A maior parte dos pais e mães esforçam-se para que não haja discussões à frente dos filhos, mas, na azáfama dos dias, nem sempre conseguem evitar que isso aconteça. Que impacto é que as discussões conjugais têm no bem-estar das crianças?
Ao contrário do que se possa
pensar, as discussões conjugais podem não ter um impacto negativo na vida das
crianças. Claro que nenhum filho gosta de assistir a um momento de tensão, mas
a verdade é que os conflitos, o sofrimento e a raiva fazem parte da vida.
Quando o pai e a mãe discutem, também estão a mostrar às crianças como é que se
deve exteriorizar estes sentimentos. Estão a mostrar-lhes, de forma prática,
que aquilo que cada um sente pode e deve ser exteriorizado. Ainda mais
importante do que isto, estão a mostrar que se importam com esses sentimentos.
Nem todas as discussões ficam
resolvidas no momento. Pelo contrário, às vezes ficamos magoados com aquilo que
é dito durante a discussão e/ou arrependemo-nos de algumas das coisas que
dissemos. Quando um dos membros do casal toma a iniciativa de pedir desculpa ou
faz outra tentativa de aproximação, os ânimos acalmam e a normalidade regressa.
Quando as crianças assistem com regularidade a estes ciclos, aprendem a dar voz
ao seu próprio sofrimento e à sua raiva com respeito pelo outro e aprendem a
fazer o que está ao seu alcance para fazer as pazes.
Por outro lado, é importante que
nos lembremos de que talvez não seja boa ideia darmos o nosso melhor no sentido
de escondermos todos os momentos de tensão, uma vez que as crianças são particularmente sensíveis às nossas flutuações de humor.
Qualquer criança de dois ou três anos é capaz de reconhecer quando estamos
tristes ou zangados. Se evitarmos expô-las a todos os conflitos, é provável que
elas se sintam mais alarmadas, com medo do que possa estar a ser ocultado.
Quando é que as discussões fazem mal às crianças?
Claro que nem todas as discussões
são oportunidades de ensinar alguma coisa às crianças. Na verdade, há
circunstâncias em que as discussões dos pais representam um perigo para a
estabilidade emocional dos filhos. Por exemplo, sempre que um ou os dois
membros do casal gritar de forma exacerbada com o outro, se houver insultos ou,
pelo contrário, o desprezo for evidenciado sob a forma de amuos ou do
“tratamento do silêncio”, as crianças sofrem de forma intensa e desnecessária.
Sempre que o comportamento dos
membros do casal traduza desrespeito, as crianças sofrem.
O impacto deste tipo de
discussões pode envolver:
Perturbações do sono
Perturbações do comportamento alimentar
Ansiedade
Depressão
Comportamentos desafiantes
Por outro lado, e mesmo que não
haja sinais de desrespeito, é importante que os membros do casal prestem
atenção à frequência e à intensidade das
discussões. Se as crianças se derem conta de que o pai e a mãe estão a
discutir de forma frequente e intensa, sentir-se-ão provavelmente muito
aflitas.
Esta aflição é ainda maior
quando, aos olhos das crianças, o pai e a mãe estão a discutir sobre elas ou por culpa delas. Nós sabemos que as
crianças não são responsáveis pelas brigas dos pais, mas é fundamental que
tenhamos especial atenção aos conflitos que girem à volta de assuntos
relacionados com os filhos. Quando o pai e a mãe discutem sobre o dinheiro que
tem de ser gasto com a escola ou com a roupa da criança, podem,
involuntariamente, criar a sensação de culpa e promover os níveis de ansiedade.
Quando nos mantemos atentos ao
estado emocional das crianças, é mais provável que façamos escolhas
conscientes, que nos ajudem a manter a felicidade familiar. Por um lado, isso
passa por prestar muita atenção à forma como discutimos e, por outro lado, por
manter uma postura de curiosidade genuína em relação aos sentimentos das
crianças. Oferecer-lhes a nossa autenticidade e o nosso conforto é um passo
importante para que se sintam seguras.