro, noutras é sobretudo uma questão de existirem objetivos distintos. E em muitos casos é sobretudo difícil fazer com que o dinheiro chegue para tudo. Pelo meio, pode parecer que os membros do casal estão em lados opostos de uma guerra sem fim.

RESPOSTA:

Antes de mais, é fundamental conhecer os sonhos de cada um. Os nossos sonhos são aquilo que nos entusiasma, aquilo por que lutamos e vibramos.

Quando nos revelamos e, sobretudo, quando a pessoa que está ao nosso lado mostra que valoriza os nossos sonhos, sentimo-nos (ainda) mais vivos.


Pelo contrário, quando partilhamos uma ideia, um projeto ou até um sonho longínquo e ouvimos comentários como «Não há dinheiro para isso» ou «Nem penses», sentimo-nos rejeitados. É por isso que é fundamental manter uma atitude de curiosidade genuína em relação à pessoa que está ao nosso lado e a disponibilidade para fazer e refazer planos para que os sonhos de ambos sejam valorizados.



Por outro lado, na gestão do orçamento de cada família é fundamental que cada um dos membros do casal possa identificar as áreas que, para si, são negociáveis e aquelas que não são. Só assim se poderá chegar a alguns compromissos. Quando reconhecemos aquilo de que precisamos para nos sentirmos seguros, aquilo que é mesmo essencial para nós, estamos a estabelecer prioridades que nos ajudarão a chegar a acordos.

Claro que se houver dificuldades sérias, isto é, se o valor dos rendimentos não estiver a cobrir o valor das despesas, é essencial parar para fazer uma lista detalhada dos gastos e, a dois, fazer escolhas que permitam que ambos se sintam compreendidos e seguros.

DISCUSSÕES DE CASAL #4: TAREFAS DOMÉSTICAS


Este é um assunto que tende a ser desvalorizado, mas a minha experiência (e diversos estudos nesta área) mostram que é usual que um dos membros do casal se sinta sobrecarregado(a), desvalorizado(a) e injustiçado. Na maior parte dos casos, é a mulher que acumula mais tarefas e mais tensão emocional.

É verdade que a maior parte dos homens que conheço não gostam da ideia de a mulher chegar a casa e ter um segundo emprego, MAS da teoria à prática vai mesmo uma grande distância.

Um estudo da socióloga Ann Oakley mostrou que muitos homens tendem a sobrestimar as suas tarefas domésticas, isto é, tendem a achar que fazem mais do que realmente fazem.


Estes resultados ilustram o desequilíbrio de muitas famílias e é fácil que, a partir daqui, haja mais problemas de comunicação e dificuldade em criar conexão.

RESPOSTA:

É fundamental parar para listar, a dois e de forma detalhada, todas as tarefas domésticas. Isso implica identificar tudo o que há para limpar e arrumar, os cuidados que é preciso ter com as crianças e com outros familiares a cargo, os cuidados com os animais, a confeção das refeições, a realização de tarefas relacionadas com a organização das finanças da família, etc. Depois é naturalmente imprescindível que haja diálogo e vontade de negociar para que haja uma distribuição justa dos afazeres. Se isso acontecer, é mais provável que ambos se sintam mais tranquilos, mais reconhecidos e mais ligados.

Terapia Familiar e de Casal em Lisboa