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18.2.19

CASAIS COM GRANDE DIFERENÇA DE IDADES


Casais com grande diferença de idades


A idade importa, de facto, numa relação? Ou nem sequer chega a ser assunto quando se ama realmente a outra pessoa? Como é que a família e os amigos olham para um casal quando há uma grande diferença de idades? E quando a mulher é mais velha? Quais são os maiores entraves a uma relação nestas circunstâncias? E as vantagens?


Foi com muito gosto que respondi a estas questões para a reportagem do Diário de Notícias sobre relações em que haja uma grande diferença de idades.

A idade importa, de facto, numa relação? Ou nem sequer chega a ser assunto quando se ama realmente a outra pessoa?

A diferença de idades pode ser um fator de risco para uma relação, tal como qualquer outra assimetria (financeira, por exemplo). Isso está longe de querer dizer que um casal em que haja uma diferença de idade significativa esteja condenado ao insucesso. Na prática, a satisfação conjugal vai depender de um conjunto de fatores. Um desses fatores é a forma como a rede de suporte olha para a relação. Quanto maior for o apoio dos familiares e amigos, maior é a probabilidade de a relação dar certo. Pelo contrário, quanto mais tensões e juízos de valor houver, mais vulnerável fica a relação.

Por outro lado, a diferença de idade pode não ser um problema no início da relação e transformar-se num foco de tensão mais tarde. Cada um dos membros do casal amadurece e é provável que as expectativas mudem. Por exemplo, nalguns casos o elemento mais jovem do casal pode começar por minimizar o facto de o parceiro não querer ter filhos mas, à medida que o tempo avança, a sua própria vontade pode mudar. Algumas vezes aquilo que acontece é que, depois da fase da paixão, cada pessoa reflete sobre as próprias intenções a respeito da relação e é preciso conciliar expectativas.

Porque é que ainda custa tanto a aceitar (socialmente falando) relacionamentos em que haja uma grande diferença entre os parceiros?

A aceitação da diferença é sempre um desafio. De uma maneira geral, somos educados no sentido de corresponder à norma e acabamos por criar muitas expectativas em relação às pessoas de quem gostamos. Isso é especialmente verdadeiro no que diga respeito à existência de filhos e netos.

Para os pais, é quase sempre expectável que os filhos construam relações estáveis e que dessas relações surjam netos.


Quando há uma diferença significativa de idade entre os membros do casal, há mais medos. Há o medo de a pessoa mais nova não vir a ter filhos, há o medo de essa pessoa se fartar e, mais cedo ou mais tarde, não querer estar ao lado de alguém muito mais velho, há o medo de alguém sair muito magoado da relação. De resto, o medo é aquilo que está por detrás da maioria dos preconceitos.

O tabu tende a ser maior se por acaso for a mulher o elemento mais velho da relação? Porquê?

O preconceito é maior quando a mulher é mais velha. Isso está relacionado com a questão da procriação mas também com a estereotipagem dos papeis de género. Continuamos a olhar para os homens como fontes de proteção e continuamos a olhar para as mulheres como mais vulneráveis. A aventura e a experiência continuam a estar muito mais associadas ao papel masculino. Por outro lado, há uma hipervalorização da jovialidade feminina. Nesse sentido, olhamos com mais estranheza para a possibilidade de um homem escolher ter uma relação com uma mulher mais velha.

Quais seriam os maiores entraves a um relacionamento bem-sucedido nestas circunstâncias de grande diferença etária?

Os maiores entraves são, como já referi, a pressão familiar e a dificuldade em conciliar expectativas. Quando a família alargada critica, há pelo menos um dos membros do casal que está mais vulnerável. Quando a essas críticas se junta o isolamento, a sensação de desamparo é maior.

Por outro lado, quando os membros do casal vão mostrando dificuldade em validar as necessidades de cada um, quando há posições muito antagónicas em relação ao que cada um quer, há mais conflito e o risco de rutura é significativamente maior.

E as vantagens?

As vantagens estarão relacionadas com a resiliência do próprio casal. Aquilo que quero dizer é que, tal como acontece em relação a outros acontecimentos difíceis, quando duas pessoas se unem e ultrapassam juntas determinados obstáculos, é muito mais provável que haja uma sensação de compromisso e um projeto com futuro.

Existem mais casos destes atualmente? Ou simplesmente as pessoas têm menos vergonha de assumir (as que amam alguém mais novo) e de aceitar (as que veem isto acontecer)?

Nos meios urbanos há cada vez maior aceitação em relação a esta e outras diferenças. Isso está obviamente relacionado com o grau de exposição a esta realidade. Reconhecemos que há cada vez mais formas novas de família, que há uma multiplicidade de formas de sermos felizes e que há inúmeros casos de “sucesso”. Por outro lado, também estamos – todos – cada vez mais expostos, sobretudo através das redes sociais, às críticas (às vezes anónimas) e, desse ponto de vista, a pressão para alguns casais pode ser maior.

A reportagem “O AMOR NÃO ESCOLHE IDADES (OU SERÁ QUE SIM)?” pode ser lida na íntegra aqui.
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