Como é que mantemos uma amizade? Que escolhas podemos fazer para nos mantermos próximos das pessoas de quem gostamos?
É mais do que sabido que somos
mais felizes na medida em que construamos ligações estáveis, que nos façam
sentir amados, amparados. A maior parte de nós deseja construir uma ligação
romântica, uma família coesa, mas não só: queremos ter (bons) amigos ao nosso
lado. Hoje parece tudo muito mais fácil graças ao Facebook, ao Whatsapp ou ao
Instagram: é infinitamente mais provável que consigamos saber do paradeiro de
ex-colegas de escola, sabemos aonde é que os nossos amigos passam as férias e
os fins-de-semana (porque vemos as suas publicações) e recebemos vários pedidos
de amizade de pessoas que nunca vimos na vida. Paradoxalmente, podem passar-se
meses (ou anos!) sem que tenhamos qualquer conversa significativa com os nossos
amigos. E às vezes acabamos por saber que um deles se divorciou, perdeu o
emprego ou esteve doente muito tempo depois de algum destes acontecimentos ter
ocorrido.
As redes sociais ajudam a
manter amizades ou não?
As redes sociais são tão úteis
como o telefone. Podem ajudar-nos a manter uma amizade, mas também podem
desviar-nos do que é realmente importante.
De que adianta termos cinco mil “amigos” no Facebook se vivermos com a sensação
de que ninguém nos conhece verdadeiramente ou com a convicção de que não há
ninguém com quem possamos realmente contar?
De certeza que qualquer um de nós
já passou pela experiência de ver um grupo de amigos num jantar ou numa festa “agarrados”
aos smartphones. Muitos estão a trocar mensagens superficiais com amigos que
estão do outro lado do ecrã ao mesmo tempo que ignoram a oportunidade de ter as
tais conversas significativas com quem está mesmo ali ao lado. Às vezes caímos
no ridículo de tomar conhecimento de uma ocorrência importante através das
redes sociais e acabamos por perguntar, espantados, à pessoa que temos ao nosso
lado «Como é que eu só sei disto pelo Facebook?».
A verdade é que também nos
desabituámos de investir o nosso tempo e a nossa paciência para ouvir os longos
desabafos das pessoas de quem gostamos. É mais fácil aceder aos resumos que
vamos encontrando nas redes, colocar um “gosto” ou até fazer um breve
comentário. Mas nenhum de nós trocaria um abraço e o ombro de um amigo por um
simples “Força” escrito no Facebook, certo?
Porque é que nos vamos afastando dos nossos amigos?
Quando deixamos que o piloto
automático tome conta de nós e vivemos imersos nas responsabilidades familiares
e profissionais, é mais provável que deixemos de ser os amigos de que os nossos
amigos precisam. Por mais que digamos coisas como “Estou cá para o que der ou
vier” ou “Liga-me quando precisares”, isso não significa que estejamos a fazer
a nossa parte para que uma amizade se mantenha. Como do outro lado está alguém
que, tal como nós, tem várias obrigações para gerir e pouco tempo para refletir
sobre o que realmente importa, é fácil ir perdendo contacto (e ligação
emocional).
Como é que se mantém uma amizade?
Construir amizades sólidas
depende mais da nossa consistência do que de gestos grandiosos. Depende da
nossa inteligência relacional.
O que é a inteligência relacional?
A inteligência relacional tem
sido amplamente associada ao contexto profissional. Todos sabemos que a
progressão na carreira é mais fácil na medida em que tenhamos uma boa rede de
contactos. Conhecer as pessoas certas pode ser meio caminho para que nos
confrontemos com boas oportunidades. Mas o que é que isto quer realmente dizer?
Será que a inteligência relacional tem a ver com “dar graxa” a um conjunto de
pessoas para que possamos colher benefícios? Claro que não!
Desenvolver a nossa inteligência
relacional e tentar promover e manter boas relações com as pessoas com quem nos
vamos cruzando – social ou profissionalmente – não tem nada a ver com qualquer
tipo de bajulação. É sobretudo uma questão de reconhecermos que é sempre
possível fazermos escolhas que melhorem a vida das pessoas à nossa volta e que
isso deixa uma marca positiva, cria ligações emocionais.
Imagine que tem um casamento de
um familiar num sábado de manhã. O seu horário de trabalho implica que faça
turnos e você está escalado(a) para trabalhar na sexta à noite, mas o seu chefe
toma a iniciativa de lhe dar folga para que possa descansar antes do evento que
é importante para si. Como é que isso o(a) faz sentir? Que imagem é que esta
pessoa lhe transmite? Depois disso, qual é a probabilidade de você tomar a iniciativa
de ajudar o seu chefe num momento em que ele precise de si?
Voltemos às relações com os
nossos amigos: tal como acontece com a nossa própria vida, há sempre coisas
importantes a acontecer na vida dos nossos amigos. Há discussões, há aflições,
há perdas, há chatices, há imprevistos e há ninharias que, com o tempo, não têm
qualquer importância, mas que, quando acontecem, mexem connosco.
É reconfortante, não é? Quantas vezes se lembra de fazer o mesmo? Nos
últimos tempos, quantas vezes voltou a contactar com um(a) amigo(a) só para
saber se aquele aborrecimento de que ele/ela lhe falou já está resolvido ou
simplesmente para saber se ele/ela está mais calmo(a) ou mais sereno(a)?
Lembre-se das pessoas sempre,
não apenas quando precisa delas.
Lembrarmo-nos das pessoas de quem
gostamos SEMPRE, e não apenas quando precisamos delas, é um sinal de
inteligência relacional. Há quanto tempo não telefona aos seus amigos? E se o
fizer, o que é que quer saber? Quanto tempo tem disponível para os ouvir?
Convida-os para ir a sua casa? Se ler um artigo sobre a área de trabalho
daquela pessoa, lembra-se de lhe enviar?
É sempre possível fazer alguma
coisa por algum dos nossos amigos – se estivermos atentos e interessados.
Podemos dar boleia quando sabemos que um(a) amigo(a) tem o carro na oficina,
podemos oferecer o nosso ombro quando ele(a) se chateia com o(a) namorado(a),
podemos ajudar com os nossos conhecimentos profissionais. Mas, para tudo isso,
é preciso que sejamos consistentes e que façamos parte da vida das pessoas de
quem gostamos de forma regular.
É mais provável que consigamos
manter-nos próximos dos nossos amigos se:
Formos confiáveis. Há
muitas formas de mostrarmos aos nossos amigos que eles podem confiar em nós:
quando guardamos um segredo, quando fazemos aquilo que prometemos (Não vale a
pena dizer “Eu ligo-te no fim-de-semana” se não tiver a genuína intenção de o
fazer).
Escolhermos dar em vez de
receber de forma consistente. Oferecer a nossa ajuda, de forma genuinamente
desinteressada é a melhor forma de nos ligarmos a alguém. Curiosamente, é a
forma mais sólida de construirmos relações que acabem por nos trazer múltiplas
vantagens. Em suma, ser-se genuinamente boa pessoa.
Oferecermos o nosso apoio em momentos
de aflição. Há poucas coisas que guardemos com maior facilidade na nossa
memória do que os momentos de sofrimento em que alguém nos mostrou o seu apoio
incondicional. Sabermos que há quem se preocupe connosco e escolha estar “lá”
para nós quando mais precisamos não tem preço.
Mostrarmos a nossa
autenticidade e a nossa vulnerabilidade. Quando nos enchemos de medo de nos
mostrarmos exatamente como somos e usamos máscaras para camuflar as nossas
falhas, as nossas imperfeições e as nossas angústias, acabamos por criar
personagens plásticas com as quais os outros têm dificuldade em construir
ligações. Ninguém precisa de amigos perfeitos, super-homens e supermulheres
sempre prontos para nos mostrarem que somos os únicos que erram ou que sentem
medo. Mostrar a nossa vulnerabilidade não só não nos transforma em pessoas
fracas aos olhos dos nossos amigos, como acaba por construir pontes que
estreitam a ligação.
Partilharmos os acontecimentos
positivos. Enviar uma mensagem a um amigo, com uma mensagem personalizada,
a contar a nossa última aventura tem um impacto muito diferente de qualquer
publicação partilhada nas redes sociais. Uma coisa é recebermos uma mensagem em
que um amigo se dirige a nós pelo nome próprio, pela alcunha com que sempre nos
tratou ou com uma asneirola que só permitimos às pessoas de quem gostamos muito
a dizer “Não imaginas o que me aconteceu” e outra, bem diferente, é recebermos
uma notificação no telemóvel que nos diga “O teu amigo X identificou-te numa
publicação com 99 outras pessoas”.
Mostrarmos o nosso interesse
de forma consistente. Não há volta a dar: todas as ligações afetivas dão
trabalho e as pessoas que vivem rodeadas de bons amigos não têm apenas sorte.
Elas fazem por isso. Manter uma amizade implica manter o contacto, estar perto
mesmo quando fisicamente não é possível estar perto. Implica querer saber e
mostrar que temos paciência para escutar. Implica telefonar, convidar,
acarinhar – e não apenas nas datas comummente consideradas especiais. Implica
prestar atenção e querer genuinamente deixar uma marca positiva.