O que é que podemos fazer para nos livrarmos dos pensamentos negativos? Que estratégias são mais eficazes para acalmar a nossa mente e conseguir prestar atenção ao momento presente?
Imagine que está prestes a viajar
de avião e tem alguém ao seu lado que não pára de o(a) tentar assustar com
comentários do género «Se o avião cair, tu não vais sobreviver. Há cada vez
mais acidentes com aviões. E se acontecer desta vez? Lá em cima não controlamos
nada. Se calhar o melhor é não ires a lado nenhum.». O que é que faria? O mais
provável é que desse por si a encher-se de medo e raiva e que, num ato de
desespero, mandasse calar a pessoa ao seu lado. Afinal, a última coisa de que qualquer
pessoa precisa é de alguém que injete pensamentos negativos antes de um momento
importante. E se os "comentários" não vierem de fora? E se a voz
crítica que o(a) assusta estiver na sua mente? Hoje partilho algumas
ferramentas para eliminar os pensamentos negativos.
Pensamentos negativos: o crítico interno
Quando a nossa voz interior nos
inunda de negatividade, não é apenas medo que sentimos. De uma maneira geral,
conseguimos ser muito duros connosco, conseguimos deturpar a realidade e puxar-nos
para baixo como ninguém, trazendo sentimentos de inutilidade, desvalor e
insuficiência.
Se estivesse a preparar-se para
uma reunião importante com o seu chefe e a sua mente “decidisse” inundá-lo(a)
de pensamentos negativos como «És incompetente. O teu chefe vai perceber e
despedir-te.», o mais provável é que o medo dominasse a sua comunicação,
limitando o seu desempenho e levando-o(a) a ouvir um ou outro comentário que
o(a) faria ter ainda mais certezas da sua “incompetência”.
É crucial que reconheçamos o
nosso próprio crítico interno e que, tão cedo quanto for possível, sejamos
capazes de dizer
PÁRA!
Isso mesmo: se não permitimos que
outras pessoas nos puxem para baixo, por que havemos de dar ouvidos ao nosso
crítico interno?
Estratégias para acabar com os pensamentos negativos
#1: Dizer PÁRA tão cedo quanto
for possível para evitar que os pensamentos entrem na nossa consciência e
comecemos a remoer. Podemos fazê-lo mesmo que seja só mentalmente, mas se for
viável podemos dizer oralmente.
Há uma ferramenta que nos ajuda a
reconhecer estes pensamentos exatamente como eles são, isto é, “apenas”
pensamentos, em vez de os tomarmos como reais: a meditação mindfulness.
Ouço muitas vezes frases como «Eu
não tenho jeito para meditar» ou «Eu não consigo meditar», que
traduzem sobretudo desconhecimento e algumas ideias feitas sobre esta
ferramenta terapêutica. A verdade é que a meditação mindfulness não tem nada de
esotérico ou religioso e também não requer propriamente esforço ou alguma capacidade
especial. Para meditar, basta que tiremos alguns minutos por dia (todos os
dias) e que observemos o momento presente.
Partilho aqui uma meditação
guiada, com a duração de 10 minutos, que pode fazer toda a diferença para quem
procura acalmar a mente e eliminar os pensamentos negativos:
Lembro que é a prática regular que traz frutos. Da mesma maneira que precisamos de ir ao ginásio com regularidade para desenvolver os nossos músculos, é crucial que nos disciplinemos para trabalhar o “músculo” do cérebro.
#2: Rodeie-se de positividade.
Faça coisas que o(a) fazem feliz – e discipline-se para que estes “balões de oxigénio”
o(a) ajudem a manter o otimismo. Quando escolhemos dedicar algumas horas por
semana a fazer as coisas de que gostamos, é muito menos provável que nos entreguemos
aos pensamentos negativos.
No final de um dia de trabalho, é
positivo que haja alguém ao nosso lado com quem possamos desabafar sobre as
dificuldades que tivemos de enfrentar. Mas é muito importante que nos
habituemos também a prestar atenção e falar sobre o que correu bem. Há inúmeras
evidências de que esta prática nos ajuda a eliminar os pensamentos negativos e
a promover o nosso bem-estar.
Para quem tem filhos, pode ser
muito positivo tentar introduzir a rotina de, no final do dia, convidar as
crianças a lembrar os pontos mais positivos do seu dia e, assim, tentar educa-las
para o otimismo.
#3: Praticar a gratidão. Já
escrevi sobre isso AQUI. Quando nos disciplinamos no sentido de prestar atenção
e registar por escrito as pequenas coisas pelas quais nos sentimos gratos, há
inúmeras mudanças que acontecem no nosso corpo e na nossa mente. Estas memórias
positivas não só nos ajudam a afastar o pessimismo, como melhoram a nossa saúde
física e mental e as nossas relações afetivas.
#4: Distanciar-se de pessoas
negativas. Há pessoas que têm o “condão” de ver tudo negro à sua volta e de
contagiar os outros com esse negativismo. Veem problemas em todas as soluções,
reconhecem perigos em todos os sonhos e são exímias em puxar-nos para baixo.
Preste particular atenção à forma como algumas pessoas falam sobre os outros
nas suas costas. É provável que façam o mesmo consigo. Lembre-se de que as
pessoas positivas gostam genuinamente de ajudar os outros. Procure rodear-se de
pessoas que estejam interessadas em protege-lo(a) e incentivá-lo(a) a ser
feliz.
#5: Praticar a autocompaixão. Também
já escrevi sobre esta ferramenta AQUI. Praticar a autocompaixão consiste em
sermos capazes de adotar um discurso genuinamente empático, solidário, amável e
compassivo connosco, tal como faríamos com um(a) bom(boa) amigo(a), se ele(a)
estivesse na nossa situação. Trata-se de sermos capazes de reconhecer os nossos
sentimentos, de lembrarmos que o sofrimento, a imperfeição e as dificuldades fazem
parte da vida de TODOS os seres humanos e de assumirmos palavras que puxem para
cima e não para baixo.
Como em quase tudo na vida, é
mais fácil falar do que fazer. Praticar a autocompaixão requer o compromisso
connosco e a disciplina de repetirmos os exercícios com frequência até que
sejamos mesmo capazes de substituir o crítico interno por uma voz que
calorosamente nos incentive a dar o nosso melhor.