Há escolhas que podem fazer toda a diferença numa relação. Se permitirmos, a rotina e alguns (maus) hábitos podem roubar a vivacidade e o romantismo com que sempre sonhámos. Mas, se prestarmos atenção a alguns detalhes, se nos disciplinarmos e fizermos escolhas emocionalmente inteligentes, é mais provável que nos sintamos felizes e gratos pela pessoa que temos ao nosso lado.
Quais são os aspetos que os
casais mais felizes têm em comum? Que escolhas é que eles fazem e que os ajudam
a retirar mais satisfação da relação amorosa, mesmo depois de vinte ou trinta
anos de vida em comum?
#1: GRATIDÃO
Ao fim de algum tempo,
descobrimos que a pessoa por quem nos apaixonámos não é perfeita. Tem um
conjunto de defeitos irritantes que não vão desaparecer, tem alguns hábitos que
mexem connosco (e não é pela positiva). É tentador fazer uma caça ao erro e
estar sistematicamente a apontar o dedo. Às vezes são coisas pequeninas e que
achamos que vale a pena referir para desencadear a mudança. Mas, no final do
dia, é fácil perdermo-nos nas críticas e não prestarmos muita atenção às coisas
boas.
Os casais mais felizes cultivam o
hábito de reparar nos gestos mais positivos e escolhem não dar relevo às tais
pequenas coisas mais irritantes. É mesmo uma questão de escolha. Quando
procuramos prestar atenção e verbalizar o nosso apreço por cada gesto que
traduza o apoio de que precisamos, a gargalhada que nos ajuda a enfrentar os
dias mais difíceis ou o afeto que dá cor à nossa vida, somos mais felizes.
É mais fácil olhar para estes
gestos como “obrigações”, sobretudo se estivermos habituados a dar de nós.
Quando cultivamos a gratidão, não nos limitamos a elogiar a pessoa que está ao
nosso lado. Cultivamos o nosso apreço, sentimos genuinamente mais ligados e
olhamos para a realidade de forma mais serena e objetiva.
#2: CURIOSIDADE
GENUÍNA
Toda a gente acha que conhece bem
a pessoa que está ao seu lado. Pelo menos, ao fim de alguns anos. Mas as nossas
certezas podem funcionar como filtros que nos impedem de olhar para a pessoa
que amamos de forma realista. Cada um de nós vai mudando ao longo do tempo. Todos
os dias há acontecimentos novos, todos os dias sentimos coisas diferentes e
todos os dias precisamos de sentir que há alguém que se interessa, que quer
saber, que está “lá”.
Quando adotamos – de forma
intencional – uma postura de curiosidade genuína -, escolhemos colocar mais
perguntas. Colocamo-las com a verdadeira vontade de saber como é que o outro
está, o que é que mexe com ele(a). Por exemplo, no final do dia, quando
perguntamos «Como foi o teu dia?» e prestamos MESMO atenção à resposta,
mostramos que nos importamos. Quando a pessoa de quem gostamos nos conta um
episódio em que alguma coisa correu mal e, em vez de nos apressarmos a fazer
juízos de valor («Já sabia», «É sempre a mesma coisa») e a apontar o dedo,
ele(a) sente-se só, desconectado(a). Mas quando colocamos perguntas que nos
ajudem a colocar na posição da outra pessoa, a entender aquilo por que está a
passar, é mais provável que nos sintamos ligados.
Não é uma questão de nos
anularmos nem de passarmos a mão pela cabeça do outro sempre que ele(a) erra. É
uma questão de ”querer saber” em vez de “querer julgar”.
#3: LEVEZA
Para alguns casais, sobretudo
quando há filhos, o dia-a-dia pode tornar-se demasiado pesado. A páginas tantas,
podemos sentir que a única coisa que temos em comum é a gestão das
responsabilidades domésticas. Uma relação é tão mais feliz e coesa na medida em
que escolhamos encontrar tempo para a diversão, para o namoro. As saídas a dois
em que possamos relaxar, rir, dançar ou simplesmente ter conversas de adultos
que não envolvam a resolução de problemas são essenciais para que continuemos a
sentir-nos vivos no relacionamento.
Mas mesmo quando as saídas a dois
escasseiam, sobretudo pela falta de uma rede de suporte, é possível criar
momentos de descontração.
Há rituais que nos
ajudam a sentir mais ligados
e relaxados: ver uma série de televisão a dois,
jantar sem os filhos, planear as férias, desconectarmo-nos
do trabalho e das
redes sociais e fazer programas
em família que não estejam apenas focados no
interesse dos filhos são alguns exemplos.
#4: HONESTIDADE
A mentira é um veneno para
qualquer relação. Faz-nos sentir inseguros, faz com que não consigamos dar o melhor
de nós. Mas quando me refiro à honestidade, refiro-me a algo mais profundo do
que não mentir de forma grosseira ou desleal. Refiro-me à possibilidade de
escolhermos revelar-nos por inteiro. Quando damos a conhecer aquilo que mexe
connosco, sem medos, e percebemos que a pessoa que está ao nosso lado continua
a amar-nos, sentimo-nos invariavelmente mais fortes e mais ligados.
Revelar os nossos sonhos e aquilo
que nos entusiasma pode parecer fácil, mas, na prática, nem sempre o é.
Sobretudo se alguns desses sonhos colidirem com os sonhos da outra pessoa ou
implicarem que a família saia da sua zona de conforto. Mas a verdade é que se
nós não nos revelarmos exatamente como nós somos vamos acabar por acumular
frustração e ressentimento.
Por outro lado, é fundamental que
consigamos falar abertamente sobre aquilo que nos desagrada, sem ocultar nada,
sem mascarar sentimentos. Só assim podemos dar oportunidade à outra pessoa de
mudar o que for possível mudar e de mostrar que se importa connosco. Só assim
poderemos sentir-nos genuinamente felizes.
#5: ABERTURA
Ao fim de vinte ou trinta anos,
ninguém é exatamente a mesma pessoa. Nós vamos mudando, vamos evoluindo. Os
nossos gostos mudam, os nossos hábitos mudam e às vezes alguns dos nossos
valores também. Nem sempre é fácil aceitar as mudanças da pessoa que está ao
nosso lado. Às vezes, essas mudanças podem obrigar-nos a sair da nossa zona de
conforto. Mas essa é a única forma de continuarmos felizes ao lado daquela
pessoa.
Há quem diga que, no futuro, cada
um de nós terá de certeza dois ou três casamentos. Alguns de nós teremos o
privilégio de viver dois ou três casamentos com a mesma pessoa. Se escolhermos
manter-nos presos ao passado, às características que nos atraíram no início e
não houver abertura para a novidade, para a mudança, a relação pode estar
condenada.
#6: AFETO
Podemos viver (algum tempo) sem
sexo. Podemos viver algum tempo mergulhados nos problemas e desafios sem muita
disponibilidade para conversas profundas e demoradas. Mas precisamos de ser
tocados, precisamos de sentir que a pessoa que está ao nosso lado é capaz de
mostrar o seu amor desta forma.
E, mesmo nas alturas de maior
stress, é possível cultivar hábitos saudáveis. Por exemplo, se, em vez dos
beijinhos apressados de manhã e à noite trocarmos um beijo de seis segundos,
sentir-nos-emos mais felizes, mais ligados e, na prática, só gastámos seis
segundos de cada vez.
#7: RESPEITO
Há quem fuja a sete pés das
discussões, mas as discussões são normais e saudáveis. Ou, pelo menos, podem
ser. Quando discutimos, mostramos aquilo que nos desagrada, revelamo-nos e
temos a oportunidade de mostrar que nos importamos com o que o outro sente. Mas
se o fizermos “à bruta”, corremos mais riscos. Pelo contrário, quando assumimos
a intenção de respeitar sempre a pessoa que amamos, mesmo quando discutimos, é
mais provável que façamos escolhas que nos protejam, que nos mantenham ligados.
Isso pode passar por reconhecer que estamos demasiado enervados e precisamos de
fazer um “time out” para não dizermos disparates, estamos a proteger a relação.
Por outro lado, esta intenção
pode levar-nos a olhar com mais atenção para os apelos da pessoa que está ao
nosso lado. Nem sempre teremos a disponibilidade emocional para ouvir todas as
conversas ou para dizer “sim” ao que nos é pedido. Mas se escolhermos tratar a
outra pessoa com todo o nosso respeito, não vamos revirar os olhos quando
ele(a) se referir a assuntos que não nos interessam nem vamos mostrar desprezo
de forma alguma. Vamos saber dizer “não” centrando-nos nas nossas emoções e
tratando a outra pessoa com a bondade que merece.