É possível encontrar o amor através da Internet? Que diferenças existem entre os encontros online e os encontros na vida real? Que comportamentos devemos ter para evitar perder tempo e energia com quem possa estar apenas à procura de um engate?
A Internet veio facilitar – e
muito – a vida dos adultos à procura de um relacionamento. Há uns anos, quando
alguém se separava, tinha de lidar com a dificuldade em conhecer pessoas novas.
A sensação que muitas pessoas recém-separadas tinham era de que teriam de fazer
muitas escolhas que as obrigariam a sair muito da sua zona de conforto para
encontrar um(a) novo(a) companheiro(a) romântico.
Quantas pessoas precisamos de
conhecer até encontrar “a tal”?
Não é por acaso que ouvimos falar
da “química” do amor. A maioria de nós não se apaixona com facilidade. Podemos
sentir-nos atraídos por algumas pessoas, podemos considera-las interessantes de
muitos pontos de vista e, ainda assim, podemos constatar que simplesmente não
há faísca.
O professor John Gottman, provavelmente um dos mais reconhecidos investigadores na área da conjugalidade (ao ponto de a revista Psychology Today o apelidar de “Einstein do Amor”), contou a determinada altura como é que conheceu a sua mulher, a professora Julie Gottman, com quem está casado há mais de trinta anos. Apesar de o seu trabalho estar centrado na investigação sobre os motivos por que algumas relações resultam e outras falham, John Gottman tinha ultrapassado a barreira dos 40 anos, estava divorciado há sete e colecionava relações mal-sucedidas. Antes de recomeçarem as aulas na universidade, aproveitando o tempo livre de que dispunha, decidiu conhecer o maior número de mulheres que conseguisse. Na altura (1986), não havia Internet e Gottman decidiu responder a todos os anúncios pessoais que encontrasse nos jornais. Em seis semanas, conheceu sessenta mulheres. Sessenta! Julie foi a 61ª. Primeiro, trocaram números de telefone e conversaram durante mais de quatro horas seguidas, sentindo uma empatia imediata. Depois, combinaram um encontro num bar. John Gottman chegou cedo e deu por si a observar as mulheres que entravam no bar interrogando-se «Será que esta é que é a Julie?». Algumas mulheres não (lhe) pareciam muito interessantes e Gottman dava por si a pensar «Espero que não seja esta». Quando Julie entrou no bar, Gottman gostou da sua aparência e pensou «Espero que seja esta». Conversaram, ela riu-se das suas piadas e, no segundo encontro, Gottman sabia que ela era “a tal”.
Nos dias de hoje o que não faltam
são opções. Entre o Tinder, o Facebook e os mais variados sites de encontros,
sabemos que é muito mais fácil conhecer muitas pessoas em pouco tempo através
da Internet do que na vida real. Mas isso não significa que a tarefa seja
fácil, sobretudo para quem busca mais do que relações ocasionais.
Um dos primeiros desafios que
qualquer pessoa terá de enfrentar se estiver na disposição de procurar um novo
amor na Internet tem precisamente a ver com este paradoxo da escolha: O facto
de haver tanta oferta tende a baralhar-nos. É como se o facto de sabermos que
há milhares de pessoas “disponíveis” nos tornasse menos tolerantes a pequenas
falhas e menos pacientes para conhecer melhor cada pessoa com quem nos
cruzemos.
O facto de haver aparentemente
tanta oferta faz com que também seja mais fácil afastar potenciais companheiros
românticos - mesmo que os consideremos interessantes - na esperança de que seja
possível encontrar alguém (ainda) melhor.
Qual é o perfil de quem procura o amor na Internet?
Na verdade, há muitos perfis. Na
Internet, tal como na vida real, a percentagem de pessoas que procuram relações
sem grandes compromissos é maior. Já falei sobre isso AQUI a propósito dos
estilos de vinculação amorosa. As pessoas com um estilo de vinculação evitante
sentem-se pouco confortáveis com níveis elevados de intimidade emocional e, por
isso, têm relações mais curtas, voltam muito mais vezes ao “mercado” dos
solteiros e fazem-no de forma mais ativa. É por isso que algumas pessoas se
queixam porque aparentemente estão sempre a relacionar-se com as pessoas
“erradas”.
Saiba qual é o seu estilo de
vinculação – e a pessoa certa para si – AQUI.
A Internet é um mundo “à parte”
porque, como é fácil de perceber, permite que haja uma série de passos que
sejam dados sob anonimato ou com dados falsos que, cá fora, seriam mais rapidamente
detetados. Online há um risco maior de começarmos a conversar com alguém cujas
intenções pareçam uma coisa e sejam, na realidade outra.
Mas nem tudo é mau! Aquilo que
várias pesquisas demonstram é que quem está na Internet à procura do amor são
normalmente pessoas que investem muita energia e às vezes até dinheiro nesta
busca. Sim, há quem pague para ter acesso a conteúdos exclusivos ou para que um
“especialista” encontre a “alma gémea”. Isto também pode mostrar alguma
motivação extra para construir uma relação, por oposição àquela ideia feita de
que na Internet só se encontra pessoas à procura de engates.
As pessoas mais velhas também recorrem à Internet?
Sim, mas tendem a ser mais
seletivas - em particular as mulheres. Depois de uma certa idade, e, sobretudo,
depois de uma ou mais relações significativas de longa duração, tendemos a
definir de forma mais precisa aquilo que queremos e aquilo que não queremos
para nós. Tem havido um crescimento no número de pessoas com 50 e 60 anos que
utilizam a Internet para encontrar um novo amor, mas estas pessoas são
normalmente mais exigentes.
Quando é uma pessoa está pronta para procurar o amor na Internet?
Há muitas pessoas que criam um
perfil em sites e aplicações de encontros pouco tempo depois da separação, sentindo
uma mistura de excitação e insegurança. Por um lado, sentem-se genuinamente
maravilhadas com as possibilidades que a Internet oferece (e que na muitas
vezes não existiam quando começaram a relação anterior), mas, por outro,
sentem-se assustadas com este admirável mundo novo.
É muito importante que cada
pessoa avalie se se sente realmente pronta para enfrentar os desafios dos
encontros digitais. O luto da relação anterior está feito? Como está a sua
autoestima? Está preparado(a) para correr riscos e lidar com a rejeição?
Algumas pessoas iniciam esta
procura e interrompem-na pouco tempo depois precisamente por perceberem que
ainda se sentem demasiado ligadas à anterior relação ou que simplesmente não
adquiriram o estofo e a estabilidade que lhes permita saborear esta aventura
sem correr o risco de ver a própria autoestima destruída.
Encontrar o amor online: o que é que procura?
É uma pessoa “com um feitio
complicado”? Ou a maior parte das pessoas à sua volta tendem a rotulá-lo(a) de
“pragmático(a)”? Gosta muito de viajar e dá-se mal com a monotonia? Ou é uma
pessoa de gostos simples e qua não lida bem com demasiada aventura? Aquilo que
a ciência nos mostra é que tendemos a sentir-nos mais felizes com pessoas com
quem sintamos que haja afinidade. Não, isso não quer dizer que tenhamos de encontrar
alguém com os mesmos hobbies.
Antes de partir para a análise de
qualquer perfil online, pare um pouco para refletir sobre si. Elabore uma
“lista de valores” e organize-nos de acordo com a importância. Gaste algum tempo
a refletir sobre este assunto tão sério. O que é que é realmente importante
para si? Que características é que um(a) parceiro(a) romântico tem mesmo de
ter? Depois, reflita sobre a sua própria experiência. A que sinais é que acha
que pode estar atento(a)? Que perguntas vai precisar de colocar para perceber
se a outra pessoa partilha os mesmos valores?
O que é que devo incluir no perfil? A importância da autenticidade.
Se há algo que a ciência nos
oferece é a certeza de que somos muito mais felizes na medida em que tenhamos
uma vida autêntica. Online as coisas não são diferentes. Você não controla a
honestidade de quem está do outro lado, mas há muitas escolhas que pode fazer
com o objetivo de se aproximar das pessoas certas.
No que toca à vontade de encontrar
o amor, o medo pode complicar o processo. Quando uma pessoa se sente ansiosa
perante a possibilidade de se sentir rejeitada, pode ser tentador mascarar a
própria realidade. Por exemplo, algumas pessoas omitem, propositadamente, o
facto de terem filhos com medo de serem automaticamente excluídas pela maioria
dos potenciais parceiros. Mas será que vale a pena? A minha experiência
mostra-me que não.
A procura do amor não é um
concurso de popularidade e a sua autoestima não pode estar dependente do número
de pessoas que gostam do seu perfil.
É preferível ser claro(a) e
honesto(a) em relação a quem é e àquilo que quer para si. Isso aproximá-lo(a)-á
das pessoas certas e permitir-lhe-á investir apenas nas pessoas que estejam
dispostas a aceitá-lo(a) exatamente como é. Mesmo assim, é possível que do
outro lado haja quem não seja totalmente sincero e possa tentar iludi-lo(a).
Lembre-se de que não há qualquer
vantagem em criar uma personagem. Foque-se na minoria que lhe interessa.
Seja honesto(a) também nas fotografias.
Não vale a pena publicar uma foto de há 10 ou 15 anos. A desilusão será maior.
Quando é que se deve marcar um encontro presencial?
Cada pessoa sabe de si,
naturalmente, mas, de uma maneira geral, é desejável que ninguém gaste muito
tempo a investir numa relação cuja comunicação seja apenas digital. A nossa
comunicação é, sobretudo, não-verbal. Revelamo-nos muito mais cara a cara do
que através de qualquer texto.
Quando partir para esta etapa,
lembre-se de garantir a sua segurança:
·
Combine o primeiro encontro num lugar público;
·
Partilhe a sua localização com um familiar ou
um(a) amigo(a);
·
Evite partilhar informações que possam ser
utilizadas de forma abusiva.
· Defina bem os seus limites. Seja claro(a) em
relação a qualquer comportamento que considere inapropriado.
Ainda em relação a este primeiro
encontro, é importante que procure criar condições para que ninguém se sinta
(muito) pressionado:
·
Combine uma ATIVIDADE. Fazer qualquer que
permita que ambos se mantenham entretidos, ainda que haja espaço para a
conversa, é meio caminho para aliviar a pressão.
·
Não leve tudo demasiado a sério. Sim, você está
à procura de uma relação amorosa, mas não encare um primeiro encontro como
entrevista de emprego. Procure, sobretudo, avaliar se gostaria de voltar a
encontrar-se com esta pessoa uma segunda vez (e não tente perceber logo se
ele(a) é a pessoa certa para passar o resto da vida ao seu lado).