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25.10.19

COMO ACABAR COM AS DISCUSSÕES


Como acabar com as discussões

Se está sistematicamente a discutir com o(a) seu(sua) companheiro(a) sobre o mesmo assunto, há uma forma de parar com o círculo vicioso. E não é o que você está a pensar.


Há casais que chegam até ao meu consultório com uma queixa comum: independentemente do amor que os une, há discussões que se repetem, sem que consigam chegar a uma solução. Pelo meio, há quase sempre muito sofrimento, muitas tentativas de resolver o problema e muita tensão.

Eis um exemplo:

Pedro diz que ele e a mulher raramente discutem, mas quando o fazem, é sempre pelo mesmo motivo. Ele é muito mais sociável do que a mulher e, se pudesse, aceitaria a maior parte dos convites que recebe para estar com familiares e amigos. Rita, a mulher, raramente quer sair com outras pessoas e não gosta de receber familiares e amigos em casa. «O que é que nós podemos fazer para resolver isto?», perguntava-me.




A frustração de Pedro é comum a muitas outras pessoas. Na prática, sempre que os membros do casal têm perspetivas muito diferentes sobre um assunto importante, isso transforma-se num desafio (e num potencial problema). Para Pedro, a questão resumir-se-á da seguinte forma: «Não percebo o que é que se passa com ela. Qual é o problema de receber pessoas em casa ou sair para jantar?».

Como é que algo aparentemente tão simples se transforma num problema que leva a que duas pessoas que se amam discutam de forma acesa e frequente, como se estivessem a fazer um braço-de-ferro infantil?


Discussões que se repetem: um problema comum


É possível que se identifique com o problema de Pedro e Rita. Talvez não seja habitual discutir sobre este assunto específico, mas talvez dê por si a pensar «Eu também costumo discutir com o(a) meu(minha) companheiro(a) sobre um assunto que se resolveria facilmente se ele(a) não fosse tão casmurro(a)»Quase todos os casais se identificam com este padrão.


Uma das coisas que os estudos com casais revelaram
foi que cerca de setenta por cento dos problemas
conjugais se encaixa na categoria de problemas
perpétuos. Na prática, quando escolhemos um(a)
companheiro(a), também escolhemos um conjunto
de problemas para os quais não vamos
encontrar uma solução.



Mesmo entre os casais mais felizes, só 30 por cento dos problemas conjugais são questões solucionáveis.

 O que está (realmente) por trás das discussões.


De um modo geral, quando os membros do casal se sentem “presos” a discussões que se repetem, é preciso analisar aquilo que está por detrás do assunto em questão. Uma discussão pode ser muito mais profunda do que parece e alguns braços-de-ferro são apenas a face visível do problema.

É por isso que, antes de tentar encontrar soluções de compromisso para resolver o problema, é preciso tentar perceber as reais necessidades de cada um primeiro.

A primeira coisa a fazer é travar quaisquer tentativas de convencer o(a) companheiro(a) de que a sua opinião é a correta ou a mais razoável.


Ainda que você acredite que tem razão (como Pedro acreditava que a sua opinião era a mais razoável), procure questionar:

Quais são as verdadeiras necessidades que estão aqui em jogo?
Do que é que eu preciso?
Do que é que o(a) meu(minha) companheiro(a) precisa?
Porque é que este assunto é tão importante para mim/ para ele(a)?

Quando investimos o nosso tempo, trazemos a nossa genuína curiosidade para a reflexão e mostramos disponibilidade para escutar a pessoa que amamos, é mais provável que nos sintamos conectados e que, em função disso, consigamos chegar a algum compromisso.

No caso de Pedro e Rita, quando a mulher recusava estar com outras pessoas, Pedro sentia-se confuso e preterido: «Lá vem ela, sempre a tentar fazer as coisas à sua maneira, sem querer saber dos meus sentimentos. É como acontecia na minha infância – os meus pais impunham uma série de regras estúpidas e eu limitava-me a ter de obedecer». Por outro lado, Rita sentia-se inundada de ansiedade: «Cada reunião com amigos é uma fonte de stress para mim. A minha mente é invadida por mil questões – será que a casa está arrumada? Vou estar à altura das conversas? Vou conseguir ser suficientemente interessante? É como se estivesse sistematicamente a voltar aos tempos de escola e ao ambiente feroz em que cresci».

As experiências que vamos vivendo vão-nos moldando e, mesmo que alguns assuntos deixam de ser traumáticos, acabam por condicionar a nossa personalidade e as nossas preferências.

A maior parte dos casais acabam por descobrir diferenças significativas na forma como se sentem e na forma como gerem determinados assuntos. É provável que essas diferenças surjam repetidamente, porque as nossas preferências são relativamente estáveis e não são melhores nem piores do que as da pessoa que está ao nosso lado, são apenas diferentes.

Estas tentativas de melhorar a comunicação funcionam melhor se os membros do casal procurarem que ambos se sintam ouvidos e compreendidos. Para isso, é fundamental que cada um dê o seu melhor para que, de forma paciente, possa escutar o(a) companheiro(a) até que ele(a) se sinta realmente compreendido(a).



É importante tentar conhecer a história completa
antes de se apressar a dar a conhecer o seu lado.
Lembre-se de que NÃO há um lado
certo e um lado errado.



Tanto no caso de Pedro e Rita como na maioria dos casais, os dois lados do conflito são válidos. É preciso aceitar as diferenças porque dessa aceitação (e da genuína empatia) resulta invariavelmente menos tensão e maior disponibilidade para encontrar soluções de compromisso.

Na prática, quando conhecemos os sentimentos profundos da pessoa que está ao nosso lado e as suas necessidades afetivas, é mais provável que pensemos «Sei que isto é importante para ele(a) e estou disposto(a) a sair da minha zona de conforto para o(a) deixar mais feliz/ mais seguro(a)». Nalgumas situações é um que cede; noutras será o(a) companheiro(a) e as decisões vão sendo tomadas caso a caso.

Rita jamais será a pessoa sociável que Pedro gostaria que fosse e vice-versa. Mas isso não significa que Rita não possa ceder em situações específicas que sejam claramente importantes para o marido. E até pode fazê-lo com prazer. A ideia é: «Sei que isto é importante para ti e, por isso, faço esta escolha».

Da mesma maneira, haverá alturas em que Pedro pode optar por respeitar a natureza da mulher: «Sei que ela teve uma semana stressante e prefere passar o fim-de-semana em casa em família. Talvez possamos combinar alguma coisa com os nossos amigos noutra altura».

Uma das estratégias que pode ajudar a decidir, caso a caso, é perguntar:

De 1 a 10, que importância é que isto tem para mim/ para o(a) meu(minha) companheiro(a)?

Esta pequena reflexão pode ajudar a desbloquear os braços-de-ferro. Lembre-se de que não é uma questão de decidir quem ganha e quem perde. É uma questão de determinar aquilo que cada um pode fazer para ajudar o outro a ser mais feliz.

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