O que é que cada um de nós pode fazer diariamente para manter uma boa comunicação com a pessoa que amamos? Que escolhas protegem a relação? O que é que não devemos (mesmo) fazer? E sobre o que é que podemos/ devemos conversar?
Quase todos os casais com quem
trabalho se queixam de «problemas de comunicação». Nalguns casos, isso
significa que tem havido discussões intensas e/ou frequentes; noutros, o problema
tem a ver com a falta de comunicação. E os casais felizes – como é que eles
comunicam? Que escolhas fazem diariamente? Felizmente, a Psicologia tem
conseguido mostrar quais são os comportamentos que nos ajudam a melhorar a
comunicação conjugal e, assim, sermos mais felizes no amor.
MELHORAR A COMUNICAÇÃO:
QUE
CONVERSAS DEVEMOS TER?
Há quem pense (erradamente) que
os casais mais felizes são aqueles que estão sempre a conversar sobre os
problemas da relação, na ânsia de os resolver. Quem é que se sentiria feliz se
estivesse permanentemente sob estes níveis de tensão? É óbvio que há assuntos
que nos magoam e que têm mesmo de ser esclarecidos, mas ninguém aguentaria
passar a maior parte do tempo a gerir assuntos sensíveis.
Precisamos de saber que, no final
de um dia de trabalho, há alguém que (ainda) tem paciência para nos ouvir,
mesmo que seja a propósito de trivialidades.
Estes são alguns dos assuntos
sobre os quais podemos conversar com a pessoa que amamos:
MEMÓRIAS IMPORTANTES
Há acontecimentos que nos marcam
e cujas memórias são tão vívidas que parece que ocorreram ontem. Às vezes são
memórias difíceis, mas muitas vezes são episódios caricatos, que continuam a
fazer-nos rir. Termos a oportunidade de revisitar os nossos “greatest hits”
é uma forma de nos sentirmos ligados.
HISTÓRIAS DE INFÂNCIA
Quando foi a última vez que pegou
num álbum de fotografias e partilhou episódios sobre a sua infância? Com ou sem
fotos, sentimo-nos genuinamente mais próximos da pessoa que está ao nosso lado
quando falamos sobre a nossa bagagem emocional e ele(a) presta atenção,
valorizando os nossos sentimentos. Claro que é essencial que tenhamos
disponibilidade para fazer o mesmo.
PIADAS E EPISÓDIOS ANEDÓTICOS
Quando nos despedimos do(a)
nosso(a) companheiro(a) de manhã, sabemos que ele(a) vai trabalhar, conhecemos
as suas rotinas e até podemos ter alguma noção dos seus afazeres. Mas quase
todos os dias há pequenas coisas que ele(a) ouviu e às quais achou graça,
pequenos detalhes que captaram a sua atenção e que, no final do dia, quer
partilhar connosco. Uma relação feliz e saudável também depende da nossa disponibilidade
para prestar atenção a estas pequenas coisas, mesmo quando estamos cansados e
com vontade de enfiar a cara no ecrã do telemóvel ou da televisão (em busca de
outras coisas que nos façam rir ou relaxar).
Não me canso de
dizer:
A pessoa que está ao nosso lado e que nos
ama não tem superpoderes,
não lê a nossa mente.
A pessoa que está ao nosso lado e que nos
ama não tem superpoderes,
não lê a nossa mente.
Quando partilhamos aquilo que
sentimos a propósito do que vamos vivendo, permitimos que a pessoa que está ao
nosso lado nos faça sentir mais amparados. Quando prestamos atenção ao que o
outro diz e validamos os seus sentimentos, isto é, quando mostramos que ele(a)
tem o direito de se sentir “assim”, a relação torna-se mais coesa.
SONHOS E AMBIÇÕES
A nossa relação conjugal pode ser
a nossa prioridade, mas seria injusto colocar sobre os ombros da pessoa que
amamos a responsabilidade de nos fazer felizes. A felicidade de cada um também
depende da capacidade de dar voz aos próprios sonhos, de lutar pela
concretização de objetivos. Quando prestamos atenção ao que o outro diz, quando
o(a) incentivamos a lutar pelos seus sonhos e fazemos o que está ao nosso
alcance para que eles aconteçam, a relação torna-se mais viva e entusiasmante.
MELHORAR A COMUNICAÇÃO:
COMO
DEVEMOS CONVERSAR?
Conversar, no final do dia,
acerca do que aconteceu a cada um é um pilar importante de qualquer relação.
Muitos casais têm esta espécie de
conversa calmante, talvez ao jantar ou depois de as crianças irem dormir. Mas
muitas vezes o efeito não é o desejado – os níveis de stress aumentam porque um
dos membros do casal se sente frustrado porque o outro não está a ouvi-lo. Nesse
caso, é importante mudar a abordagem, para que esta conversa possa,
efetivamente, ser uma fonte de calma.
Para começar, é importante pensar
no momento certo. Algumas pessoas querem “descarregar” assim que entram em
casa. Mas outras precisam de descomprimir durante um período para que se sintam
aptas a interagir. Por isso, deve-se esperar até que ambos estejam prontos
para conversar. Num dia normal, são precisos 20 a 30 minutos para esta
conversa. A regra central diz respeito à necessidade de ambos conversarem sobre
o que lhes vier à cabeça e que não tenha a ver com a relação. Esta não é a
altura para resolver conflitos. É uma oportunidade para se apoiarem mutuamente
do ponto de vista emocional. Para isso, é importante respeitar algumas regras:
#1: ALTERNEM OS PAPÉIS.
Cada membro do casal deve ter
(mais ou menos) o mesmo tempo para falar.
#2: NÃO DÊ CONSELHOS QUE NÃO
LHE FORAM SOLICITADOS.
Se der rapidamente uma sugestão
para o dilema do(a) seu(sua) companheiro(a), ele(a) poderá achar que você está
a minimizar a situação. Na prática, você está a dizer «Isso não é assim tão
complicado. Porque é que tu não…?». Tente compreender a situação antes de
oferecer sugestões. É preciso que a pessoa que ama sinta que você compreende e
empatiza com o dilema antes de sugerir uma solução. Por vezes, aquilo de que a
outra pessoa precisa nem é de uma solução – basta-lhe que você seja um bom
ouvinte, ou que ofereça o seu ombro. Existe uma significativa diferença de
género nesta regra. Quando a mulher partilha os seus problemas com o marido,
normalmente reage de um modo muito negativo quando ele lhe dá conselhos
imediatamente. Em vez disso, ela quer ouvir que ele compreende a situação. Os
homens são muito mais tolerantes perante as tentativas imediatas para resolver
o problema. Ainda assim, se um homem partilhar com a mulher os seus problemas
no trabalho, provavelmente preferirá que ela lhe demonstre empatia em vez de
uma solução.
#3: MOSTRE INTERESSE GENUÍNO.
Não deixe que a sua mente divague.
Centre-se naquilo que o(a) seu(sua) companheiro(a) está a dizer. Coloque
questões. Olhe nos olhos.
#4: MOSTRE A SUA EMPATIA.
Deixe que a pessoa que ama saiba
que compreende o que ela está a sentir: «Que frustração! Eu também ficaria em
stress. Percebo porque é que te sentes assim».
#5: FIQUE DO LADO DO(A)
SEU(SUA) COMPANHEIRO(A).
Isto implica dar apoio, mesmo que
considere que a perspetiva dele(a) não é razoável. Não fique do lado oposto. Se
o patrão da sua mulher implicou com ela porque chegou 5 minutos atrasada, não
diga «Bem, não te deverias ter atrasado». Em vez disso, diga «Que chatice!». A
ideia não é ser desonesto(a). A questão é que o timing é determinante. Quando o(a)
seu(sua) companheiro(a) vem ter consigo à procura de apoio emocional (e não de conselhos),
a sua função não é a de fazer juízos de valor ou a de lhe dizer o que fazer. A
sua função é a de dizer «Estou aqui para ti».
#6: EXPRESSE O SEU AFETO.
Abrace o(a) seu(sua) companheiro(a),
diga-lhe que o(a) ama.
#7: VALIDE AS EMOÇÕES DO SEU
COMPANHEIRO.
Diga-lhe que aquelas emoções
fazem sentido, que ele(a) tem o direito de se sentir “assim”: «Sim, isso é
muito triste. Eu também ficaria preocupado(a)».