A “época mais bonita do ano” pode ser muito dura para quem passa, pela primeira vez, o Natal longe dos filhos. Se o Natal é a festa da família, recheada de tradições que apelam à união, como é que se gere os sentimentos a propósito da desagregação da família? E o que é que os adultos podem fazer para continuar a colecionar memórias felizes?
Ninguém deseja uma separação. Mesmo quando os sentimentos mudam e a certeza do ‘para sempre' dá lugar à certeza de que já não dá, não é fácil avançar para o divórcio. Quando há filhos, o processo é infinitamente maia doloroso: nenhum pai ou mãe quer imaginar como é deixar de estar presente numa parte das rotinas dos filhos. Quando se trata do Natal, tudo parece desesperante. “Como é que eu vou conseguir viver o Natal sem os meus filhos?”, “Como é que eu vou conseguir incentivá-los a viver esta época com alegria se o meu coração estiver inundado de saudades?”, “E se os meus filhos me culparem por ter estragado as suas memórias à volta do Natal?”.
AS CRIANÇAS ESTÃO BEM QUANDO OS PAIS ESTÃO BEM
Há uma coisa que não me canso de afirmar no meu trabalho com famílias: as crianças precisam, acima de tudo, da certeza de que o pai e a mãe estão felizes. Não há nada que lhes dê maior segurança emocional. É claro que os pais também se entristecem, também vão abaixo, também têm vulnerabilidades. E é bom que as mostrem. As crianças não são seres de vidro, de quem precisemos esconder todas as dores. Pelo contrário, quando lhes mostramos o nosso sofrimento em doses saudáveis, e, sobretudo, quando lhes explicamos que o sofrimento está associado a um acontecimento específico e que VAI PASSAR, ajudamo-las a gerir as suas próprias emoções , sem perfecionismos nem outros exageros.
É deste ponto que todos os pais e mães podem partir: eles têm o direito de estar tristes por não poderem viver o Natal como sempre o viveram, têm o direito de mostrar essa tristeza e têm o dever de arregaçar as mangas e fazer o que estiver ao seu alcance para se adaptarem a esta nova fase da vida. E as crianças também.
FOQUE-SE NO QUE REALMENTE IMPORTA
Não há volta a dar: se o Natal é a festa da família, a grande responsabilidade dos pais e mães é fazerem o que estiver ao seu alcance para garantir que as necessidades afetivas dos filhos sejam preenchidas.
De que adianta perder tempo com braços-de-ferro, guerras sem fim, se isso contribuir essencialmente para que os filhos se sintam tristes ou inseguros? Imediatamente depois de uma separação as emoções ainda estão à flor da pele e o mais provável é que quase tudo seja um ponto de partida para discussões que nunca mais acabam. Se a isso juntarmos a vulnerabilidade de quem vai passar pela primeira vez pelo menos uma parte do Natal sem os filhos, é fácil adivinhar a tensão.
De que adianta perder tempo com braços-de-ferro, guerras sem fim, se isso contribuir essencialmente para que os filhos se sintam tristes ou inseguros? Imediatamente depois de uma separação as emoções ainda estão à flor da pele e o mais provável é que quase tudo seja um ponto de partida para discussões que nunca mais acabam. Se a isso juntarmos a vulnerabilidade de quem vai passar pela primeira vez pelo menos uma parte do Natal sem os filhos, é fácil adivinhar a tensão.
Mas nenhum atraso, nenhuma alteração de última hora justifica que os adultos se envolvam em conflitos intermináveis capazes de minar a felicidade a que as crianças têm direito (também) nesta época do ano.
MANTENHA AS TRADIÇÕES
Nalguns casos, as crianças passam o Natal com cada um dos lados da família em anos alternados. Noutros, a divisão não é tão drástica e cada progenitor tem direito a um dos dias da quadra (24 ou 25). Tanto numa situação como na outra, os adultos podem focar-se nas tradições que é possível manter. O mais importante é que todos se mantenham empenhados em garantir que os rituais que já faziam parte do imaginário das crianças possam continuar a existir, ainda que com a periodicidade adaptada à nova realidade ou com os devidos ajustes. Se há um membro da família que se costumava vestir de Pai Natal na noite de 24 e as crianças só vão estar presentes no dia 25, talvez se possa repetir a dose nesse dia. As crianças vão gostar da ideia e os adultos vão sentir-se mais felizes por poderem continuar a manter algumas tradições e colecionar memórias felizes.
VIVA A FESTA DA FAMÍLIA EM FAMÍLIA
Se vai estar sem os seus filhos durante, pelo menos, uma parte da quadra natalícia, é natural que se sinta incapaz de se abstrair disso. Quando nos fixamos naquilo que nos desagrada e que não controlamos, esquecemo-nos muitas vezes de prestar atenção a tudo o resto. Há certamente várias pessoas que o/a têm ajudado a sentir-se mais amparado(a) nesta fase da sua vida. São pessoas importantes para si, pelas quais provavelmente se sente grato(a). Cultivar este sentimento de gratidão ajudá-lo(a)-á a adaptar-se à sua nova realidade sem dramas.
O amor está (mesmo) em todo o lado e compete-nos vivê-lo nas suas mais variadas formas. Planeie com antecedência com quem vai querer passar uma parte do seu Natal, escolha com carinho e atenção a melhor forma de mostrar os seus sentimentos por essas pessoas e saboreie a oportunidade de o fazer. Não precisa de escolher os presentes mais caros. Talvez possa até oferecer alguns feitos por si. O melhor da vida é podermos dedicar-nos às pessoas de quem gostamos e que sabemos que gostam de nós.