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18.6.19

AUTOCOMPAIXÃO


Autocompaixão

O que é a autocompaixão? Para que serve? Hoje escrevo sobre a ferramenta que tem revolucionado a intervenção em Psicoterapia e cujos resultados ultrapassam aqueles alcançados por programas promotores de autoestima.


Se pensarmos na forma como reagimos às adversidades das pessoas que amamos, deparamo-nos quase sempre com um elemento comum: quando percebemos que alguém de quem gostamos está a sofrer, respondemos com bondade e compreensão. Mesmo que saibamos que as dificuldades por que aquela pessoa está a passar foram, de alguma forma, provocadas por escolhas suas, escolhemos quase sempre dar colo antes de criticar. Porque é que nem sempre conseguimos fazer o mesmo quando somos nós que estamos a sofrer? Porque é que somos quase sempre muito mais autocríticos?





O nosso cérebro está programado para responder
às adversidades com hipervigilância. Essa é
uma das características que tem garantido a
sobrevivência da nossa espécie. Quando há
problemas, a nossa mente fica alerta, obrigando-nos
a reagir. Mas aquilo que, em muitos contextos,
funciona como um mecanismo de defesa,
também pode transformar-se num inimigo.



Na maior parte das vezes em que nos sentimos “mal”, precisamos sobretudo de alguém que nos diga que nos compreende e que nos conforte. Não precisamos de alguém que nos puxe (ainda mais) para baixo.


Quando nos damos conta de que um amigo está em sofrimento – porque perdeu o emprego, porque está em processo de divórcio ou porque acabou de sofrer um enfarte do miocárdio depois de anos de sedentarismo e maus hábitos alimentares -, apressamo-nos a responder com afeto. Não passamos a mão pela cabeça das pessoas de quem mais gostamos, nem mostramos a nossa pena. Mostramos que ele/ela tem o direito de se sentir “assim”, dizemos que estamos “lá” e que pode contar connosco. Na maioria das vezes, damos um abraço bem forte “só” para mostrar que estamos realmente solidários. Isto é COMPAIXÃO.

A AUTOCOMPAIXÃO consiste em tratarmo-nos exatamente com a mesma bondade e com a mesma compreensão com que trataríamos um bom amigo ou alguém de quem gostamos muito. Mas, para que sejamos bem-sucedidos e nos consigamos autoacalmar nas alturas desafiantes, precisamos de praticar.

PRATICAR A AUTOCOMPAIXÃO


As práticas de autocompaixão incluem três elementos:

1. O mindfulness;
2. a humanidade comum;
3. e a bondade.

 1. Mindfulness

Mindfulness tem sido traduzido para português como atenção plena ou consciência plena e consiste num conjunto de ferramentas que nos permitem treinar o nosso cérebro no sentido de conseguir estar genuinamente atento ao momento presente. A meditação mindfulness é extraordinariamente simples, mas requer que nos disciplinemos e pratiquemos diariamente para que colhamos frutos.

Quando começamos a praticar mindfulness, passamos a conseguir reconhecer mais claramente os nossos reais sentimentos e a dissocia-los da imensidão de pensamentos que quase sempre povoam a nossa mente. Precisamos desta clareza para conseguirmos responder com eficácia ao nosso sofrimento.


Ouço muitas vezes frases como «Eu não tenho jeito para meditar» ou «Eu não consigo meditar», que traduzem sobretudo desconhecimento e algumas ideias feitas sobre esta ferramenta terapêutica. A verdade é que a meditação mindfulness não tem nada de esotérico ou religioso e também não requer propriamente esforço ou alguma capacidade especial. Para meditar, basta que tiremos alguns minutos por dia (todos os dias) e que observemos o momento presente.

Partilho aqui uma meditação guiada, com a duração de 10 minutos, que pode fazer toda a diferença para quem procura acalmar a mente e eliminar os pensamentos negativos:





Lembro que é a prática regular que traz frutos. Da mesma maneira que precisamos de ir ao ginásio com regularidade para desenvolver os nossos músculos, é crucial que nos disciplinemos para trabalhar o “músculo” do cérebro.



2. Humanidade Comum

Muitas vezes, a propósito de alguns acontecimentos, dizemos a nós mesmos algumas coisas que nos deixam ainda mais deprimidos. Se, na sequência de uma separação, de um mau desempenho profissional ou da ansiedade antes de um exame inundarmos a nossa mente com pensamentos do tipo «Porque é que isto ME está a acontecer?», «Sou um(a) falhado» ou «O que é que as outras pessoas vão pensar de MIM?», o mais provável é que acrescentemos sofrimento desnecessário ao sofrimento original. Estas são frases que dificilmente dirigiríamos a alguém que amamos.

Pelo contrário, quando conseguimos reconhecer que o sofrimento faz parte da vida de TODOS os seres humanos, que TODAS as pessoas enfrentam dificuldades e inquietações, é mais provável que consigamos olhar para a realidade de forma objetiva e que sejamos capazes de arregaçar as mangas. Alguns acontecimentos são mesmo muito duros do ponto de vista emocional.



Quando mergulhamos no nosso sofrimento e
fazemos comparações com pessoas que estão à nossa
volta e que nos parecem muito mais felizes e em paz,
ignoramos o facto de também elas serem humanas e de,
em função disso, em determinada altura também
serem confrontadas com outras formas de sofrimento.



3. Bondade

Sempre que der por si a passar por uma experiência geradora de sentimentos de culpa, vergonha, tristeza ou medo, experimente fechar os olhos e imaginar como seria se alguém de quem gosta muito (imagine uma pessoa específica) estivesse no seu lugar. O que é que lhe diria? Que palavras utilizaria? Que tom de voz usaria? Experimente dirigir essas palavras na sua própria direção – com bondade e empatia. Se puder, coloque a mão no peito, perto do coração. Sinta o calor da sua mão e canalize o seu genuíno afeto na sua direção.

A prática de autocompaixão pode parecer-lhe “estranha” e, pelo menos numa fase incial, é natural que se sinta desconfortável com a ideia de dizer “coisas bonitas” a si mesmo(a). É natural. Muitos de nós não estamos habituados a tratar-nos com a bondade e a compreensão com que tratamos as outras pessoas. Não desista. Continue a praticar, inspire-se nalguns vídeos (recomendo os da investigadora Kristin Neff) e usufrua desta poderosa ferramenta.

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