É muito mais do que um cliché a propósito do qual se têm feito inúmeras piadas ao longo de séculos: a relação entre noras e sogras é uma fonte de tensão para uma larga maioria dos casais. Na prática, 60 por cento das mulheres reconhecem que a relação com a sogra traz problemas ao casamento. Por oposição, apenas 15 por cento dos homens apresentam esta queixa.
Para a maioria dos casais com quem trabalho, a comunicação torna-se mais difícil quando o marido acha que a mulher está a ser injusta, desvaloriza as queixas e vai rotulando de “normais” os comportamentos (da mãe) com que conviveu toda a vida.
E do que é que noras e sogras se queixam?
A esmagadora maioria das noras
queixam-se dos ciúmes das sogras. A esmagadora maioria das sogras sentem-se
excluídas pelas noras.
Depois há assuntos específicos
que podem ser desencadeadores de conflito e tensão para toda a família:
PROXIMIDADE
De um lado, a queixa é «Agora
raramente vejo o meu filho» e do outro é «A minha sogra está demasiado presente
na nossa relação».
De uma maneira geral, as mães têm
a esperança/ a expectativa de que os filhos possam manter o mesmo nível de
contacto e proximidade que havia antes da relação de compromisso. Esperam que a
relação amorosa não os impeça de continuar a almoçar ou jantar juntos com
regularidade; que os filhos possam socorre-las para mudar uma lâmpada ou outra
coisa qualquer, mesmo que seja fora-de-horas; e sentem-se preteridas com as
mudanças. Mas quando há um casamento ou uma união de facto, é expectável que
algumas rotinas se desvaneçam (para dar lugar às rotinas do novo casal) e isso
nem sempre é fácil de gerir. De um lado, há uma mãe que estava habituada a
poder contar com o filho para quase tudo e a toda a hora e do outro está uma
mulher que se sente desconsiderada quando as rotinas do casal são interrompidas
por hábitos antigos.
No meio está normalmente um homem
que quer agradar a ambas e que pode sentir-se muito pressionado. Não é fácil
dizer «Não», sobretudo a alguém de quem gostamos muito. E também não é uma
questão de determinar quem tem razão.
Às vezes aquilo que é preciso é
questionar «O que é que é mais
importante agora?» e aceitar que, para que respeitemos as nossas
necessidades, precisaremos de dizer «Não» às pessoas de quem gostamos.
DINHEIRO
Alguns pais e mães têm muita vontade
de ajudar os filhos do ponto de vista financeiro – emprestando ou dando
dinheiro, ajudando com algumas compras ou até aconselhando-os a poupar ou a
investir. E está tudo bem desde que, se isto acontecer depois de o filho estar
numa relação de compromisso, a ajuda for aceite pelo casal. Se o filho acordar com os pais qualquer
forma de ajuda que interfira com o orçamento familiar sem que a decisão tenha
sido tomada a dois, o compromisso do casal fica mais vulnerável.
Uma das coisas que fortalece uma
relação é a possibilidade de nos sentirmos ouvidos e a certeza de que as
decisões importantes são fruto dessa vontade de integrar os sentimentos e a
vontade de cada um.
Para um filho, pode não haver
qualquer problema associado ao facto de a mãe lhe dar dinheiro, MAS é
fundamental que possa interessar-se sobre a forma como a mulher se sente.
Quando os membros do casal se
habituam a comportar-se como uma equipa coesa, quando há um «Nós» que sobressai
nos assuntos mais estruturantes, a relação sai a ganhar.
CRIANÇAS
Mesmo quando a relação entre
noras e sogras é pacífica, há uma probabilidade maior de haver tensão aquando
do nascimento do primeiro filho. O nascimento de uma criança é quase sempre
gerador de um turbilhão de sentimentos, quase sempre muito positivos. Por um
lado, os pais e mães descobrem que há um amor incondicional que nunca tinham
sentido e, por outro, os avós descobrem mais uma forma de amar alguém que
invariavelmente não vai estar tão presente nas suas vidas como desejariam. Na
prática, é a profunda vontade de estar presente que faz com que haja tensão.
A intenção é quase sempre a
melhor e é fundamental que o casal consiga definir limites claros que permitam
que os avós possam participar sem que ninguém se sinta desrespeitado.
MANIPULAÇÃO
Nalguns casos, a tensão é muito
mais do que um problema de comunicação. A verdade é que há famílias em que a
relação entre noras e sogras é caracterizada por mentiras, comportamentos
manipuladores e dissimulação. Às vezes, há um comportamento na presença do
filho/ marido e há outro completamente diferente quando ele não está presente.
Noutros casos, há esforços claros para convencer o marido/filho a afastar-se.
Ainda que algumas destas situações requeiram ajuda terapêutica, é mais provável
que os adultos se entendam se houver algumas conversas em que todos os adultos
possam revelar-se de forma clara e honesta, expondo as situações que lhes
desagradam e reivindicando com respeitando a atenção de que precisam.
REGRAS PARA MELHORAR A RELAÇÃO ENTRE
NORAS E SOGRAS
Não insultar. Não fazer ataques pessoais. Se cada pessoa for capaz
de olhar para situações específicas e, a partir daí, identificar os seus
sentimentos e as suas necessidades, é mais provável que a comunicação flua. Em
vez de dizer «Ela é (…)» é preferível dizer «Quando (…) eu senti-me (…) Preciso
que (…)».
Definir soluções a dois. Os assuntos mais importantes devem ser
alvo de reflexão a dois – sempre. Aquilo que importa é que os sentimentos e as
necessidades de cada membro do casal sejam valorizados e respeitados e que as
soluções encontradas para cada assunto sejam soluções de compromisso. Às vezes
é um que tem de ceder; outras vezes é o outro.
É o filho que deve falar. A relação entre mãe e filho é uma relação
mais afetuosa do que a relação nora-sogra algum dia poderá ser. E é esse afeto
que pode ajudar na altura de definir limites e dizer «Não». As decisões devem
ser tomadas a dois. O casal é uma equipa. E o filho é o porta-voz da equipa:
«Nós decidimos que…».
Ajudar não é definir. Todos os casais podem beneficiar da ajuda da
família alargada, sobretudo quando há filhos pequenos. Mas ajudar é ajudar –
não é definir regras. Os avós têm muito para dar – aos netos mas também aos
filhos e noras.
Estabelecer regras em relação ao essencial. Nenhuma família ganha
com a inexistência de regras mas é mais difícil sentirmo-nos genuinamente
felizes se houver regras rígidas para tudo e se não houver flexibilidade e
permeabilidade à opinião de quem está à nossa volta. Se os membros do casal
forem assertivos em relação aos limites que são verdadeiramente importantes para
si e assumirem uma postura de disponibilidade e aceitação da participação da
família alargada em relação aos assuntos mais triviais, é mais provável que a
família se sinta coesa.
Criar rituais de conexão. Na tentativa de encontrar uma solução
para cada problema, esquecemo-nos muitas vezes do mais importante: os afetos.
São eles que nos ajudam a reconhecer o que é que é mesmo importante, que
batalhas devemos travar e quais as lutas que é preferível deixar pelo caminho.
Para que uma família possa aprender a gerir conflitos e lidar com situações de
tensão, é crucial que haja “balões de oxigénio”, momentos de genuína conexão,
relaxamento, cumplicidade, gargalhada. Criar esses momentos, esses rituais,
está ao alcance de todos. Quando almoçamos ou jantamos em casa da nora/ da
sogra uma vez por semana/ por mês com a intenção de estarmos juntos, também
estamos dizer «gosto de ti/si».