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16.11.18

DIVÓRCIO: COMO CONTAR ÀS CRIANÇAS

Divórcio - como contar às crianças

A partir de que idade é possível explicar a uma criança que os pais se vão separar? Em que circunstâncias se deve ter essa conversa? Que erros devemos evitar? O Gymboree Portugal desafiou-me a responder a algumas questões sobre uma conversa que ninguém deseja ter.

A partir de que idade é possível explicar a uma criança que os pais se vão separar?

A partir do momento em que a criança adquira a capacidade de compreender a linguagem verbal – normalmente a partir dos 2 anos – pode e deve haver uma explicação ajustada à sua idade. Como é fácil de entender, aquilo que se pode dizer a uma criança de 3 ou 4 anos é bem diferente daquilo que se pode dizer a um pré-adolescente. As crianças pequenas ainda não possuem o pensamento abstrato e, nessa medida, não é ajustado falar sobre sentimentos. Aquilo que importa é explicar que o pai e a mãe já não vão viver na mesma casa e mostrar de forma clara e inequívoca que essa decisão não tem nada a ver com os comportamentos da criança. De resto, essa é uma mensagem que importa repetir em várias fases do processo – antes da separação, imediatamente depois da concretização da separação e na fase de adaptação.

Como ter essa conversa e em que circunstâncias?

Idealmente, esta conversa deveria decorrer na presença dos dois progenitores. Quando o pai e a mãe são capazes de colocar os interesses das crianças acima de qualquer outra coisa, é muito mais provável que a criança consiga lidar com a separação com resiliência. Infelizmente, quando há pelo menos um dos progenitores que se sente extremamente magoado e que exterioriza a sua mágoa através do conflito, sem conseguir colocar os interesses dos filhos no topo das prioridades, é mais provável que o conflito interparental condicione o bem-estar das crianças, dificultando o processo de adaptação.

Nesta conversa não é importante que os pais estejam de acordo em tudo, nem sequer é importante que camuflem a sua tristeza.


Pelo contrário, aquilo que importa é que sejam capazes de mostrar aos filhos que, apesar de poderem não ter, para já, resposta para todas as dúvidas, estão comprometidos em dialogar e negociar em nome do bem-estar das crianças. A ideia é passar a mensagem de que, mais cedo ou mais tarde, tudo se vai resolver e de que os adultos, embora tristes ou feridos, continuam a ser capazes de cuidar de si e dos seus filhos. Às vezes isso pode implicar ter de recorrer à ajuda externa, seja de um psicólogo ou de um advogado. O que importa é que cada um faça o que estiver ao seu alcance para resolver de forma equilibrada, serena e responsável o que houver para resolver.

Por outro lado, quando os adultos têm oportunidade de exteriorizar os seus sentimentos – sem acusações mútuas -, é mais provável que as crianças aprendam a fazer o mesmo. Infelizmente, algumas crianças esforçam-se por não mostrar a sua tristeza numa tentativa de protegerem os pais. Quando as emoções são exteriorizadas e há alguém que genuinamente se mostra preocupado, é muito mais provável que haja uma resposta resiliente.

É importante que não haja a expectativa de conseguir responder a todas as perguntas das crianças. Às vezes é preferível dizer, com honestidade, «Ainda não sabemos, mas vamos conversar para tomar uma decisão». Além disso, é importante dar tempo para que as próprias crianças processem os acontecimentos e voltar a mostrar, de forma clara, a vontade de conhecer os seus sentimentos e as suas inquietações.

Quais são os erros mais comuns que os casais que se separam cometem no que toca às crianças?

Um dos erros mais comuns consiste em considerar que não há necessidade de explicar às crianças que o divórcio não está a acontecer por culpa delas. Pode parecer desnecessário, mas há diversos estudos que mostram exatamente o contrário. As crianças podem não dizer nada e, ainda assim, alimentar ideias fantasiosas chamando a si a responsabilidade dos acontecimentos.




É essencial assegurar que esta é uma decisão dos adultos e que não só não há culpados como as crianças não têm qualquer responsabilidade.


Outro erro tem a ver com a desvalorização da importância do contacto com o outro progenitor. Nenhum pai ou mãe quer fazer mal aos seus filhos e muitas pessoas acreditam de facto que os filhos estarão melhor consigo do que com o ex-companheiro. Mas, de uma maneira geral, quando há uma ligação saudável com os dois progenitores, mesmo que haja maior proximidade com um do que com o outro, é essencial que esse contacto regular se mantenha. Não se trata de olhar para os direitos de cada um dos progenitores. Trata-se de prestar atenção aos direitos e às necessidades afetivas das crianças.

Um divórcio é uma perda muito significativa para todos. Se a tudo o que a criança perde com o divórcio ainda acrescentarmos a possibilidade de perder um vínculo seguro com um dos progenitores, estamos a falar de danos maiores.

Um outro erro comum tem a ver com a manipulação das crianças. Às vezes os adultos sentem-se tão perdidos, tão desnorteados com a rutura, que ficam demasiado centrados nas suas próprias emoções e acabam por utilizar as crianças para atingir o ex-companheiro. Quando isto acontece, as crianças sentem-se profundamente tristes, há conflitos de lealdade e sensação de desamparo. Mais do que nunca, as crianças precisam de sentir que os adultos de quem dependem emocionalmente vão continuar a estar lá para elas – para as ouvir, para as respeitar e para as proteger.

Nem todas as separações correm bem. O que fazer se o ex-casal está desavindo de forma a proteger as crianças?

É compreensível que uma separação seja geradora de muitas emoções negativas. Esta é normalmente a relação mais significativa da nossa vida, aquela em que damos o nosso melhor e a sensação de abandono e de fracasso é avassaladora. A tristeza, o medo e a raiva são normais e, até certo ponto, adaptativos. Mas quando sentimos que as emoções estão a tomar conta de nós – em vez de sermos nós a gerir as emoções com responsabilidade – é importante pedir ajuda.

A mediação familiar e a psicoterapia são ferramentas que estão ao nosso dispor e que podem revelar-se extremamente úteis quando os adultos não estão a conseguir garantir que o bem-estar e os interesses das crianças constituam as suas prioridades.

É indicado a criança ser acompanhada por um psicólogo? Quais são os sinais de alarme?

Há vários estudos que mostram que as crianças respondem melhor à turbulência de uma separação se houver pelo menos um adulto com quem possam desabafar, exteriorizar as emoções. Aquilo que acontece é que, às vezes, há vários adultos interessados em cumprir esta função mas nenhum tem o distanciamento que permita que a criança se sinta livre. Um psicólogo tem sempre essa distância porque não está emocionalmente envolvido na situação e é sempre uma mais-valia.

Mas há situações muito sérias em que essa ajuda não só é útil como é essencial. Na prática, sempre que a criança esteja a ser exposta a níveis elevados de conflito entre os progenitores, é importante que haja essa resposta terapêutica, independentemente dos sinais que a criança esteja a dar. Há marcas que só são visíveis muito tempo depois dos acontecimentos.

E depois há sinais claros no comportamento da criança que podem ser indicadores da dificuldade em lidar com a instabilidade familiar – comportamentos desafiantes, birras intensas e recorrentes, comportamentos desafiantes, alterações no comportamento alimentar e no sono, medo excessivo, conflitos com o grupo de pares ou queixas somáticas (por exemplo, dores de barriga).

E quando entra uma pessoa nova na vida do pai ou da mãe? Como é que isso deve ser gerido?


Na medida do que for possível, é desejável que se respeite o luto da criança e não se apresente uma pessoa nova pouco tempo depois da separação. Por outro lado, é muito importante que a criança não se sinta atraiçoada. As crianças não gostam de mentiras. Se houver a mínima possibilidade de os filhos desconfiarem de uma ligação romântica, é preferível que os pais assumam a relação com transparência.

É importante que os primeiros contactos sejam breves e que a criança não se sinta obrigada a passar muito tempo com o novo adulto que, na sua ótica, vem desfazer qualquer possibilidade de reconciliação parental.

Por outro lado, é fundamental que haja esforços para que as rotinas a que a criança está habituada, e que contribuem para a sua estabilidade, não sejam alteradas de forma significativa em função da nova relação. As crianças precisam de consistência. Às vezes há a tentativa de implementar muitas mudanças com a melhor das intenções mas é preferível ir devagar.

Se puder dar um conselho a um casal que esteja nesta situação, qual seria?

O meu conselho é o de os pais e mães prestarem muita atenção às suas próprias emoções, às suas próprias necessidades afetivas, e às emoções e às necessidades afetivas das crianças. Quando nos esquecemos de nós, quando desvalorizamos as nossas dores, é mais provável que nos convençamos de que estamos a fazer as escolhas em nome das necessidades das crianças e que falhemos redondamente. É mais provável que os pais e mães consigam dar o seu melhor aos seus filhos e assumam escolhas genuinamente altruístas e responsáveis se prestarem atenção aos seus sentimentos e tentarem cuidar deles – com o amparo da família, dos amigos e eventualmente da ajuda terapêutica. Aceitar a própria dor não equivale a qualquer forma de resignação. Equivale a ser capaz de olhar para ela e escolher o que pode ser feito.

Por outro lado, gostaria de sugerir que as crianças sejam ouvidas. Elas têm uma voz e gostam de se sentir ouvidas. Convidá-las a expressar os seus sentimentos, as suas opiniões e as suas sugestões pode revelar-se surpreendentemente empoderador para os adultos.
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