No caso dos filhos de pais separados, é preferível que as férias com cada progenitor sejam curtas ou prolongadas? O que é que cada adulto pode fazer para evitar que haja conflitos e para que os dois lados saiam a ganhar? Esta é uma boa altura para introduzir um(a) novo(a) namorado(a)? E se os filhos se recusarem a ir de férias com um dos progenitores?
As tão desejadas férias de
verão podem implicar algum stress para as famílias, especialmente depois de um
divórcio ou de uma separação. Às dificuldades habituais relacionadas com a
escassez de recursos para manter as crianças ocupadas e protegidas enquanto os
pais trabalham junta-se a necessidade de conjugar expectativas e de comunicar
de forma eficaz. Hoje partilho algumas dicas que podem ajudar a viver esta
época sem stress.
Férias curtas ou prolongadas?
A maior parte de nós ambiciona
poder parar pelo menos duas ou três semanas e, assim, repor energias para mais
uma jornada profissional. Além disso, depois do divórcio, e independentemente
do formato da guarda escolhido, todos os pais e mães têm de conviver com a
inevitabilidade de não terem os seus filhos sempre por perto. A ideia de umas
férias prolongadas permite sonhar com a possibilidade de estar mais tempo com
os filhos e, assim, recarregar o mealheiro de afetos. Mas, como em tudo o que
diga respeito às decisões após o divórcio, o mais importante é que cada adulto
consiga focar-se naquilo que é o melhor para os filhos. De uma maneira geral,
um longo período de férias com os filhos implica que eles estejam demasiado
tempo sem poder estar com o outro progenitor e isso pode trazer a sensação de
desamparo ou abandono, especialmente se se tratar de crianças pequenas.
Gerir as expectativas
Todos criamos expectativas em
relação às férias. É natural, é humano. Independentemente do nosso contexto,
sonhamos com a possibilidade de descansar e, ao mesmo tempo, concretizar todos
os planos que, de um modo geral, vamos adiando por falta de tempo no resto do
ano. Além disso, idealizamos um período de paz e harmonia, sem stress ou
discussões. Mas as férias também são uma porta para tudo o que ficou
“desarrumado” e acumulado ao longo do ano. Talvez seja por isso que há tantas
separações depois das férias. É que naquelas semanas não estamos mergulhados em
trabalho, não temos como não prestar atenção à nossa realidade.
No ramerrame do resto do ano nem
sempre há tempo para reparar nas necessidades que ficam por preencher,
especialmente nos filhos de pais separados. A paragem das férias pode obrigar a
um confronto difícil mas necessário. Se os planos para as férias incluírem a
genuína intenção de aproveitar para conhecer ainda melhor as necessidades dos
filhos, é mais provável que possam ser refeitos de maneira a contribuir para o
bem-estar de todos.
Negociar com o outro progenitor
Independentemente da forma como a
relação acaba, é natural que haja a necessidade de gerir a própria vida sem dar
satisfações à pessoa com quem deixou de viver. Mas, quando há filhos, essa pode
não ser uma boa ideia. Se um dos progenitores decidir marcar férias para um
determinado período sem avisar o outro, pode estragar-lhe os planos e trazer
stress desnecessário. É possível que ambos estejam habituados a tirar férias na
mesma altura e é humano que mantenham o desejo de dar continuidade a essa
tradição. No meio de tantas perdas, este pode ser um aspeto difícil de abdicar.
Mas, de novo, o mais importante tem de ser o bem-estar dos filhos. E aquilo de
que os filhos precisam é de ver os dois progenitores felizes.
Se os
pais optarem por sentar-se para conversar
e negociar com antecedência, é mais
provável
que alcancem consensos importantes. Por exemplo,
se ambos gostam da
ideia de ter férias num
determinado período, talvez possam concordar
em
alternar anualmente. Assim, todos ganham,
ainda que ambos tenham de ceder.
Outra questão importante a ter em
conta está relacionada com a proximidade dos dois períodos de férias. Talvez
não seja boa ideia marcar férias “em cima” do período escolhido pelo outro
progenitor. Assim, se houver atrasos ou imprevistos, há tempo e disponibilidade
para gerir os acontecimentos sem atrapalhar os planos do outro lado da família.
Presença de novos companheiros
As férias também são muitas vezes
aproveitadas para introduzir, de forma mais oficial, um(a) novo(a)
companheiro(a) na vida dos filhos. A ideia de muitos pais e mães é aproveitar
este período de menos stress e de maior convívio para criar laços. Mas isso
pode implicar obrigar os filhos a passar demasiado tempo com alguém com quem
ainda não construíram um laço afetivo. De uma maneira geral, as crianças e
adolescentes precisam de tempo para se habituarem à ideia de o pai ou a mãe ter
um(a) novo(a) namorado(a), pelo que é preferível deixar as férias românticas
para o período em que os filhos estiverem com o outro progenitor. Além disso,
os filhos ambicionam passar tempo de qualidade com os pais, ambicionam receber
a sua atenção exclusiva e tenderão a sentir-se frustrados se tiverem de partilhar
este período com outra pessoa a quem o pai/a mãe terá de prestar muita atenção.
E se os filhos não quiserem ir?
Alguns pais e mães são
confrontados com o facto de os filhos recusarem ir de férias com o outro
progenitor e interrogam-se sobre a melhor alternativa. Devem obriga-los a ir?
Ou será preferível ceder? Não há uma resposta que sirva para todos os casos. De
novo, aquilo que importa é olhar para a questão com abertura e curiosidade. Se
aquilo que está em causa é, sobretudo, uma questão de disparidade em relação às
condições que cada um dos progenitores tem para oferecer, é melhor incentivar a
criança a ir e, assim, fazer o que estiver ao seu alcance para promover o
vínculo com o outro progenitor. Na prática, nenhum pai ou mãe cede a todas as
vontades dos filhos. Sabemos que as crianças têm de comer frutas e vegetais
porque é o melhor para elas, mas não estamos à espera de que gostem.
Se houver a suspeita de que a
criança não se sente segura quando está com o outro progenitor, é importante
que o pai e a mãe possam tentar conversar para identificar os medos e as
alternativas que melhor se adequem à realidade.
Oportunidade para fazer o que quer
A ideia de passar (ainda mais)
tempo sem os filhos pode ser muito angustiante. As saudades são inevitáveis,
mas podem ser geridas de forma emocionalmente inteligente. Em primeiro lugar,
esta é a oportunidade de reconhecer quão bom/boa pai/ mãe está a ser. Ao
facilitar, sem levantar ondas, o contacto dos seus filhos com o outro
progenitor, está a tomar uma decisão que garanta o bem-estar dos filhos e,
daqui a vinte anos, orgulhar-se-á de o ter feito. Por outro lado, esta também é
a oportunidade de colocar em marcha todas as atividades e projetos que foi
adiando por falta de tempo para si. Faça aquele workshop com que anda a sonhar,
passe um dia inteiro a ver as suas séries preferidas sem culpas ou aproveite para
sair à noite. Quanto mais investir na sua lista de desejos, mais revigorado(a)
se vai sentir quando voltar a ter os seus filhos consigo.