O divórcio é uma perda gigantesca para todos os membros da família. Os adultos têm de lidar com sentimentos intensos de tristeza, medo, culpa, raiva e vergonha. Como se isso não fosse bastante, esta é precisamente a altura em que o mundo espera que sejam os melhores pais e mães que possam ser. Quais são as escolhas que podem ajudar a concretizar um divórcio emocionalmente inteligente para os filhos?
Passo mais tempo a “salvar”
casamentos do que a ajudar alguém a divorciar-se, mas há cada vez mais pessoas
que me pedem ajuda na sequência de um processo de divórcio. Quase todos os pais
e mães que me procuram trazem a intenção de garantir que as suas escolhas
garantam que os interesses dos filhos sejam salvaguardados. É praticamente
impossível passar por um divórcio sem alguma dose de sofrimento, MAS há
escolhas que podem fazer com que passados vinte ou trinta anos os pais e mães
se sintam orgulhosos do caminho que fizeram. Na prática, se o pai e a mãe se
comprometerem e reconhecerem os direitos dos filhos, eles podem continuar a
desenvolver-se do ponto de vista emocional de forma tão saudável quanto
aconteceria numa família tradicional.
AO LONGO DO DIVÓRCIO OS FILHOS TÊM O DIREITO DE…
#1: SABER QUE NÃO TÊM CULPA
Pode parecer óbvio, sobretudo se
os pais estiverem empenhados em proteger os interesses dos filhos, mas a
verdade é que as crianças facilmente fantasiam a propósito da sua
responsabilidade quando há uma separação. Se os pais já tiveram discussões –
normais – a respeito da educação ou dos gastos com os filhos, há alguma
probabilidade de as crianças imaginarem que possam ter contribuído para a
separação. Os adolescentes tendem muitas vezes a sentir-se culpados por não
conseguirem amparar os pais na medida certa e/ou por não conseguirem evitar que
eles se zangassem.
Por tudo isto e muito mais, é
fundamental que os pais procurem transmitir de forma clara, inequívoca, que os
filhos não têm NENHUMA responsabilidade sobre o processo de separação. E é
fundamental que esta informação seja repetida várias vezes – antes, durante e
depois do divórcio.
#2: SABER O QUE VAI ACONTECER
O divórcio representa um conjunto
de perdas, que por sua vez trazem instabilidade e insegurança. Os filhos
sentem-se mais amparados e seguros se souberem onde vão viver, com quem, quando
é que vão poder estar com cada um dos progenitores, em que escola vão estudar e
que outras mudanças terão de enfrentar. Isto NÃO significa que os pais tenham
de ter todas as respostas no momento em que comunicam que se vão separar.
Precisam, isso sim, de assumir que serão capazes de resolver cada questão a
dois, tendo a intenção de proteger os interesses dos filhos, e de transmitir
cada decisão à medida que elas sejam tomadas.
#3: SEREM ESCUTADOS E CONFORTADOS
Não há volta a dar: os filhos
sofrem com a separação dos pais e, em muitos casos, choram. Para os pais, pode
ser tentador oferecer-lhes oportunidades de se divertirem e distraírem desta
tristeza ou ainda esforçarem-se para reconhecer o lado positivo da mudança. Por
exemplo, é comum ouvi-los dizer coisas como «Agora vais ter dois quartos» ou
«Vais ter brinquedos a duplicar». Mas, tal como acontece com os adultos, a
tristeza das crianças precisa de ser vivida e exteriorizada. Os filhos até
podem perceber o desconforto dos pais em relação à sua tristeza e fazer
esforços para a conter. Isso não significa que não a sintam. Significa apenas
que estão a fazer o que podem para proteger os pais. Não é isso que a maior
parte dos pais e mães desejam.
Dar oportunidade aos filhos para
falarem sobre os seus sentimentos, dar colo e estar “lá” sem tentar disfarçar a
tristeza é essencial para garantir que se sintam amparados. Muitas vezes este
papel acaba por ser desempenhado por outros adultos, com quem as crianças se
sintam livres para expressar tudo o que sentem.
#4: SEREM POUPADOS AOS CONFLITOS
É natural que uma separação
esteja envolvida em níveis elevados de tensão. Nem sempre é fácil impedir que
os filhos assistam a discussões acesas entre o pai e a mãe. Mas os pais podem
fazer o que estiver ao seu alcance para não envolver os filhos nas suas
discussões. A última coisa que deve acontecer é que algum dos adultos procure
que os filhos lhe atribua razão e/ou se coloque contra o outro progenitor.
Os filhos precisam de sentir que
há uma diferenciação clara entre o papel conjugal e o papel parental e que o
pai e a mãe continuam a fazer o que é possível para que os problemas dos
adultos sejam geridos pelos adultos.
#5: NÃO CONHECER OS DETALHES DA SEPARAÇÃO
Na medida em que haja feridas
profundas, associadas a uma traição ou à sensação de abandono, pode ser
tentador dizer “a verdade” aos filhos e, assim, conseguir a sua solidariedade,
mas esta pode ser uma forma de violência. Independentemente do que aconteça à
relação conjugal, o pai e a mãe continuarão a ser figuras de referência para os
filhos e os detalhes da separação só acrescentam mágoa.
#6: NÃO SEREM OBRIGADOS A ESCOLHER UM PROGENITOR
Na maior parte das vezes, os pais
e as mães estão genuinamente bem-intencionados. Mesmo quando defendem que as
crianças fiquem sob a sua guarda total, fazem-no porque acreditam que essa
seria a melhor opção. Às vezes, os pais procuram conhecer a opinião dos filhos
com a genuína vontade de perceber o que é melhor para eles. Mas uma coisa é
pedir a opinião a um(a) filho(a) adolescente sobre a casa onde gostaria de
viver e lembrar que a decisão tem de ser tomada pelos adultos. Outra, bem
diferente, é pressionar a criança (ou o adolescente) para que escolha um
progenitor em detrimento do outro.
#7: NÃO SERVIR DE CORREIO
Quando há tensão, é natural que a
vontade de encarar o outro progenitor seja praticamente inexistente, mas quando
há filhos há sempre assuntos para tratar. Pode parecer mais simples enviar
alguns recados através dos filhos, sobretudo se se tratar de assuntos
relacionados com eles, mas, de uma maneira geral, os filhos sentem-se
desconfortáveis neste papel. Felizmente, na maioria das vezes acabam por ser
muito claros respondendo a estes pedidos com frases como «Trata tu disso». Os
pais podem encarar estas respostas como uma forma de rebeldia, mas a verdade é
que compete aos adultos encontrar formas de comunicar sem envolver as crianças.
O e-mail e as SMS são uma boa alternativa.
#8: MANTER CONVERSAS PRIVADAS COM CADA PROGENITOR
Alguns pais e mães sentem muita
curiosidade em relação ao tempo que as crianças passam com o outro progenitor. Nalguns
casos, há medo do que ele(a) possa dizer, noutros há sobretudo um
braço-de-ferro que ainda não terminou. Independentemente daquilo que esteja por
detrás dessa curiosidade, é fundamental que os filhos sejam tratados com
respeito e isso também deve implicar o direito a não falar sobre aquilo que é
conversado com o outro progenitor – seja quando estão noutra casa, seja quando
falam ao telefone. A última coisa de que os filhos precisam é de serem
interrogados e forçados a partilhar informações que os façam sentir
desconfortáveis.
#9: NÃO SEREM FORÇADOS A MENTIR
À medida que a tensão sobe, é
cada vez mais difícil olhar para a realidade com objetividade e serenidade.
Quando a mágoa cresce, é possível que cada um dos progenitores olhe para o
outro com ressentimento e com a crença de que ele(a) não merece ter a guarda dos
filhos. Pior do que isso, nalguns casos a mágoa é tão grande que a intenção é castigar
o outro progenitor. Infelizmente, algumas crianças são forçadas a mentir com
este propósito. Esta é uma forma de violência que pode deixar marcas
irreparáveis.
É importante relembrar que os
filhos são mais saudáveis quando têm a oportunidade de continuar a desenvolver
um vínculo estável e saudável com os dois progenitores.
#10: CONTINUAR A RELACIONAR-SE COM A FAMÍLIA ALARGADA
Independentemente do que aconteça
ao casal, aos olhos das crianças, os avós vão continuar a ser avós, os tios vão
continuar a ser tios, os primos vão continuar a ser primos. E cada uma destas
pessoas é uma fonte de afeto e segurança para as crianças. Retirar-lhes a
possibilidade de se relacionarem com alguns membros da SUA família também é uma
forma de violência. O divórcio implica um conjunto de perdas inevitáveis. Não faz
sentido que haja ainda mais.
#11: SABER DA EXISTÊNCIA DE NOVOS PARCEIROS
O segredo é sempre tóxico. Quando
as crianças suspeitam que há alguma coisa que lhes esteja a ser ocultada,
sentem-se mais inseguras. A confiança na relação com o pai e com a mãe também
vai depender da capacidade de manter uma postura de genuína honestidade. É
compreensível que os adultos não queiram precipitar-se, apresentando à criança
um(a) novo(a) namorado(a) e arriscando que a relação termine e a criança seja
exposta a mais uma perda, MAS é ainda menos desejável que um(a) filho(a) tenha
de lidar sozinho(a) com todos os medos que invariavelmente surgem com esta
suspeita.