A idade importa, de facto, numa relação? Ou nem sequer chega a ser assunto quando se ama realmente a outra pessoa? Como é que a família e os amigos olham para um casal quando há uma grande diferença de idades? E quando a mulher é mais velha? Quais são os maiores entraves a uma relação nestas circunstâncias? E as vantagens?
Foi com muito gosto que respondi
a estas questões para a reportagem do Diário de Notícias sobre relações em que
haja uma grande diferença de idades.
A idade importa, de facto, numa relação? Ou nem sequer chega a ser
assunto quando se ama realmente a outra pessoa?
A diferença de idades pode ser um
fator de risco para uma relação, tal como qualquer outra assimetria
(financeira, por exemplo). Isso está longe de querer dizer que um casal em que
haja uma diferença de idade significativa esteja condenado ao insucesso. Na
prática, a satisfação conjugal vai depender de um conjunto de fatores. Um
desses fatores é a forma como a rede de suporte olha para a relação. Quanto maior for o apoio dos familiares e
amigos, maior é a probabilidade de a relação dar certo. Pelo contrário,
quanto mais tensões e juízos de valor houver, mais vulnerável fica a relação.
Por outro lado, a diferença de
idade pode não ser um problema no início da relação e transformar-se num foco
de tensão mais tarde. Cada um dos membros do casal amadurece e é provável que
as expectativas mudem. Por exemplo, nalguns casos o elemento mais jovem do
casal pode começar por minimizar o facto de o parceiro não querer ter filhos
mas, à medida que o tempo avança, a sua própria vontade pode mudar. Algumas
vezes aquilo que acontece é que, depois da fase da paixão, cada pessoa reflete
sobre as próprias intenções a respeito da relação e é preciso conciliar
expectativas.
Porque é que ainda custa tanto a aceitar (socialmente falando)
relacionamentos em que haja uma grande diferença entre os parceiros?
A aceitação da diferença é sempre
um desafio. De uma maneira geral, somos educados no sentido de corresponder à
norma e acabamos por criar muitas expectativas em relação às pessoas de quem
gostamos. Isso é especialmente verdadeiro no que diga respeito à existência de
filhos e netos.
Quando há uma diferença
significativa de idade entre os membros do casal, há mais medos. Há o medo de a
pessoa mais nova não vir a ter filhos, há o medo de essa pessoa se fartar e,
mais cedo ou mais tarde, não querer estar ao lado de alguém muito mais velho,
há o medo de alguém sair muito magoado da relação. De resto, o medo é aquilo
que está por detrás da maioria dos preconceitos.
O tabu tende a ser maior se por acaso for a mulher o elemento mais
velho da relação? Porquê?
O preconceito é maior quando a
mulher é mais velha. Isso está relacionado com a questão da procriação mas
também com a estereotipagem dos papeis de género. Continuamos a olhar para os
homens como fontes de proteção e continuamos a olhar para as mulheres como mais
vulneráveis. A aventura e a experiência continuam a estar muito mais associadas
ao papel masculino. Por outro lado, há uma hipervalorização da jovialidade
feminina. Nesse sentido, olhamos com mais estranheza para a possibilidade de um
homem escolher ter uma relação com uma mulher mais velha.
Quais seriam os maiores entraves a um relacionamento bem-sucedido
nestas circunstâncias de grande diferença etária?
Os maiores entraves são, como já
referi, a pressão familiar e a dificuldade em conciliar expectativas. Quando a
família alargada critica, há pelo menos um dos membros do casal que está mais
vulnerável. Quando a essas críticas se junta o isolamento, a sensação de
desamparo é maior.
Por outro lado, quando os membros
do casal vão mostrando dificuldade em validar as necessidades de cada um,
quando há posições muito antagónicas em relação ao que cada um quer, há mais
conflito e o risco de rutura é significativamente maior.
E as vantagens?
As vantagens estarão relacionadas
com a resiliência do próprio casal. Aquilo que quero dizer é que, tal como
acontece em relação a outros acontecimentos difíceis, quando duas pessoas se unem e ultrapassam juntas determinados
obstáculos, é muito mais provável que haja uma sensação de compromisso e um projeto
com futuro.
Existem mais casos destes atualmente? Ou simplesmente as pessoas têm
menos vergonha de assumir (as que amam alguém mais novo) e de aceitar (as que
veem isto acontecer)?
Nos meios urbanos há cada vez
maior aceitação em relação a esta e outras diferenças. Isso está obviamente
relacionado com o grau de exposição a esta realidade. Reconhecemos que há cada
vez mais formas novas de família, que há uma multiplicidade de formas de sermos
felizes e que há inúmeros casos de “sucesso”. Por outro lado, também estamos –
todos – cada vez mais expostos, sobretudo através das redes sociais, às
críticas (às vezes anónimas) e, desse ponto de vista, a pressão para alguns
casais pode ser maior.
A reportagem “O AMOR NÃO ESCOLHE IDADES (OU SERÁ QUE SIM)?” pode ser lida na íntegra aqui.