Quase todos os pedidos em terapia de casal se assemelham a este “grito” de ajuda. Mas será que é este o caminho para uma relação mais feliz? Será que tudo passa pela capacidade de mudança de um dos membros do casal?
A maior parte dos casais que me pedem ajuda entraram, sem querer, no círculo vicioso da “caça ao culpado”. Quando a relação não está bem, quando pelo menos um dos membros do casal reconhece que não está feliz, é fácil cair em discussões perigosas nas quais as queixas se transformam em críticas e ataques pessoais que por sua vez têm como resposta uma postura defensiva e/ou de contra-ataque. De repente, já ninguém está capaz de empatizar com os sentimentos do outro e muito menos de assumir qualquer responsabilidade.
Refiro-me muitas vezes à importância de nos queixarmos, de darmos voz àquilo que sentimos e às nossas necessidades e insisto na mais-valia que está associada à escolha de nos vulnerabilizarmos perante a pessoa que amamos. Mas também digo muitas vezes que isso não é fácil. Porque sempre que nos queixamos, a pessoa que está ao nosso lado também se sente vulnerável, insegura. E, quando permitimos que as emoções tomem conta de nós (em vez de sermos nós a tomar conta delas), é fácil criar equívocos e transmitir a ideia de que está tudo errado.
QUANDO A RELAÇÃO NÃO ESTÁ BEM:
CADA UM PODE ASSUMIR RESPONSABILIDADES
Passa mais tempo a imaginar o que é que o seu companheiro vai dizer, como é que ele(a) vai reagir aos seus apelos do que a analisar o seu próprio comportamento? Acredite, esse não é o caminho para uma relação feliz. As suas queixas são válidas e é importante que as verbalize para construir uma relação verdadeiramente íntima MAS é fundamental que evite atribuir todas as culpas dos problemas da relação às características de personalidade da pessoa que ama.
Todas as pessoas têm defeitos, hábitos irritantes. E, quando algumas das nossas necessidades afetivas ficam por preencher, é mesmo muito fácil olhar para as falhas da pessoa que está ao nosso lado com uma espécie de lupa, exacerbando-as, e dificultando o reconhecimento de todas as outras características e hábitos que nos levaram a apaixonar-nos por ela.
No filme Enough Said (Basta de Conversa), esta questão está muito bem ilustrada. A protagonista conhece um homem por quem se apaixona e, pouco tempo depois, conhece a sua ex-mulher. Sem revelar o seu recente relacionamento, começa a ouvir as inúmeras queixas da nova “amiga” a propósito do ex-marido e, sem dar por isso, começa a olhar para o namorado de forma cada vez mais negativa. Aos poucos, o seu comportamento muda: torna-se cada vez mais “implicativa” com hábitos que, até aí, não lhe faziam impressão.
Na vida real isto também acontece:
Mas há mais: quando isto acontece, o nosso próprio comportamento muda e aquilo que passamos a dar à relação também. Diminuem os gestos de afeto, diminuem as palavras carinhosas, diminui a capacidade de fazer com que a pessoa que está ao nosso lado sinta que nos importamos com ela. E é a partir daqui que se instalam os círculos viciosos mais destrutivos para qualquer relação: cada um sente-se cada vez mais desconectado e vai investindo cada vez menos.
QUANDO A RELAÇÃO NÃO ESTÁ BEM:
O QUE É QUE CADA UM PODE FAZER?
Se a sua relação tem dado sinais de alarme, se se sente menos feliz, há boas notícias. A ciência nesta área é muito clara em relação àquilo que podemos fazer para reverter os círculos viciosos e voltarmos a sentir que há conexão física e emocional com a pessoa por quem nos apaixonámos:
#1: INVISTA NOS GESTOS DE AFETO E NAS DEMONSTRAÇÕES DE ADMIRAÇÃO.
Obrigue-se a prestar atenção às qualidades do seu companheiro – mesmo nas alturas em que se sente inundado(a) de raiva pelas suas falhas – e manifeste em voz alta esses sentimentos positivos várias vezes ao dia. A ideia não é bajular a pessoa que está ao seu lado mas sim olhar para a relação de forma real, justa e equilibrada.
#2: DEIXE-SE INFLUENCIAR PELO SEU COMPANHEIRO
Preste MUITA atenção aos comentários do seu companheiro e dê o seu melhor no sentido de encontrar pontos de acordo. Evite tentar provar que você é que tem razão.
#3: ULTRAPASSE OS IMPASSES
É muito, muito fácil mantermo-nos em braços-de-ferro intermináveis quando insistimos em padrões de relacionamento que só nos prejudicam, como é o caso da “caça ao culpado” em que um dos membros do casal insiste em tentar mudar o outro e este resiste, defendendo-se.
#4: VALORIZE O PROJETO A DOIS
Preste atenção aos valores que partilha com o seu companheiro, aos hábitos que construíram a dois e que tornam a sua vida mais feliz. Reflita sobre os sonhos partilhados, sobre o projeto que idealizaram juntos e que muito provavelmente continua a fazer sentido para si.