Quais são os motivos que podem levar alguém a trair? O que é que faz com que uma pessoa faça escolhas que podem colocar a relação em risco?
Antes de explorar os motivos que
costumam estar associados à infidelidade, importa esclarecer que não são só as
pessoas que se sentem insatisfeitas no casamento que traem. Tal como escrevi
AQUI, as pessoas felizes também traem.
TRAIÇÃO: OS MOTIVOS
SOLIDÃO
A última coisa que associamos a
uma relação amorosa é a solidão, mas há muitas pessoas que se sentem
profundamente desamparadas apesar de estarem casadas. Há relações em que deixou
de haver intimidade e as conversas se resumem às responsabilidades familiares.
Quando isto acontece, as demonstrações físicas de afeto são praticamente
inexistentes e há pelo menos um dos membros do casal que sente a necessidade de
receber muito mais atenção. É esta necessidade (e a sensação de abandono) que
está por detrás do aparecimento de uma terceira pessoa.
INSATISFAÇÃO SEXUAL
Alguns casamentos são
praticamente assexuados, caracterizados pela apatia e pela inexistência de intimidade
sexual. Nalguns casos, nunca chegou verdadeiramente a existir prazer associado
à sexualidade. Isto acontece mais frequentemente com mulheres que foram
educadas de forma muito conservadora e que durante muito tempo olharam para o
sexo como uma obrigação. Noutros casos, a fantasia, o desejo e a imaginação
foram “engolidos” pelos afazeres do dia-a-dia e há pelo menos um dos membros do
casal que se sente insatisfeito e que procura, através da relação extraconjugal,
voltar a sentir-se vivo, voltar a sentir-se desejado.
MONOTONIA
As rotinas fazem parte da vida de
qualquer família e, até certo ponto, contribuem para a nossa segurança e
estabilidade. Mas a maior parte dos casamentos depende tanto da estabilidade e
da segurança quanto da novidade e do mistério. Se a pessoa que estiver ao nosso
lado só conseguir oferecer-nos estabilidade, é mais provável que a relação
possa ficar estagnada.
Numa relação feliz existe uma “distância
de segurança”, que faz com que olhemos para a pessoa que está ao nosso lado
como alguém que tem interesses e hábitos individuais, que vão além da vida a
dois ou da vida familiar. Ele(a) não está garantido(a), está em constante
evolução, luta pelos seus sonhos e dá-nos a sensação de que há sempre algo mais
por descobrir.
Algumas relações estagnam ao
ponto de os membros do casal deixarem de se sentir vivos ou desejados. Há pelo
menos um dos membros do casal que sente que vive em função das obrigações
familiares e a relação extraconjugal surge como algo que, pela primeira vez em
muito tempo, reacende a sensação de vivacidade e desejo.
JUVENTUDE PERDIDA
Algumas pessoas, sobretudo de
gerações mais antigas, casaram pressionadas pela família de origem (e não
porque se sentiam apaixonadas) e desenvolveram relações sólidas, estáveis, mas marcadas
sobretudo por um grande sentido de obrigação. Foram educadas segundo a ideia de
que um casamento seria para a vida toda, independentemente da satisfação
conjugal, e ao fim de 20, 30 ou 40 anos, olham pela primeira vez para os
próprios sentimentos. Nalguns casos, a relação extraconjugal surge numa altura
em que os filhos já são adultos e apanha toda a gente de surpresa.
Raramente há uma busca ativa do
que quer que seja. A pessoa acaba por ser surpreendida pelos próprios
sentimentos e faz, pela primeira vez na vida, uma escolha centrada em si mesma.
EXPECTATIVAS
Algumas pessoas admitem que se
sentem felizes na relação, mas vivem com a expectativa de serem AINDA MAIS felizes
Questionam se serão “suficientemente” felizes: «Será que o amor é isto, ou
posso ambicionar mais?». Olham para o enamoramento associado à relação
extraconjugal como a possibilidade de viverem um amor mais próximo da
perfeição.
É importante olharmos para as
relações amorosas de forma realista. Cada vez mais, depositamos muitas
expectativas na pessoa que está ao nosso lado: esperamos que seja o(a) nosso(a)
companheiro(a), o(a) nosso melhor amigo(a), o(a) melhor amante, etc. Nenhum de
nós é perfeito e uma relação sólida depende da capacidade de aceitar a pessoa
que está ao nosso lado com todas as suas imperfeições (e da capacidade de
valorizarmos na medida certa os atributos que nos levaram a apaixonar-nos por
ela).
Quando conseguirmos definir de
forma clara as nossas intenções, focar-nos no que queremos para nós, para a
nossa vida, prestar atenção aos nossos sentimentos e às nossas necessidades e verbalizá-las
de forma clara e firme, é mais provável que consigamos fazer as escolhas
conscientes que nos ajudem a manter uma relação que nos faça sentir vivos e
entusiasmados.