Como é que um casal pode recuperar de uma infidelidade? Que passos é preciso dar para reconstruir a relação? Como é que se gere o turbilhão de emoções que estão associadas a uma traição?
Trabalho quase todos os dias com
casais que estão a tentar reconstruir a relação depois da revelação da traição.
Na maioria das vezes, são pessoas que estão em grande sofrimento, mesmo quando
a situação já aconteceu há alguns meses. Assumiram que, apesar do que
aconteceu, têm a intenção de continuar juntos, mas o dia-a-dia acaba por ser
(ainda) mais difícil do que esperavam e acabam invariavelmente por dar por si
em círculos viciosos.
Hoje escrevo sobre os passos que
devem ser dados por quem tenha genuinamente a intenção de salvar a relação
depois de uma infidelidade.
Salvar a relação depois da infidelidade
Não há volta a dar: só há
confiança na medida em que sintamos de forma clara, inequívoca, que a pessoa
que está ao nosso lado se preocupa genuinamente connosco, com os nossos
sentimentos. Quando a confiança é quebrada na sequência de uma traição, é
essencial que a pessoa que traiu seja capaz de mostrar o seu arrependimento
genuíno e assuma uma postura paciente – e não defensiva – em relação ao(à)
companheiro(a).
De repente, a pessoa dá por si a
colocar tudo em causa, inclusive os valores morais do(a) companheiro(a): «Quem
é esta pessoa que está ao meu lado? Quais são os seus valores?».
Se, de alguma
maneira, a pessoa que traiu tentar
atirar a responsabilidade para cima da outra com
frases como «Foste tu que me abandonaste», «Tu
não me davas atenção» ou «A culpa também é tua»,
é menos provável que o casal consiga conectar-se
e salvar a relação.
atirar a responsabilidade para cima da outra com
frases como «Foste tu que me abandonaste», «Tu
não me davas atenção» ou «A culpa também é tua»,
é menos provável que o casal consiga conectar-se
e salvar a relação.
Na prática, e mesmo quando há
claramente amor entre duas pessoas, a infidelidade traz uma grande
ambivalência. Por um lado, a pessoa que foi traída ama o(a) companheiro(a) e
tem vontade que ele(a) o(a) abrace, que esteja ali bem perto e, por outro, há
alturas em que a única coisa que deseja é que ele(a) se afaste. É normal e é
muito importante que a pessoa que traiu consiga ter paciência para estas mudanças
de humor, que são mais uma consequência do trauma vivido.
Passos para salvar a relação depois da traição
A honestidade é essencial para
que a pessoa traída possa escolher perdoar e reconstruir a relação. É evidente
que não é fácil falar sobre o que aconteceu, muito menos dar resposta a todas
as perguntas que a pessoa traída tem normalmente para fazer. Às vezes pode ser
mesmo muito cansativo. Afinal, a pessoa que traiu está arrependida, sente-se
culpada e envergonhada pelo próprio comportamento e só quer seguir em frente
sem voltar a falar no assunto. Mas a minha experiência (e a literatura nesta
área) mostra-me que é muito mais fácil reconstruir a relação quando a pessoa
que traiu está genuinamente disponível para esclarecer todas as dúvidas –
quando é que a relação começou, como é que terminou, quantos encontros houve,
do que é que costumavam falar, etc. Há uma exceção: não há nada de positivo
em partilhar detalhes sobre a intimidade sexual. Mesmo que haja muita
curiosidade em relação ao assunto, esta partilha vai certamente acicatar a
ferida e atrasar o restabelecimento da confiança.
#2: Transparência
O restabelecimento da confiança
não depende apenas do esclarecimento de dúvidas em relação ao passado. É
fundamental que haja um compromisso em relação à transparência no presente (e
no futuro).
Isso pode passar por mostrar
mensagens no telemóvel ou colocar algumas conversas em alta voz. Não é
desejável que a partir daqui haja qualquer tipo de subjugação por parte da
pessoa que traiu. A infidelidade não dá o direito à pessoa traída de passar
a controlar a vida do(a) companheiro(a). Mas, numa fase inicial é mesmo
muito importante que os membros do casal conversem sobre aquilo que pode ser
feito para que a pessoa traída se sinta segura de que a outra está a dizer a
verdade.
As coisas tornam-se quase sempre
mais complicadas quando a infidelidade acontece entre colegas de trabalho e o
contacto com a terceira pessoa continua a existir. Não há regras universais que
sirvam para todos os casais. Aquilo que importa é que haja abertura para que o
casal converse sobre aquilo que um pode fazer para devolver a segurança ao
outro (sem desrespeitar os próprios sentimentos e as próprias necessidades).
Quando colocamos a pergunta «O
que é que é mais importante para mim AGORA?» é mais provável que o caminho se
torne claro e que saibamos aquilo que podemos fazer para salvar a relação.
#3: Entender o que aconteceu
É importante que os membros do
casal conversem sobre o que aconteceu à relação antes da infidelidade – sem que
esta reflexão implique, em circunstância nenhuma, responsabilizar a pessoa
traída pelo ato da traição.
Como estava a
relação?
Como é que cada um se sentia até ali?
Como é que as necessidades de cada um estavam
a ser manifestadas?
O que é que permitiu que a pessoa que traiu
deixasse de contar com o(a) companheiro(a) para
dar resposta às suas necessidades?
O que é que abriu espaço para a sedução?
Como é que cada um se sentia até ali?
Como é que as necessidades de cada um estavam
a ser manifestadas?
O que é que permitiu que a pessoa que traiu
deixasse de contar com o(a) companheiro(a) para
dar resposta às suas necessidades?
O que é que abriu espaço para a sedução?
Esta reflexão, que normalmente
leva tempo a ser feita, é essencial para ambos possam implementar as mudanças
que imunizem a relação em relação à ocorrência de novas traições.
#4: Definir a intenção para a
relação
Às vezes, a pessoa traída tem
tanta “pressa” em salvar a relação que se esquece de prestar atenção às
intenções do(a) companheiro(a), àquilo que o(a) leva a estar de volta. Fá-lo-á
pelas razões certas? Por se sentir pressionado(a) ou envergonhado(a)? Por medo
de perder a família?
Se a pessoa que traiu não for
capaz de dizer coisas como «Eu amo-te», «É de ti que eu gosto» ou «É contigo
que eu quero ficar», é menos provável que a confiança seja reconstruída e que a
relação perdure.
#5: Começar a perdoar
Quando os membros do casal são
capazes de conversar abertamente sobre o que aconteceu, sobre os seus sentimentos
e sobre as suas intenções em relação à relação, é mais provável que a pessoa
traída se sinta pronta para voltar a investir na relação. Mas isso não
significa que a partir daí tudo corra maravilhosamente. É muito provável que
haja avanços e recuos, que haja alguns equívocos de comunicação, algumas
explosões e vários momentos de desconexão. Aquilo que importa é que ambos
mantenham o compromisso de voltar aos episódios geradores de tensão com a
genuína intenção de falar com abertura sobre o que cada um sente e aquilo de
que cada um precisa.