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11.2.19

PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO NO CASAL


Problemas de comunicação no casal

Quando falamos de comunicação, quais são os comportamentos que mais prejudicam uma relação? Que escolhas é que estão associadas à deterioração de um casamento ou de uma relação de compromisso? E quais são as soluções para cada um destes comportamentos?


Uma das razões por que me sinto constantemente entusiasmada a propósito do meu trabalho como terapeuta conjugal está relacionada com as ferramentas que a investigação nesta área da Psicologia tem trazido. Quando falamos em comunicação no casal, é fácil adivinhar a importância do tema: os casais que comunicam melhor reconhecem e verbalizam mais facilmente os seus sentimentos e aquilo de que precisam para se sentirem unidos e felizes. Não é por acaso que muitos dos casais que me pedem ajuda reconhecem que existem problemas de comunicação que os estão a impedir de se sentirem satisfeitos.

Problemas de comunicação no casal


Pode parecer bizarro mas este é o resultado de várias décadas de investigação liderada pelo professor John Gottman.

4 erros que destroem uma relação


Uma das conclusões desta equipa de investigação está relacionada com o impacto da comunicação na deterioração da relação. O professor John Gottman identificou aquilo a que chamou os 4 cavaleiros do apocalipse, isto é, os comportamentos que mais comummente estão associados a separações e divórcios:


#1: Hipercrítica

Todos os casais discutem e, inevitavelmente, fazem queixas. Mas uma coisa é queixarmo-nos de comportamentos específicos e sermos capazes de continuar a mostrar apreço pela pessoa de quem gostamos. Outra, bem diferente, é fazer críticas que constituam um ataque pessoal.

Quando pelo menos um dos membros do casal se sente constantemente criticado e quando essas críticas tomam a forma de generalizações, é mais provável que, mais cedo ou mais tarde, haja uma rutura.

Solução: Fazer queixas/ apelos.

Uma das “fórmulas” que proponho frequentemente no consultório e que permite que qualquer pessoa manifeste o seu desagrado de forma emocionalmente inteligente é a seguinte:

ABC

A – «Quando…» (descrição clara e objetiva da situação/ comportamento/ episódio)
B - «… eu senti-me» (identificação dos sentimentos)
C - «Preferia que…/ Preciso que…» (reconhecimento das próprias necessidades)

O que é que acontece quando alguém ouve frases como estas:

«É sempre a mesma coisa. Quantas vezes é que é preciso dizer-te para chegares a horas?»

Invariavelmente, sente-se atacado(a) e, instintivamente, defende-se, acabando por deixar a outra pessoa ainda mais enfurecida. É relativamente fácil para qualquer casal entrar nestes círculos viciosos.

Pelo contrário, quando alguém diz:

«Quando tu chegas atrasado, eu sinto-me ignorado(a). Preciso que me envies uma mensagem a avisar»

aumenta MUITO a probabilidade de ambos se sentirem ouvidos e amparados.

É evidente que o desgaste associado à repetição de qualquer comportamento que nos magoa aumenta a probabilidade de nos sentirmos inundados emocionalmente e de, em função disso, nos “saltar a tampa”. Os casais mais felizes são aqueles que nunca erram nem os que, ao fim de vários anos, não cometem erros antigos. São, isso sim, aqueles que fazem escolhas emocionalmente inteligentes, aqueles que insistem em verbalizar as suas necessidades e que reconhecem que só assim continuarão a sentir-se ligados.

#2: Postura defensiva

A postura defensiva não é mais do que a tentativa de reverter a culpa. Na prática, quando uma pessoa se sente atacada, é mais provável que se defenda, colocando o foco no comportamento do outro. Qualquer um de nós já o fez de forma instintiva, ignorando os danos que estão associados a este comportamento.

«Então, e tu?»

Este é um exemplo claro de postura defensiva. Quando a pessoa de quem gostamos nos acusa do que quer que seja e respondemos com «Então, e tu?», até podemos ser capazes de identificar 143 exemplos reais de erros que ele(a) cometeu MAS isso é tudo o que a relação não precisa naquele momento.

Quando nos queixamos, precisamos de perceber que a outra pessoa valoriza a nossa queixa, os nosso sentimentos e as nossas necessidades. Não precisamos que sacuda a água do capote apontando-nos o dedo.

Solução: Assumir a responsabilidade.

Quando aceitamos a queixa e reconhecemos o nosso erro, abrimos caminho para que a pessoa de quem gostamos se sinta ouvida e amparada.

Problemas de comunicação no casal


Pelo contrário, quando pedimos desculpa ganhamos ainda mais legitimidade para fazermos as nossas queixas (no momento certo).

#3: Indiferença

Muitas vezes, em função da crescente tensão, pelo menos um dos membros do casal acaba por fugir ao conflito assumindo uma postura de aparente indiferença em relação à discussão. Algumas pessoas referem-se a este comportamento do(a) companheiro(a) como um amuo: «Quando começo a falar, ele(a) amua» ou «Falo para o boneco…».

Na prática, aquilo que acontece é que a pessoa está tão enervada que (já) não é capaz de entrar na discussão. Involuntariamente, acaba por deixar a outra pessoa ainda mais enfurecida e desamparada. É um círculo vicioso em que ambos se sentem profundamente aflitos.

Solução: Autoacalmar-se.

A dada altura da investigação, a equipa do Professor John Gottman pediu aos casais participantes para interromperem as respetivas discussões para que o equipamento de gravação pudesse ser reparado. Durante meia hora, era proposto que os casais aguardassem numa sala e não conversassem sobre aqueles tópicos. A única coisa que faziam durante esse tempo era folhear algumas revistas disponíveis na sala de espera.

Quando regressavam à sala de observação, voltavam ao assunto sobre o qual estavam a discutir. Aquilo que os investigadores verificaram foi que aquela meia hora a folhear revistas era suficiente para que os casais voltassem aos assuntos geradores de tensão com uma postura MUITO diferente – mais calmos, mais unidos.

No auge de uma discussão, nem sempre é fácil darmo-nos conta de que podemos parar para colocar as coisas em perspetiva. Quando nos permitimos parar, relaxar e voltar posteriormente aos assuntos que precisam de ser discutidos, é mais provável que consigamos empatizar e ligar-nos.

Para algumas pessoas isso pode passar por sair e caminhar um bocado. Para outras, pode ser mais eficaz ver um pouco de televisão ou ler qualquer coisa que prenda a atenção. O importante é que cada pessoa consiga fazer regularmente a escolha intencional de se autoacalmar.

#4: Desprezo

Nada é tão letal para uma relação amorosa como a manifestação de desprezo.



Há um comportamento específico que está associado ao fim de uma relação:

Revirar os olhos.

Poucos comportamentos dizem tanto sobre uma relação como este. Quando uma pessoa revira os olhos, está a dizer que não se interessa, que está farta. E isso é gerador de mágoa, de desamparo.
Há outros comportamentos que mostram desprezo: insultar, ridicularizar, tratar o outro com sarcasmo.

Solução: Apreciar.

Só há uma forma de continuarmos a valorizar a nossa relação e a pessoa que está ao nosso lado: lembrando, com regularidade, as qualidades que fizeram com que nos apaixonássemos por aquela pessoa. Quando prestamos atenção, de forma intencional, às pequenas coisas que o outro faz, e não apenas aos erros que comete, é muito mais provável que consigamos queixar-nos sem rebaixar, sem ferir, sem ameaçar a relação.

Terapia Familiar e de Casal em Lisboa