O que é a gratidão? Como é que se pratica a gratidão? Quais são os benefícios que essa prática pode trazer para o nosso corpo e para a nossa mente?
Vemos cada vez mais fotos bonitas
no Instagram e no Facebook com a legenda #gratidão. Às vezes é uma paisagem de
cortar a respiração, outras é simplesmente uma mulher de biquíni. Será que isto
equivale a praticar a gratidão? Estaremos genuinamente a sentir-nos gratos quando
partilhamos uma fotografia que simbolize um momento feliz? Na maior parte do
tempo isso não corresponde à verdade. Na prática, quase todas as publicações
deste género se encaixam naquilo a que se pode chamar gratidão teórica ou
superficial.
TIPOS DE GRATIDÃO
Quando falamos de gratidão,
podemos identificar 3 tipos: a gratidão teórica, a gratidão passiva e a
gratidão ativa. Quando falamos da prática da gratidão estamos normalmente a
referir-nos à gratidão ativa.
GRATIDÃO TEÓRICA
A gratidão teórica corresponde a
todas as situações em que utilizamos a palavra sem “mergulhar” verdadeiramente
no sentimento. Até podemos reconhecer, por instantes, que aquele foi um momento
positivo, podemos sentir-nos felizes, MAS isso não significa que estejamos
capazes de o valorizar na medida certa.
Este tipo de gratidão é
observável nas redes sociais, nos e-mails e SMS.
Limitamo-nos a utilizar palavras
que aparentam gratidão – por cordialidade, simpatia ou simplesmente por
estarmos em “piloto automático”. Até há quem escreva “Grato/ Grata” em quase
todos os e-mails depois de ter feito algumas leituras sobre a importância de
praticar a gratidão, sem que isso implique que o sentimento genuíno esteja
patente.
GRATIDÃO PASSIVA
A gratidão passiva acontece em
momentos pontuais e normalmente intensos, como a concretização de uma promoção
profissional, o início de um relacionamento amoroso, o nascimento de um filho
ou a passagem num exame para o qual nos esforçámos muito. Neste caso, há sempre
emoções positivas, há muita atenção ao momento presente, há o reconhecimento do
esforço necessário para atingir aquele objetivo e também costumam existir
planos concretos para o futuro. Nestes momentos, sentimo-nos genuinamente
gratos e isso promove o nosso bem-estar.
O problema é que estes são
momentos que acontecem de forma esporádica, pelo que o sentimento (e a
respetiva sensação de bem-estar) tende a dissipar-se muito rapidamente.
GRATIDÃO ATIVA
A gratidão ativa implica que nos
esforcemos DIARIAMENTE para encontrar motivos pelos quais possamos sentir-nos
gratos. Implica que prestemos genuinamente atenção ao momento presente e que
reconheçamos o valor dos gestos, das pessoas e das relações que fazem parte da
nossa vida – por oposição a dá-los como garantidos. Claro que isso requer
prática e disciplina.
QUAIS SÃO OS EFEITOS DA PRÁTICA DA GRATIDÃO?
Quando trazemos a prática da
gratidão para a nossa rotina:
Sentimo-nos mais próximos, mais
empáticos e
mais calorosos das pessoas que nos rodeiam;
Prestamos mais atenção às
necessidades
das pessoas de quem gostamos;
Sentimo-nos mais relaxados e mais
capazes de
gerir as nossas emoções (positivas e negativas);
O nosso sono melhora
O nosso sistema imunológico melhora
Sentimo-nos mais motivados para a
prática de exercício físico.
COMO É QUE SE PRATICA A GRATIDÃO?
A forma mais fácil – e sólida –
de praticar a gratidão é através do “Diário de gratidão”. Este exercício
convida-nos a parar todos os dias com a intenção de identificar pelo menos 3
coisas positivas pelas quais nos possamos sentir gratos.
A ideia não é anotar todos os
dias acontecimentos extraordinários, como os que referi a propósito da gratidão
passiva, mas sim ser capaz de identificar coisas simples e explicar porque é
que elas aconteceram e porque é que nos sentimos gratos.
Por exemplo, num determinado dia
podemos escrever que nos sentimos gratos por termos ido ao nosso restaurante
preferido. Isso aconteceu porque temos trabalho e temos dinheiro que nos
permite fazê-lo. Valorizar estes “luxos”, em vez de os tomarmos como
garantidos, ajuda-nos a promover o nosso bem-estar. Também podemos agradecer o
facto de o(a) nosso(a) companheiro(a) ter lavado a loiça na nossa vez e
reconhecer que isso aconteceu porque ele(a) se preocupa connosco e valorizou o
nosso apelo num dia em que nos sentíamos mais cansados.
A ciência mostra-nos resultados
impressionantes associados a esta prática. É possível observar mudanças no
nosso bem-estar emocional ao fim de apenas um mês de prática regular.
Outra forma de cultivar a
gratidão consiste na elaboração de cartas de gratidão. Esta é uma
maneira de pararmos para agradecer um gesto, ou um conjunto de gestos, de
alguém a quem sintamos que ainda não agradecemos na medida certa. É evidente
que é uma forma de retribuição e, em função disso, é natural que façamos a
outra pessoa feliz, mas aquilo que também é possível observar é que estas
cartas promovem o bem-estar de quem as escreve com autenticidade, isto é, “mergulhando”
genuinamente no sentimento de gratidão.
Dizer “Obrigado” com
atenção plena ao momento presente, isto é, valorizando de forma genuína o gesto
de determinada pessoa, é outra forma de alargar a prática da gratidão. Pode ser
utilizada nas situações mais simples – quando reparamos na simpatia com que
alguém nos atende numa loja, quando agradecemos a ajuda de um colaborador numa
qualquer linha de apoio ao cliente ou quando a pessoa de quem gostamos nos vai
buscar ao trabalho para tornar o nosso dia mais fácil.
Finalmente, também é possível
treinar a gratidão procurando ativamente o lado positivo de cada
episódio da nossa vida. Por exemplo, se nos sentirmos “inundados” em trabalho,
com e-mails e mais e-mails para responder, podemos lembrar-nos de que nos
sentimos genuinamente gratos por termos trabalho e por tudo o que isso nos
proporciona. Se estivermos irritados com o tempo de espera para uma consulta
num hospital público, podemos sentir-nos gratos pelo nosso Serviço Nacional de
Saúde e por todas as coisas que ele nos oferece.
Não é fácil encontrar sempre o
lado positivo de cada acontecimento, especialmente nas alturas em que nos
sentimos esmagados pela tristeza, pela raiva ou pelo medo. É por isso que é
preciso praticar de forma ativa. Quando nos habituamos a fazê-lo, reparamos que
tudo na vida nos pode trazer aprendizagens e motivos pelos quais nos sintamos
gratos, mesmo os momentos mais difíceis.