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7.3.19

TAREFAS DOMÉSTICAS: AJUDAR VERSUS PARTILHAR


Tarefas domésticas - ajudar versus partilhar

Falar sobre tarefas domésticas implica invariavelmente falar de braços-de-ferro a propósito da sua distribuição. Para a esmagadora maioria das famílias, o bem-estar é maior quando as tarefas são partilhadas de forma equilibrada. No entanto, a maior parte das mulheres acabam por sentir-se sobrecarregadas com estes afazeres ao mesmo tempo que a maioria dos homens acreditam que fazem tanto como elas. Porque é que, na teoria, aplaudimos a ideia de que é importante partilhar e, na prática, na maioria das vezes os homens continuam apenas a ajudar?


(Quase ninguém) dá pulos de contentamento por ter a "oportunidade" de limpar a casa de banho. E, mesmo para as pessoas que gostam de manter a casa limpa e arrumada, a distribuição das tarefas domésticas é um assunto que dá pano para mangas e que está quase sempre envolto em alguma tensão.

No meu trabalho com casais, deparo-me muitas vezes com queixas relacionadas com este assunto. De uma maneira geral, elas sentem-se injustiçadas por terem de realizar muito mais tarefas do que os homens e estes sentem-se injustiçados porque acreditam que fazem tanto como as mulheres.

Quem tem razão?


Os números não mentem. Há diversos estudos que mostram que as mulheres continuam a ter sobre os seus ombros mais tarefas domésticas do que os homens, independentemente de também trabalharem fora de casa. Por exemplo, segundo os dados do estudo “Homens, papéis masculinos e igualdade de género”, os homens gastam oito horas por semana em tarefas domésticas, enquanto as mulheres gastam 21. No que diga respeito aos cuidados familiares, como o cuidado com os filhos, a divisão de tarefas também não é equilibrada. Eles gastam 9 horas por semana com estes afazeres, enquanto elas gastam 17.

É verdade que hoje os homens participam muito mais ativamente nas tarefas domésticas do que há 20 ou 30 anos. É verdade que quase todas as mulheres reconhecem que podem contar com a ajuda do companheiro. Mesmo no que diga respeito aos cuidados prestados às crianças, houve uma mudança muito significativa nas últimas décadas: quase todos os pais (homens) mudam fraldas, dão banhos, ajudam com os trabalhos de casa, etc. Mas, no final das contas, continua a haver desequilíbrio. Aquilo que é curioso é que a maioria dos homens acreditam que fazem mais tarefas do que, na realidade, concretizam.

As coisas pioram quando a mulher ganha mais do que o marido: nestes casos, quanto mais a mulher ganha, de uma maneira geral, menos o marido participa nas tarefas domésticas.


É uma questão de masculinidade?


Poder-se-ia pensar que esta é uma questão que afeta sobretudo os países latinos, onde a masculinidade ainda é colocada em causa por tudo e por nada mas a verdade é que até na Suécia, onde há muitos pais que estão em casa a tomar conta dos filhos a tempo inteiro (sem que isso belisque a sua masculinidade), as mulheres gastam em média mais 45 minutos por dia em tarefas domésticas do que os homens.

A verdade é que, para muitas mulheres, a ideia de o marido passar a desempenhar mais tarefas é agridoce. Por um lado, desejam-no mas, por outro, temem que as tarefas não sejam bem desempenhadas. Não é tanto uma questão de acharem que eles não vão ser capazes. É, sobretudo, uma questão de acharem que eles não vão fazer bem de propósito.

Uma das queixas mais frequentes no meu consultório tem a ver com a falta de reconhecimento. Muitas mulheres queixam-se porque, na sua ótica, o marido não “vê” a extensão do seu trabalho. Sentem-se desvalorizadas. Na prática, muitas vezes aquilo que acontece é que há efetivamente um grau de exigência diferente em relação à forma como as tarefas são executadas. A maior parte das mulheres acabam por ser mais exigentes do que a maior parte dos homens e estas diferenças podem ser interpretadas como falta de interesse ou desvalorização.

Há tempos, no meu consultório uma mulher queixava-se desta forma: «Aquilo que mais me irrita é ter de andar atrás dele [marido], ter de completar aquilo que ele deixa inacabado. Tenho de limpar a bancada depois de ele lavar a loiça. Tenho de retirar os legumes estragados do frigorífico depois de ele arrumar as compras. Tenho de apanhar os pelos que ficam espalhados pelo lavatório depois de ele desfazer a barba – ainda que ele tenha tido o cuidado de varrer o chão e lhe pareça que o espaço ficou impecável».

Estes conflitos acabam por traduzir algumas diferenças em relação à forma como homens e mulheres são educados. Independentemente da luta pela igualdade de género, a maior parte das mulheres acabam por sentir que é sobre si que recairão as críticas se a casa não estiver suficientemente limpa ou se os filhos não estiverem a receber os devidos cuidados. Isso acaba por refletir-se no comportamento de homens e mulheres: elas são muito mais obsessivas, mais atentas aos detalhes e eles são muito mais relaxados. E também se reflete no volume de preocupações: são quase sempre elas que se preocupam com tudo o que há para fazer e que se organizam no sentido de nada ficar para trás. Ouço muitas vezes a queixa «Era bom que ele fizesse [a tarefa X] sem que eu tivesse de lhe pedir». A maior parte dos homens acabam por limitar-se a escolher algumas tarefas da lista definida pela mulher.



Se cada um for capaz de reconhecer e dar voz às suas necessidades, é mais provável que surjam soluções de compromisso que promovam o bem-estar de toda a família. Mas isso não tem de equivaler a que o homem faça exatamente aquilo que a mulher considera que é justo. Aquilo que quero dizer é que se é verdade que há tarefas que não podem deixar de ser feitas – e que é bom que sejam distribuídas de forma equilibrada -, também é verdade que, neste assunto, menos pode ser mais. Na prática, se os membros do casal concordarem que nenhum dos dois tem tempo para aspirar o carro, pode ser mais saudável aceitar que o carro passe semanas sem ser aspirado em vez de alimentar braços-de-ferro sobre quem-fez-o-quê.

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