Quando falamos de comunicação, quais são os comportamentos que mais prejudicam uma relação? Que escolhas é que estão associadas à deterioração de um casamento ou de uma relação de compromisso? E quais são as soluções para cada um destes comportamentos?
Uma das razões por que me sinto
constantemente entusiasmada a propósito do meu trabalho como terapeuta conjugal
está relacionada com as ferramentas que a investigação nesta área da Psicologia
tem trazido. Quando falamos em comunicação no casal, é fácil adivinhar a
importância do tema: os casais que comunicam melhor reconhecem e verbalizam mais
facilmente os seus sentimentos e aquilo de que precisam para se sentirem unidos
e felizes. Não é por acaso que muitos dos casais que me pedem ajuda reconhecem
que existem problemas de comunicação que
os estão a impedir de se sentirem satisfeitos.
Pode parecer bizarro mas este é o
resultado de várias décadas de investigação liderada pelo professor John
Gottman.
4 erros que destroem uma relação
Uma das conclusões desta equipa
de investigação está relacionada com o impacto da comunicação na deterioração
da relação. O professor John Gottman identificou aquilo a que chamou os 4
cavaleiros do apocalipse, isto é, os comportamentos que mais comummente estão
associados a separações e divórcios:
#1: Hipercrítica
Todos os casais discutem e,
inevitavelmente, fazem queixas. Mas uma coisa é queixarmo-nos de comportamentos
específicos e sermos capazes de continuar a mostrar apreço pela pessoa de quem
gostamos. Outra, bem diferente, é fazer críticas que constituam um ataque pessoal.
Quando pelo menos um dos membros
do casal se sente constantemente criticado e quando essas críticas tomam a
forma de generalizações, é mais provável que, mais cedo ou mais tarde, haja uma
rutura.
Solução: Fazer queixas/ apelos.
Uma das “fórmulas” que proponho
frequentemente no consultório e que permite que qualquer pessoa manifeste o seu
desagrado de forma emocionalmente inteligente é a seguinte:
ABC
A – «Quando…» (descrição clara e
objetiva da situação/ comportamento/ episódio)
B - «… eu senti-me»
(identificação dos sentimentos)
C - «Preferia que…/ Preciso que…»
(reconhecimento das próprias necessidades)
O que é que acontece quando
alguém ouve frases como estas:
«É sempre a mesma coisa. Quantas
vezes é que é preciso dizer-te para chegares a horas?»
Invariavelmente, sente-se
atacado(a) e, instintivamente, defende-se, acabando por deixar a outra pessoa
ainda mais enfurecida. É relativamente fácil para qualquer casal entrar nestes
círculos viciosos.
Pelo contrário, quando alguém
diz:
«Quando tu chegas atrasado, eu
sinto-me ignorado(a). Preciso que me envies uma mensagem a avisar»
aumenta MUITO a probabilidade de ambos
se sentirem ouvidos e amparados.
É evidente que o desgaste associado
à repetição de qualquer comportamento que nos magoa aumenta a probabilidade de nos
sentirmos inundados emocionalmente e de, em função disso, nos “saltar a tampa”.
Os casais mais felizes são aqueles que nunca erram nem os que, ao fim de vários
anos, não cometem erros antigos. São, isso sim, aqueles que fazem escolhas
emocionalmente inteligentes, aqueles que insistem em verbalizar as suas necessidades
e que reconhecem que só assim continuarão a sentir-se ligados.
#2: Postura defensiva
A postura defensiva não é mais do
que a tentativa de reverter a culpa. Na prática, quando uma pessoa se sente
atacada, é mais provável que se defenda, colocando o foco no comportamento do
outro. Qualquer um de nós já o fez de forma instintiva, ignorando os danos que estão
associados a este comportamento.
«Então, e tu?»
Este é um exemplo claro de
postura defensiva. Quando a pessoa de quem gostamos nos acusa do que quer que
seja e respondemos com «Então, e tu?», até podemos ser capazes de identificar
143 exemplos reais de erros que ele(a) cometeu MAS isso é tudo o que a relação
não precisa naquele momento.
Quando nos queixamos, precisamos
de perceber que a outra pessoa valoriza a nossa queixa, os nosso sentimentos e
as nossas necessidades. Não precisamos que sacuda a água do capote
apontando-nos o dedo.
Solução: Assumir a responsabilidade.
Quando aceitamos a queixa e
reconhecemos o nosso erro, abrimos caminho para que a pessoa de quem gostamos
se sinta ouvida e amparada.
Pelo contrário, quando pedimos
desculpa ganhamos ainda mais legitimidade para fazermos as nossas queixas (no
momento certo).
#3: Indiferença
Muitas vezes, em função da
crescente tensão, pelo menos um dos membros do casal acaba por fugir ao conflito
assumindo uma postura de aparente indiferença em relação à discussão. Algumas
pessoas referem-se a este comportamento do(a) companheiro(a) como um amuo:
«Quando começo a falar, ele(a) amua» ou «Falo para o boneco…».
Na prática, aquilo que acontece é
que a pessoa está tão enervada que (já) não é capaz de entrar na discussão.
Involuntariamente, acaba por deixar a outra pessoa ainda mais enfurecida e
desamparada. É um círculo vicioso em que ambos se sentem profundamente aflitos.
Solução: Autoacalmar-se.
A dada altura da investigação, a
equipa do Professor John Gottman pediu aos casais participantes para
interromperem as respetivas discussões para que o equipamento de gravação
pudesse ser reparado. Durante meia hora, era proposto que os casais aguardassem
numa sala e não conversassem sobre aqueles tópicos. A única coisa que faziam
durante esse tempo era folhear algumas revistas disponíveis na sala de espera.
Quando regressavam à sala de
observação, voltavam ao assunto sobre o qual estavam a discutir. Aquilo que os
investigadores verificaram foi que aquela meia hora a folhear revistas era
suficiente para que os casais voltassem aos assuntos geradores de tensão com
uma postura MUITO diferente – mais calmos, mais unidos.
No auge de uma discussão, nem
sempre é fácil darmo-nos conta de que podemos parar para colocar as coisas em
perspetiva. Quando nos permitimos parar, relaxar e voltar posteriormente aos
assuntos que precisam de ser discutidos, é mais provável que consigamos
empatizar e ligar-nos.
Para algumas pessoas isso pode
passar por sair e caminhar um bocado. Para outras, pode ser mais eficaz ver um
pouco de televisão ou ler qualquer coisa que prenda a atenção. O importante é
que cada pessoa consiga fazer regularmente a escolha intencional de se
autoacalmar.
#4: Desprezo
Nada é tão letal para uma relação
amorosa como a manifestação de desprezo.
Há um comportamento específico
que está associado ao fim de uma relação:
Revirar os olhos.
Poucos comportamentos dizem tanto
sobre uma relação como este. Quando uma pessoa revira os olhos, está a dizer
que não se interessa, que está farta. E isso é gerador de mágoa, de desamparo.
Há outros comportamentos que
mostram desprezo: insultar, ridicularizar, tratar o outro com sarcasmo.
Solução: Apreciar.
Só há uma forma de continuarmos a
valorizar a nossa relação e a pessoa que está ao nosso lado: lembrando, com
regularidade, as qualidades que fizeram com que nos apaixonássemos por aquela
pessoa. Quando prestamos atenção, de forma intencional, às pequenas coisas que
o outro faz, e não apenas aos erros que comete, é muito mais provável que
consigamos queixar-nos sem rebaixar, sem ferir, sem ameaçar a relação.