As discussões magoam, frustram-nos e, às vezes, fazem com que nos sintamos sem esperança. Quanto mais nos esforçamos por partilhar os nossos sentimentos e verificamos que a pessoa que está ao nosso lado não só parece não nos compreender como ainda diz coisas que nos ferem, mais desamparados nos sentimos. Às vezes, temos a clara sensação de que o maior problema é a comunicação mas nem sempre é fácil perceber o que há a fazer.
Quando duas pessoas que se amam discutem, estão a revelar os seus sentimentos e as suas necessidades da melhor forma que conhecem. Estão a esforçar-se para que as coisas resultem. E é absolutamente frustrante quando a única coisa que resulta das discussões é (ainda) mais mágoa. Na prática, entre aquilo que uma pessoa tenta manifestar e aquilo que a outra ouve vai, quase sempre, uma grande distância, pelo que importa prestar mesmo muita atenção ao nosso comportamento, àquilo que cada um de nós pode fazer para se sentir compreendido e escutado sem equívocos.
O IMPACTO DA CRÍTICA NA COMUNICAÇÃO DO CASAL
Eu poderia falar de crítica construtiva e crítica destrutiva, mas… quase todas as pessoas que conheço tentam, genuinamente, fazer críticas construtivas e, ainda assim, sentem-se muitas vezes “engolidas” por círculos viciosos em que nenhuma tentativa parece dar certo.
A verdade é que a crítica é SEMPRE geradora de desconforto e de vontade de nos defendermos.
E, se a crítica não se cingir a um episódio específico, ainda é mais difícil. Não há nada pior do que, a páginas tantas, estarmos a ser confrontados com as “1400” falhas que cometemos nos últimos anos. Aí a perceção que temos é a de que é a nossa personalidade que está a ser atacada e é o nosso valor que está a ser colocado em causa. Claro que isso nos desgasta, nos entristece e nos desvia de qualquer tentativa de compreender as emoções e as necessidades da pessoa que está ao nosso lado.
Por exemplo, se o seu companheiro chegar regularmente a casa depois da hora de jantar e você disser qualquer coisa como «É sempre a mesma coisa. Já não sei quantas vezes é que te pedi para chegares cedo. Bem se vê o quanto dás importância à família…», o mais provável é que ele(a) se sinta automaticamente atacado e, a partir daí, se defenda – fechando-se sobre si mesmo e ignorando o seu apelo ou respondendo qualquer coisa como «És mesmo injusto(a). Sabes lá como é que foi o meu dia. Quem te oiça até parece que és o cúmulo da perfeição. Ainda ontem preferiste passear no centro comercial em vez de passares tempo em família». A verdade é que é mesmo muito fácil assumirmos uma postura defensiva e contra-atacarmos a pessoa que amamos quando aquilo que ela nos diz nos faz sentir atacados.
TRANSFORMAR A CRÍTICA EM NECESSIDADES
Uma coisa é dizer «Sinto-me sozinho(a). Sinto a tua falta». Outra é dizer «É sempre a mesma coisa…». Quando as queixas se transformam em necessidades “positivas” e quando os sentimentos são partilhados sem crítica, é muito mais provável que os membros do casal se liguem.
Para isso, é preciso olhar para a revolta e perguntar:
Do que é que eu preciso?
Como posso manifestar a minha necessidade
de forma clara e honesta sem desrespeitar,
sem ironizar, sem humilhar o meu companheiro?
Na prática, em vez de permitirmos que a raiva mascare outros sentimentos e as nossas reais necessidades, é importante que nos permitamos reconhecer e mostrar a nossa vulnerabilidade. Não é uma questão de fraqueza. Pelo contrário, é uma questão de termos a coragem para nos vulnerabilizarmos e, assim, darmos a oportunidade à pessoa que gosta de nós de olhar para a nossa realidade exatamente como ela é e responder com afeto.
Se, no meio de uma discussão, o marido sair da sala, deixando a mulher a falar sozinha, é fácil dizer «És um otário. Nem sequer és capaz de ouvir uma crítica até ao fim», permitindo que a raiva tome conta de tudo. Difícil é dizer «Quando tu viras costas, eu sinto-me inferiorizada, como se a nossa relação não fosse suficientemente importante para ti».
Quando mostramos a nossa vulnerabilidade, expomo-nos infinitamente mais, arriscamos mais. E isso não é fácil. Mas a vulnerabilidade é uma espécie de cola para as ligações. Quando reparamos naquilo que o nosso companheiro sente e empatizamos com esses sentimentos, ligamo-nos.