Quais são os comportamentos a que devemos estar atentos por indicarem que estamos, provavelmente, numa relação tóxica? Quando nos apaixonamos, nem sempre é fácil reconhecer os comportamentos abusivos, mas a desvalorização dos primeiros sinais de abuso emocional pode levar a que se torne cada vez mais difícil impor limites e construir uma relação saudável.
Não me canso de dizer que os
principais sinais de que estamos perante comportamentos abusivos têm a ver com
a forma como nos sentimos. Se alguns comportamentos da pessoa de quem gosta o/a
fazem sentir-se desconfortável, é importante dar voz aos seus sentimentos. Se
ao desconforto se juntar a sensação de desrespeito, o medo, a culpa e a
sensação de obrigação, é provável que esteja a ser alvo de violência emocional.
No início de uma relação, os
comportamentos abusivos podem apresentar-se de forma mais subtil e, como
estamos encantados com a outra pessoa, é mais provável que desvalorizemos
algumas escolhas. Estes são alguns dos primeiros sinais de uma relação tóxica a
que deve prestar atenção:
TRATAMENTO DO SILÊNCIO (AMUOS)
Mesmo no início de uma relação, é
comum que os membros do casal tenham necessidades e vontades distintas. Há
alturas em que o(a) seu(sua) namorado(a) lhe pede para fazer algo e você diz
“Não”. E há alturas em que será ele(a) a fazê-lo. Se a pessoa de quem gosta
amuar perante a sua contrariedade, essa é uma forma de o(a) tentar pressionar.
É uma tentativa de impor a própria vontade e é muito importante que você seja
capaz de sinalizar este comportamento. O(a) seu(sua) namorado(a) tem o direito
de ficar triste, MAS não tem o direito de amuar, de o(a) castigar, deixando de
falar consigo. Na prática, os amuos consistem no “tratamento do silêncio”, isto
é, a pessoa deixa de falar como habitualmente, limitando-se a responder de
forma seca e monossilábica. Outra versão muito comum dos amuos consiste em
continuar a falar de forma APARENTEMENTE normal retirando toda a carga afetiva.
Na prática, a pessoa diz que «não se passa nada», mas castiga a outra pessoa.
FALTA DE RESPEITO PELA
PRIVACIDADE
Não há nada de errado em
partilhar mensagens privadas com a pessoa de quem gosta. Em certos casos, até
pode fazer sentido partilhar uma ou outra password, desde que ambos se sintam
confortáveis com a situação. Aquilo que não deve acontecer é o acesso não
autorizado às suas contas de e-mail, às suas mensagens ou às suas redes
sociais. A pessoa de quem gosta não é o(a) seu dono(a) e deve ser capaz de
respeitar a sua privacidade. Se ele(a) se sentir inseguro(a) ou enciumado(a),
deve ser capaz de o verbalizar de forma clara, dando-lhe a oportunidade de
fazer a sua escolha. Não adianta referir-se ao facto de ter passado por
situações de traição ou mentiras.
NÃO ASSUME A RESPONSABILIDADE
Já reparou que há pessoas que
aparentemente nunca têm culpa de nada? Queixam-se de forma sistemática do
comportamento dos outros e têm muita dificuldade em assumir os próprios erros e
a respetiva responsabilidade. Se a pessoa de quem gosta está sempre a apontar o
dedo aos outros – ao chefe, às pessoas com quem se relacionou e/ou à família
alargada, esse é um sinal de alarme, já que indica um padrão relacional. Nestes
casos, é provável que haja muita dificuldade em assumir os erros na relação e
que você acabe por ser responsabilizado(a) por todas as dificuldades.
TENTATIVAS DE O(A) AFASTAR DE FAMILIARES E AMIGOS
É natural que a pessoa de quem
gosta possa não simpatizar com todas as pessoas da sua família. É legítimo que
não se identifique com um ou dois amigos seus. E é desejável que se sinta
confortável para lhe dizer, sem que isso implique qualquer tentativa de o(a)
afastar de pessoas de quem gosta. Mas se a pessoa que está o seu lado estiver
sistematicamente a pôr defeitos nos seus familiares ou amigos, se o(a)
pressionar (de forma mais ou menos clara) a afastar-se dessas pessoas, esse é
um sinal de alarme. A manipulação pode surgir de forma subtil através de frases
como «Tu sabes que eu não gosto da pessoa X», «Se tu gostasses mesmo de mim…».
Lembre-se de que a
sua autoestima e a sua
rede de suporte (familiares e amigos) são o
melhor
sistema imunitário que você pode ter
contra a possibilidade de ser vítima
de
violência emocional.
PRENDAS EXCESSIVAS
Quando gostamos de alguém,
sentimos vontade de agradar e isso também pode traduzir-se em termos materiais.
Mas há presentes que são tão caros ou tão desajustados que acabam por trazer
algum desconforto. Se se sentir desconfortável, o mais provável é que esteja
perante um gesto excessivo e é importante tentar perceber a origem deste
comportamento. Algumas pessoas oferecem este mundo e o outro à pessoa que está
ao seu lado como “prova” do seu amor. Na prática, todos sabemos que não são
(só) os presentes que nos fazem sentir amados, mas pode ser mais difícil
reconhecer a chantagem emocional quando a outra pessoa diz «Se eu não gostasse
de ti, não te teria oferecido X». Se você se queixar de um comportamento específico
do(a) seu(sua) namorado(a) e ele(a) se referir a estas provas de amor (em vez
de valorizar a sua queixa), esse é claramente um sinal de manipulação.
PEQUENAS TRAIÇÕES
Imagine que o telefone da pessoa
de quem gosta toca e você repara no nome. Entretanto, ele(a) atende e você
consegue perceber que do outro lado da ligação está uma pessoa que não pode ter
aquele nome. Se o(a) seu(sua) namorado(a) se der ao trabalho de trocar os nomes
dos registos de telemóvel – para fingir que está a falar com um homem quando,
na verdade, está a falar com uma mulher ou vice-versa -, isso é um sinal de
alarme. A pessoa de quem gosta tem o direito à privacidade e tem o direito de
continuar a cultivar amizades, mas é fundamental que seja claro(a) em relação
às suas intenções. As mentiras são sempre um sinal de que esta pessoa está
mais centrada em si mesma do que na relação.
POSTURA DE SUPERIORIDADE
Se a pessoa de quem gosta estiver
sistematicamente a fazer comparações com outras pessoas e/ou a referir-se e si
mesma como se fosse melhor do que os outros – seja em termos profissionais,
financeiros, académicos ou sociais, fique atento(a). Este pode ser um sinal de
que se trata de alguém que “precisa” de olhar para os outros com algum desprezo
para se sentir bem consigo mesmo(a). Mais cedo ou mais tarde, poderá fazê-lo
consigo de forma mais clara e abusiva.
QUERER APRESSAR A RELAÇÃO
Há casais que decidem viver
juntos pouco tempo depois de se conhecerem. Há mulheres que engravidam pouco
tempo depois de iniciarem uma relação. Mas uma coisa é ambos estarem em
sintonia e quererem dar esses passos e outra, bem diferente, é essa ser apenas
a vontade de um dos membros do casal. Preste atenção às suas próprias
necessidades e evite dar qualquer passo para o qual ainda não se sinta suficientemente
seguro(a). A pessoa que está ao seu lado tem o dever de o(a) respeitar – sem
críticas nem chantagem emocional.