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20.11.19

GERIR AS EMOÇÕES DEPOIS DE UMA TRAIÇÃO


Emoções depois de uma traição

Como é que um casal pode recuperar de uma infidelidade? Que passos é preciso dar para reconstruir a relação? Como é que se gere o turbilhão de emoções que estão associadas a uma traição?


Trabalho quase todos os dias com casais que estão a tentar reconstruir a relação depois da revelação da traição. Na maioria das vezes, são pessoas que estão em grande sofrimento, mesmo quando a situação já aconteceu há alguns meses. Assumiram que, apesar do que aconteceu, têm a intenção de continuar juntos, mas o dia-a-dia acaba por ser (ainda) mais difícil do que esperavam e acabam invariavelmente por dar por si em círculos viciosos.

Hoje escrevo sobre os passos que devem ser dados por quem tenha genuinamente a intenção de salvar a relação depois de uma infidelidade.




Salvar a relação depois da infidelidade


Não há volta a dar: só há confiança na medida em que sintamos de forma clara, inequívoca, que a pessoa que está ao nosso lado se preocupa genuinamente connosco, com os nossos sentimentos. Quando a confiança é quebrada na sequência de uma traição, é essencial que a pessoa que traiu seja capaz de mostrar o seu arrependimento genuíno e assuma uma postura paciente – e não defensiva – em relação ao(à) companheiro(a).

Quando alguém descobre que a pessoa que ama foi infiel, é como se toda a realidade se desmoronasse.


De repente, a pessoa dá por si a colocar tudo em causa, inclusive os valores morais do(a) companheiro(a): «Quem é esta pessoa que está ao meu lado? Quais são os seus valores?».



Se, de alguma maneira, a pessoa que traiu tentar
atirar a responsabilidade para cima da outra com
frases como «Foste tu que me abandonaste», «Tu
não me davas atenção» ou «A culpa também é tua»,
é menos provável que o casal consiga conectar-se
e salvar a relação.



Na prática, e mesmo quando há claramente amor entre duas pessoas, a infidelidade traz uma grande ambivalência. Por um lado, a pessoa que foi traída ama o(a) companheiro(a) e tem vontade que ele(a) o(a) abrace, que esteja ali bem perto e, por outro, há alturas em que a única coisa que deseja é que ele(a) se afaste. É normal e é muito importante que a pessoa que traiu consiga ter paciência para estas mudanças de humor, que são mais uma consequência do trauma vivido.

Passos para salvar a relação depois da traição


#1: Assumir a responsabilidade

A honestidade é essencial para que a pessoa traída possa escolher perdoar e reconstruir a relação. É evidente que não é fácil falar sobre o que aconteceu, muito menos dar resposta a todas as perguntas que a pessoa traída tem normalmente para fazer. Às vezes pode ser mesmo muito cansativo. Afinal, a pessoa que traiu está arrependida, sente-se culpada e envergonhada pelo próprio comportamento e só quer seguir em frente sem voltar a falar no assunto. Mas a minha experiência (e a literatura nesta área) mostra-me que é muito mais fácil reconstruir a relação quando a pessoa que traiu está genuinamente disponível para esclarecer todas as dúvidas – quando é que a relação começou, como é que terminou, quantos encontros houve, do que é que costumavam falar, etc. Há uma exceção: não há nada de positivo em partilhar detalhes sobre a intimidade sexual. Mesmo que haja muita curiosidade em relação ao assunto, esta partilha vai certamente acicatar a ferida e atrasar o restabelecimento da confiança.

#2: Transparência

O restabelecimento da confiança não depende apenas do esclarecimento de dúvidas em relação ao passado. É fundamental que haja um compromisso em relação à transparência no presente (e no futuro).

Os compromissos devem ser construídos a dois e, durante algum tempo, é natural que a pessoa traída necessite de “provas” de que o(a) companheiro(a) está a dizer a verdade.



Isso pode passar por mostrar mensagens no telemóvel ou colocar algumas conversas em alta voz. Não é desejável que a partir daqui haja qualquer tipo de subjugação por parte da pessoa que traiu. A infidelidade não dá o direito à pessoa traída de passar a controlar a vida do(a) companheiro(a). Mas, numa fase inicial é mesmo muito importante que os membros do casal conversem sobre aquilo que pode ser feito para que a pessoa traída se sinta segura de que a outra está a dizer a verdade.

As coisas tornam-se quase sempre mais complicadas quando a infidelidade acontece entre colegas de trabalho e o contacto com a terceira pessoa continua a existir. Não há regras universais que sirvam para todos os casais. Aquilo que importa é que haja abertura para que o casal converse sobre aquilo que um pode fazer para devolver a segurança ao outro (sem desrespeitar os próprios sentimentos e as próprias necessidades).

Quando colocamos a pergunta «O que é que é mais importante para mim AGORA?» é mais provável que o caminho se torne claro e que saibamos aquilo que podemos fazer para salvar a relação.


#3: Entender o que aconteceu

É importante que os membros do casal conversem sobre o que aconteceu à relação antes da infidelidade – sem que esta reflexão implique, em circunstância nenhuma, responsabilizar a pessoa traída pelo ato da traição.



Como estava a relação?
Como é que cada um se sentia até ali?
Como é que as necessidades de cada um estavam
a ser manifestadas?
O que é que permitiu que a pessoa que traiu
deixasse de contar com o(a) companheiro(a) para
dar resposta às suas necessidades?
O que é que abriu espaço para a sedução?




Esta reflexão, que normalmente leva tempo a ser feita, é essencial para ambos possam implementar as mudanças que imunizem a relação em relação à ocorrência de novas traições.


#4: Definir a intenção para a relação

Às vezes, a pessoa traída tem tanta “pressa” em salvar a relação que se esquece de prestar atenção às intenções do(a) companheiro(a), àquilo que o(a) leva a estar de volta. Fá-lo-á pelas razões certas? Por se sentir pressionado(a) ou envergonhado(a)? Por medo de perder a família?

Mais do que prestar atenção ao que a outra pessoa diz ou faz, é importante prestar atenção ao que ela não diz.


Se a pessoa que traiu não for capaz de dizer coisas como «Eu amo-te», «É de ti que eu gosto» ou «É contigo que eu quero ficar», é menos provável que a confiança seja reconstruída e que a relação perdure.


#5: Começar a perdoar

Quando os membros do casal são capazes de conversar abertamente sobre o que aconteceu, sobre os seus sentimentos e sobre as suas intenções em relação à relação, é mais provável que a pessoa traída se sinta pronta para voltar a investir na relação. Mas isso não significa que a partir daí tudo corra maravilhosamente. É muito provável que haja avanços e recuos, que haja alguns equívocos de comunicação, algumas explosões e vários momentos de desconexão. Aquilo que importa é que ambos mantenham o compromisso de voltar aos episódios geradores de tensão com a genuína intenção de falar com abertura sobre o que cada um sente e aquilo de que cada um precisa.
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