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17.2.20

COMO MANTER AMIGOS: INTELIGÊNCIA RELACIONAL


Como manter amigos


Como é que mantemos uma amizade? Que escolhas podemos fazer para nos mantermos próximos das pessoas de quem gostamos?


É mais do que sabido que somos mais felizes na medida em que construamos ligações estáveis, que nos façam sentir amados, amparados. A maior parte de nós deseja construir uma ligação romântica, uma família coesa, mas não só: queremos ter (bons) amigos ao nosso lado. Hoje parece tudo muito mais fácil graças ao Facebook, ao Whatsapp ou ao Instagram: é infinitamente mais provável que consigamos saber do paradeiro de ex-colegas de escola, sabemos aonde é que os nossos amigos passam as férias e os fins-de-semana (porque vemos as suas publicações) e recebemos vários pedidos de amizade de pessoas que nunca vimos na vida. Paradoxalmente, podem passar-se meses (ou anos!) sem que tenhamos qualquer conversa significativa com os nossos amigos. E às vezes acabamos por saber que um deles se divorciou, perdeu o emprego ou esteve doente muito tempo depois de algum destes acontecimentos ter ocorrido.

As redes sociais ajudam a manter amizades ou não?

As redes sociais são tão úteis como o telefone. Podem ajudar-nos a manter uma amizade, mas também podem desviar-nos do que é realmente importante.

De que adianta termos um telefone em casa e outro no bolso se nos esquecermos de ligar às pessoas de quem gostamos?


De que adianta termos cinco mil “amigos” no Facebook se vivermos com a sensação de que ninguém nos conhece verdadeiramente ou com a convicção de que não há ninguém com quem possamos realmente contar?

De certeza que qualquer um de nós já passou pela experiência de ver um grupo de amigos num jantar ou numa festa “agarrados” aos smartphones. Muitos estão a trocar mensagens superficiais com amigos que estão do outro lado do ecrã ao mesmo tempo que ignoram a oportunidade de ter as tais conversas significativas com quem está mesmo ali ao lado. Às vezes caímos no ridículo de tomar conhecimento de uma ocorrência importante através das redes sociais e acabamos por perguntar, espantados, à pessoa que temos ao nosso lado «Como é que eu só sei disto pelo Facebook?».

A verdade é que também nos desabituámos de investir o nosso tempo e a nossa paciência para ouvir os longos desabafos das pessoas de quem gostamos. É mais fácil aceder aos resumos que vamos encontrando nas redes, colocar um “gosto” ou até fazer um breve comentário. Mas nenhum de nós trocaria um abraço e o ombro de um amigo por um simples “Força” escrito no Facebook, certo?

Porque é que nos vamos afastando dos nossos amigos?


Quando deixamos que o piloto automático tome conta de nós e vivemos imersos nas responsabilidades familiares e profissionais, é mais provável que deixemos de ser os amigos de que os nossos amigos precisam. Por mais que digamos coisas como “Estou cá para o que der ou vier” ou “Liga-me quando precisares”, isso não significa que estejamos a fazer a nossa parte para que uma amizade se mantenha. Como do outro lado está alguém que, tal como nós, tem várias obrigações para gerir e pouco tempo para refletir sobre o que realmente importa, é fácil ir perdendo contacto (e ligação emocional).

Como é que se mantém uma amizade?

Construir amizades sólidas depende mais da nossa consistência do que de gestos grandiosos. Depende da nossa inteligência relacional.




O que é a inteligência relacional?


A inteligência relacional tem sido amplamente associada ao contexto profissional. Todos sabemos que a progressão na carreira é mais fácil na medida em que tenhamos uma boa rede de contactos. Conhecer as pessoas certas pode ser meio caminho para que nos confrontemos com boas oportunidades. Mas o que é que isto quer realmente dizer? Será que a inteligência relacional tem a ver com “dar graxa” a um conjunto de pessoas para que possamos colher benefícios? Claro que não!

Desenvolver a nossa inteligência relacional e tentar promover e manter boas relações com as pessoas com quem nos vamos cruzando – social ou profissionalmente – não tem nada a ver com qualquer tipo de bajulação. É sobretudo uma questão de reconhecermos que é sempre possível fazermos escolhas que melhorem a vida das pessoas à nossa volta e que isso deixa uma marca positiva, cria ligações emocionais.

Imagine que tem um casamento de um familiar num sábado de manhã. O seu horário de trabalho implica que faça turnos e você está escalado(a) para trabalhar na sexta à noite, mas o seu chefe toma a iniciativa de lhe dar folga para que possa descansar antes do evento que é importante para si. Como é que isso o(a) faz sentir? Que imagem é que esta pessoa lhe transmite? Depois disso, qual é a probabilidade de você tomar a iniciativa de ajudar o seu chefe num momento em que ele precise de si?

Voltemos às relações com os nossos amigos: tal como acontece com a nossa própria vida, há sempre coisas importantes a acontecer na vida dos nossos amigos. Há discussões, há aflições, há perdas, há chatices, há imprevistos e há ninharias que, com o tempo, não têm qualquer importância, mas que, quando acontecem, mexem connosco.

Como é que se sente se partilhar com um amigo um episódio qualquer com que se tenha aborrecido e, dias depois, ele lhe ligar “só” para saber “como estão as coisas”?


É reconfortante, não é? Quantas vezes se lembra de fazer o mesmo? Nos últimos tempos, quantas vezes voltou a contactar com um(a) amigo(a) só para saber se aquele aborrecimento de que ele/ela lhe falou já está resolvido ou simplesmente para saber se ele/ela está mais calmo(a) ou mais sereno(a)?

Lembre-se das pessoas sempre, não apenas quando precisa delas.

Lembrarmo-nos das pessoas de quem gostamos SEMPRE, e não apenas quando precisamos delas, é um sinal de inteligência relacional. Há quanto tempo não telefona aos seus amigos? E se o fizer, o que é que quer saber? Quanto tempo tem disponível para os ouvir? Convida-os para ir a sua casa? Se ler um artigo sobre a área de trabalho daquela pessoa, lembra-se de lhe enviar?

É sempre possível fazer alguma coisa por algum dos nossos amigos – se estivermos atentos e interessados. Podemos dar boleia quando sabemos que um(a) amigo(a) tem o carro na oficina, podemos oferecer o nosso ombro quando ele(a) se chateia com o(a) namorado(a), podemos ajudar com os nossos conhecimentos profissionais. Mas, para tudo isso, é preciso que sejamos consistentes e que façamos parte da vida das pessoas de quem gostamos de forma regular.

É mais provável que consigamos manter-nos próximos dos nossos amigos se:

Formos confiáveis. Há muitas formas de mostrarmos aos nossos amigos que eles podem confiar em nós: quando guardamos um segredo, quando fazemos aquilo que prometemos (Não vale a pena dizer “Eu ligo-te no fim-de-semana” se não tiver a genuína intenção de o fazer).

Escolhermos dar em vez de receber de forma consistente. Oferecer a nossa ajuda, de forma genuinamente desinteressada é a melhor forma de nos ligarmos a alguém. Curiosamente, é a forma mais sólida de construirmos relações que acabem por nos trazer múltiplas vantagens. Em suma, ser-se genuinamente boa pessoa.

Oferecermos o nosso apoio em momentos de aflição. Há poucas coisas que guardemos com maior facilidade na nossa memória do que os momentos de sofrimento em que alguém nos mostrou o seu apoio incondicional. Sabermos que há quem se preocupe connosco e escolha estar “lá” para nós quando mais precisamos não tem preço.

Mostrarmos a nossa autenticidade e a nossa vulnerabilidade. Quando nos enchemos de medo de nos mostrarmos exatamente como somos e usamos máscaras para camuflar as nossas falhas, as nossas imperfeições e as nossas angústias, acabamos por criar personagens plásticas com as quais os outros têm dificuldade em construir ligações. Ninguém precisa de amigos perfeitos, super-homens e supermulheres sempre prontos para nos mostrarem que somos os únicos que erram ou que sentem medo. Mostrar a nossa vulnerabilidade não só não nos transforma em pessoas fracas aos olhos dos nossos amigos, como acaba por construir pontes que estreitam a ligação.

Partilharmos os acontecimentos positivos. Enviar uma mensagem a um amigo, com uma mensagem personalizada, a contar a nossa última aventura tem um impacto muito diferente de qualquer publicação partilhada nas redes sociais. Uma coisa é recebermos uma mensagem em que um amigo se dirige a nós pelo nome próprio, pela alcunha com que sempre nos tratou ou com uma asneirola que só permitimos às pessoas de quem gostamos muito a dizer “Não imaginas o que me aconteceu” e outra, bem diferente, é recebermos uma notificação no telemóvel que nos diga “O teu amigo X identificou-te numa publicação com 99 outras pessoas”.

Mostrarmos o nosso interesse de forma consistente. Não há volta a dar: todas as ligações afetivas dão trabalho e as pessoas que vivem rodeadas de bons amigos não têm apenas sorte. Elas fazem por isso. Manter uma amizade implica manter o contacto, estar perto mesmo quando fisicamente não é possível estar perto. Implica querer saber e mostrar que temos paciência para escutar. Implica telefonar, convidar, acarinhar – e não apenas nas datas comummente consideradas especiais. Implica prestar atenção e querer genuinamente deixar uma marca positiva.

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