O que é o burnout parental? E
porque é que afeta mais mulheres do que homens? No post de hoje partilho
algumas dicas que espero que possam ajudar a prevenir e/ou a lidar com esta
situação.
São indiscutivelmente mais
mulheres do que homens que me pedem ajuda na sequência de um estado de exaustão
relacionado com o exercício da parentalidade. Por um lado, isso está
relacionado com o facto de acumularem mais responsabilidades relacionadas com a
casa e com os filhos sem deixarem de investir nas respetivas carreiras. Por
outro lado, está relacionado com a exigência que colocamos sobre nós mesmas e
sobre as mulheres à nossa volta. Somos invariavelmente mais exigentes com as
mulheres do que com os homens.
O que é o burnout parental?
O burnout (parental) pode ser
caracterizado por um conjunto de sintomas que traduzem um estado de exaustão e
que vão desde o cansaço extremo, à irritabilidade constante, perturbações do
sono, depressão, ansiedade e impossibilidade de sentir prazer associado ao
exercício da parentalidade.
Nem todas as mães mostram os
mesmos sintomas e, em função da pressão de que falei antes, é comum que as
mulheres guardem para si os próprios sentimentos e que, pelo menos durante
algum tempo, tudo pareça “normal”. Mas o burnout é um assunto sério, que merece
ser tratado de maneira a que as famílias possam continuar a crescer em genuína
harmonia.
O que é que pode ser feito em
relação ao burnout das mães?
Se houver um quadro depressivo/
ansioso, o melhor é pedir ajuda especializada. Ninguém merece passar por isto
sem ajuda. Paralelamente, há um conjunto de dicas que podem ajudar a prevenir
e/ou a lidar com esta realidade:
#1: TEMPO PARA DESCANSAR
É muuuuito mais fácil falar do
que fazer. A verdade é que muitas famílias não dispõem de uma rede de suporte
que lhes permita usufruir de uma ou outra noite sem filhos e muito menos de
tempo para sair e descomprimir. A cada família compete olhar para a realidade e
identificar os recursos que existem. Às vezes, aquilo que é possível fazer é
redistribuir as responsabilidades domésticas e familiares. Não me refiro apenas
a delegar no marido mais tarefas domésticas.
Conversar, com abertura e
curiosidade, sobre a melhor forma de fazer esta redistribuição pode trazer
muito amparo.
Por outro lado, é importante
aprender a deixar cair algumas expectativas e aceitar que, para que haja saúde
mental e harmonia familiar, é preferível deixar algumas coisas por fazer. Quase
todas as mães idealizam um ambiente familiar perfeito, que inclui crianças
sempre limpas, cheirosas e bem vestidas e a casa impecavelmente limpa. A realidade
pode ser dura de aceitar, mas é infinitamente mais provável que consigamos
sentir-nos felizes e gratos por aquilo que temos se aprendermos a dosear
expectativas e a fazer escolhas que nos permitam descansar o mínimo
indispensável.
#2: TRAVAR SENTIMENTOS DE CULPA
Muitas mulheres alimentam
sentimentos de culpa a propósito de não estarem a conseguir ser as mães que
esperavam ser e /ou as mães que acham que os outros esperavam que elas fossem.
Como referi antes, gerir as expectativas é essencial. Todos sabemos que não há
famílias perfeitas nem mães perfeitas, mas, quando olhamos para o lado,
sobretudo para as revistas e para as redes sociais, somos inundados de imagens
que nos mostram que, afinal, a perfeição talvez exista.
A verdade é que os exercícios de
comparação são sempre inúteis e danosos. Quando nos comparamos com outras mães,
esquecemo-nos de que, quer se trate de uma figura pública ou da nossa vizinha,
a realidade dos outros é sempre diferente da nossa. Os recursos podem ser
diferentes, as crianças são diferentes e cada pessoa tem o direito aos próprios
sentimentos e às próprias necessidades. A experiência mostra-me que, além de
tudo isto, aquilo que observamos de fora é sempre uma pequenina parte da
realidade de cada família. Só as pessoas que convivem diariamente dentro da
mesma casa sabem o que lá se passa. Por muito que pensemos o contrário,
estamos longe de conhecer os desafios e as dificuldades dos outros. Quando nos
comparamos com outras realidades estamos a exercer pressão desnecessária sobre
os nossos ombros e a alimentar sentimentos de culpa que nos impedirão de sermos
as melhores mães que podemos ser.
#3: ACEITAR E PEDIR AJUDA
Não é fácil pedir ajuda,
especialmente no que se refira aos nossos filhos. É natural que queiramos ser
nós a fazer praticamente tudo e que nos sintamos frustradas por não
conseguirmos.
Pelo contrário, pedir ou aceitar
essa ajuda é um sinal de respeito por nós e um sinal de inteligência emocional.
Nenhuma mulher é pior mãe por aceitar que a sogra faça algumas refeições que
possam ser congeladas, especialmente se isso permitir que a mãe esteja
emocionalmente mais disponível para os seus filhos do que estaria noutras
circunstâncias. O mesmo acontece em relação à possibilidade de um familiar ou
amigo ficar com as crianças para que a mãe possa sair um par de horas e recarregar
baterias.
#4: PRESTAR ATENÇÃO AOS
SENTIMENTOS
A exaustão pode estar “lá”, mas
nem todas as mulheres escolhem prestar a devida atenção aos próprios
sentimentos. A verdade é que deste reconhecimento tem de surgir a
inevitabilidade de se efetuar mudanças. Se a mãe estiver exausta, alguma
coisa tem mesmo de mudar. E isso pode implicar que a família tenha de sair
da sua zona de conforto. Não vale a pena adiar o confronto com a realidade e
dizer incessantemente – a si e aos outros – que “está tudo bem”. Quanto mais
depressa encarar a realidade como ela é, mais rapidamente recuperará o seu
bem-estar.
#5: DEIXAR AS CRIANÇAS SEREM
CRIANÇAS
Voltamos às expectativas: num
mundo ideal as crianças não fariam birras, muito menos em lugares públicos, mas
quase todos os pais e mães sabem que essa não é a realidade. As crianças choram
– umas mais do que outras –, fazem birras e, em algumas alturas, isso pode ser
extenuante. Mas não vale a pena lutar com a realidade ou alimentar sentimentos
de pena em relação a si mesma. Quanto maior for a sua (auto)compaixão, quanto
maior for a sua compreensão em relação a uma parte da parentalidade que é
geradora de tensão, maior será a probabilidade de você conseguir reagir com
serenidade a estes momentos difíceis.
Deixar as crianças serem crianças
também passa por aceitar que a sua casa não é um museu nem tem de estar sempre
imaculada, pronta para ser fotografada para uma revista. A sua família não é a
tropa e quanto mais você conseguir relaxar e aceitar que esta é uma fase (que
vai passar), mais provavelmente vai conseguir aproveitar a infância dos seus
filhos sem stress desnecessário.