Será que uma pessoa que assuma
comportamentos abusivos em relação ao(à) companheiro(a) consegue mudar?
Esta é uma das perguntas mais
comuns entre as vítimas de violência – física ou emocional: Será que ele(a)
muda? De uma maneira geral, a pergunta resulta da ambivalência que a pessoa
sente: por um lado, ainda ama o(a) companheiro(a) e, por outro, está profundamente
desgastada com a relação. A maior parte das vítimas de violência emocional
lutam durante muito tempo para agradar à pessoa que amam, na esperança de
que o seu comportamento possa ajudar a eliminar os comportamentos abusivos.
Infelizmente, estas tentativas são quase sempre infrutíferas e até arriscadas,
já que a pessoa que pratica os abusos vai fazendo cada vez mais exigências,
assumindo um controlo cada vez maior sobre a vida da vítima.
Nos
relacionamentos emocionalmente abusivos,
uma parte controla sistematicamente a
outra,
minando a sua confiança, dignidade, crescimento,
e estabilidade
emocional, e provocando medo,
culpa e vergonha.
Uma pessoa que assuma comportamentos abusivos numa relação pode não o fazer noutra relação?
Sim, mas isso não significa que
tenha deixado de ser um abusador. Os abusos emocionais são normalmente
praticados por pessoas inseguras e manipuladoras, com dificuldade em empatizar
com os sentimentos dos outros. No início de uma relação, o abusador pode
assumir comportamentos que aparentemente traduzam respeito pelo(a)
companheiro(a), mas, à medida que se sinta mais confiante (de que conquistou a
outra pessoa), pode tornar-se tão ou mais agressivo.
Um abusador pode, de facto, mudar?
Sim, pode, MAS essa mudança é
rara e envolve MUITO tempo e MUITO trabalho. Quando falamos de abusos
emocionais falamos quase sempre de um sistema de valores que está doente e falamos
algumas vezes da existência de uma perturbação de personalidade, como a
perturbação de personalidade borderline, perturbação narcísica da personalidade
ou perturbação de personalidade antissocial.
O que é preciso para que um abusador emocional mude?
#1: Reconhecer que os
comportamentos são errados.
O abusador deve ser capaz de
identificar todos os comportamentos abusivos. Deve ser capaz de os reconhecer
como errados.
#2: Assumir a inteira
responsabilidade.
A pessoa que pratica os abusos
tem de ser capaz de assumir total responsabilidade pelos seus comportamentos,
em vez de responsabilizar a vítima. Quando alguém diz «Eu só agi assim porque
tu…» ou «Eu peço desculpa, mas tu…» ou «Eu sei que errei, mas tu…», não está
verdadeiramente disponível para assumir a sua responsabilidade e, por isso, não
está verdadeiramente capaz de se comprometer com a mudança.
#3: Humildade para pedir desculpa.
A pessoa que pratica os abusos
deve ser capaz de empatizar com os sentimentos da vítima, de mostrar interesse
pelos danos causados e de mostrar remorsos genuínos em relação ao passado.
#4: Disciplina.
A mudança só vai acontecer se a
pessoa que pratica os abusos estiver disponível para monitorizar o próprio
comportamento com frequência – prestando atenção àquilo que diz e permitindo
que a vítima se queixe ou chame a atenção para qualquer situação que seja
geradora de desrespeito. Frases como «Estás a ser demasiado exigente», «Não
aguento este clima de tolerância zero» ou «Tu és demasiado sensível» são
indicadoras da inexistência de um compromisso com a mudança.
#5: Motivação.
A pessoa que pratica os abusos
deve ser capaz de mostrar de forma clara, inequívoca e consistente que fará
tudo o que estiver ao seu alcance para parar com os abusos. De um modo geral, é
mais provável que isso aconteça se o abusador se der conta de que, se não o
fizer, há o risco sério de a relação terminar. A motivação é demonstrada
através da disponibilidade para ler sobre o assunto e aprender a diferenciar
comportamentos abusivos, pedir ajuda profissional e comprometer-se com o
processo terapêutico (em vez de contar uma história diferente ao terapeuta e
dizer «O psicólogo disse que eu não tenho qualquer problema»).