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24.4.19

MEDO DE SER FELIZ



Medo de ser feliz


Porque é que, quando tudo corre bem, temos medo que aconteça uma desgraça? O que é que nos impede de viver com alegria as fases da vida em que todas as peças se encaixam?


Numa conversa com o meu marido, falava-lhe sobre o sentimento de gratidão por estarmos ambos envolvidos em projetos que estão a trazer-nos muito prazer e entusiasmo. A resposta dele foi «Não fales já que dá azar». Eu poderia dizer que esta é uma atitude tipicamente portuguesa, mas a verdade é que o medo de ser feliz é algo universal.

Quantas vezes deu por si a olhar à sua volta e a pensar «O trabalho está a correr bem, a minha família tem saúde, os meus amigos são fantásticos, a minha relação está num momento tão bom... Que desgraça estará para acontecer?», estragando automaticamente um momento que poderia ser de felicidade e gratidão?

Boa parte deste processo está relacionado com a neurofisiologia do nosso cérebro. Nós estamos neurologicamente programados para reconhecer potenciais ameaças à nossa sobrevivência e responder em conformidade. É esta capacidade que nos salva quando prestamos atenção aos reais sinais de perigo e reagimos - lutando ou fugindo. Mas…

Aquilo que nos protege das ameaças verdadeiras também pode funcionar como uma armadilha e comprometer a nossa felicidade.


Se há algo que as pessoas mais otimistas têm em comum é o reconhecimento de que a realidade pode ser olhada de múltiplas formas. A história que nós contamos a nós próprios a propósito de um acontecimento que vivemos tem uma influência direta sobre a forma como nos sentimos.



Quando olhamos à nossa volta e nos sentimos
felizes com aquilo que temos, é possível que
o nosso cérebro nos trapaceie inundando-nos
de pensamentos negativos. Se prestarmos
atenção e identificarmos esses pensamentos
como PENSAMENTOS e não como ameaças
reais, é mais provável que consigamos estender
o sentimento de gratidão e que nos sintamos
genuinamente felizes, sem medo.



Uma das práticas que mais me tem ajudado, quer pessoalmente, quer no meu trabalho clínico, é a meditação Mindfulness. Quando paramos de propósito para meditar, estamos a dar ao nosso cérebro a possibilidade de se exercitar, tal como fazemos com o nosso corpo.

Ouço muitas vezes frases como «Eu não tenho jeito para meditar» ou «Eu não consigo meditar», que traduzem sobretudo desconhecimento e algumas ideias feitas sobre esta ferramenta terapêutica. A verdade é que a meditação mindfulness não tem nada de esotérico ou religioso e também não requer propriamente esforço ou alguma capacidade especial. Para meditar, basta que tiremos alguns minutos por dia (todos os dias) e que observemos o momento presente.

Partilho aqui uma meditação guiada, com a duração de 10 minutos, que pode fazer toda a diferença para quem procura acalmar a mente e eliminar os pensamentos negativos:





Lembro que é a prática regular que traz frutos. Da mesma maneira que precisamos de ir ao ginásio com regularidade para desenvolver os nossos músculos, é crucial que nos disciplinemos para trabalhar o “músculo” do cérebro.


Por outro lado, quando nos habituamos a fazer pausas com regularidade "apenas" para prestar atenção às coisas pelas quais nos sentimos genuinamente gratos, sentimo-nos invariavelmente mais felizes. Isto não tem nada a ver com "dourar a pílula", escondermo-nos dos problemas ou resignarmo-nos a uma vida sem ambição. Tem a ver, isso sim, com a possibilidade de nos permitirmos olhar para a realidade de forma objetiva, com atenção plena às coisas e às pessoas que valorizamos e com uma curiosidade gentil em relação aos sonhos que queremos conquistar.

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