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31.7.19

COMO RECUPERAR A CONFIANÇA DEPOIS DE UMA TRAIÇÃO


Recuperar a confiança depois de uma traição

Como é que se reconstrói a confiança depois de uma traição? O que é que a pessoa que traiu pode fazer para ajudar a pessoa traída a voltar a confiar? E o que é que não deve (mesmo) ser feito?


A infidelidade continua a ser um dos motivos pelos quais muitos casais recorrem à ajuda da terapia conjugal. Não é por acaso: por um lado, este é um dos maiores terramotos por que uma relação pode passar e, por outro, mesmo quando ainda há amor e vontade de reconstruir a ligação, nem sempre é fácil identificar aquilo que cada um pode fazer.

Oiço muitas vezes as pessoas que traíram referirem-se à sensação de impotência depois da infidelidade. Sentem genuína vontade de ajudar o(a) companheiro(a), mas os seus esforços nem sempre dão os frutos desejados. Hoje partilho algumas sugestões que podem ajudar a restabelecer a confiança.



#1:
TEMPO

Há boas e más notícias referentes à reconstrução da relação depois de uma traição. A boa notícia é que é possível recuperar a confiança e (voltar a) ter uma relação geradora de satisfação, alegria e cumplicidade. A má notícia é que isso dá trabalho e leva tempo.

É compreensível que duas pessoas que se amam queiram ultrapassar uma crise rapidamente, mas, como em quase tudo o que envolva perdas, é preciso tempo para que as emoções sejam geridas e o luto seja feito.

Quando há uma infidelidade – seja um caso de uma noite ou uma relação de alguns meses -, há uma ferida por sarar. Para a esmagadora maioria das pessoas, isso envolve algum tempo. É fundamental que a pessoa que traiu possa ser paciente e respeitar esse tempo.


#2:
FALAR ABERTAMENTE

Há quem tenha vontade de “colocar uma pedra sobre o assunto”, sobretudo com a intenção de evitar que o sofrimento se prolongue, mas não é assim que a confiança é recuperada. De um modo geral, para que voltemos a confiar e a sentir-nos seguros, precisamos da certeza de que a pessoa que está ao nosso lado se importa com o nosso sofrimento. Se ele(a) não quiser ouvir-nos, se não quiser responder a todas as nossas dúvidas, o mais provável é que nos sintamos desamparados.

A pessoa que traiu pode tentar assumir uma postura de genuína compaixão, procurando responder a todas as perguntas com clareza e honestidade. Quanto mais abertamente conseguir falar sobre o que aconteceu e sobre os próprios sentimentos, mais provavelmente a relação poderá ser recuperada.

Nesse processo, é crucial que se defina alguns limites. Uma coisa é responder com clareza e honestidade a questões que permitam que o(a) companheiro(a) se sinta mais seguro(a) e outra, bem diferente, é partilhar detalhes mais ou menos sórdidos que só acrescentam sofrimento desnecessário. Um dos exercícios que costumo propor é que a pessoa que foi traída possa elaborar uma lista de todas as dúvidas que (ainda) tem acerca do que aconteceu para que possamos, em terapia, avaliar até que ponto é que algumas destas questões devem ou não ser colocadas.

#3:
COMPROMISSO COM A TRANSPARÊNCIA

Um dos passos que a pessoa que traiu pode dar para o restabelecimento da confiança passa por fazer o que estiver ao seu alcance para evitar equívocos que alimentem a insegurança do(a) companheiro(a). Trata-se de telefonar sempre que disser que vai telefonar, chegar a casa à hora a que disse que chegaria e responder às dúvidas que possam existir.

Para a pessoa que foi traída, quase tudo pode passar a ser um sinal de alarme e de intranquilidade, pelo que é muito importante que haja um compromisso sério com a transparência.

Não se trata de nenhuma condenação. A infidelidade não pode funcionar como uma justificação para quaisquer tentativas de controlo, faltas de respeito ou comportamentos abusivos.

Por outro lado, é fundamental que a aflição e a vontade de manter a relação não permita que a pessoa que traiu faça promessas que vão contra a sua própria dignidade ou que traduzam falta de respeito por si mesma.

#4:
DAR ESPAÇO PARA A EXTERIORIZAÇÃO DOS SENTIMENTOS

Raiva, medo, tristeza. De uma maneira geral, a infidelidade é geradora de sentimentos intensos. Se esses sentimentos não forem exteriorizados, a pessoa que foi traída acabará por sentir-se sufocada, ansiosa e incapaz de voltar a confiar.

Oiço muitas vezes a queixa de que a pessoa que traiu não quer voltar a ouvir falar sobre o assunto, mas a verdade é que dizer «Isso é passado, vamos olhar para o futuro» é a última coisa de que uma relação nestas circunstâncias precisa.

A pessoa que traiu pode assumir uma postura genuinamente paciente, escutar atentamente e repetir «Eu estou aqui. É contigo que eu quero ficar».


Por outro lado, é importante aceitar que, neste processo, é natural que haja avanços e recuos. Em momentos de desespero, a pessoa que foi traída terá vontade de mandar a outra embora (e é possível que o faça). De um modo geral, tudo o que precisa é de um abraço e de algumas palavras que lhe devolvam a segurança.

#5:
ASSUMIR A RESPONSABILIDADE

Cada um é responsável pelos próprios comportamentos. Mesmo que haja problemas no casamento anteriores à infidelidade, a pessoa que traiu não deve culpar o(a) companheiro(a) pela sua escolha.

É importante dar um passo de cada vez. Quando somos capazes de assumir inteiramente a nossa responsabilidade, é mais provável que, mais cedo ou mais tarde, haja disponibilidade para olhar para trás e reconhecer aquilo que cada um (não) fez pela relação.

Algumas pessoas sentem-se legitimamente sós e abandonadas na relação. Não andam à procura de uma terceira pessoa, mas sentem-se carentes e negligenciadas. Até certo ponto, sentem-se traídas. Esses sentimentos podem e dever reconhecidos, mas não devem servir de justificação para a infidelidade.

A terapia de casal é, para muitos, a oportunidade de falar abertamente sobre este turbilhão de sentimentos de forma segura e estruturada.

Terapia Familiar e de Casal em Lisboa