Sabia que as conversas a dois
podem ser autênticos ansiolíticos para lidar com o stress? É verdade. Os casais
felizes cultivam o hábito de conversar diariamente sobre aquilo que mexe com
cada um e utilizam algumas estratégias para lidar (a dois) com o stress. Por outro
lado, há quem chegue a casa diariamente e receba tudo menos o apoio de que
precisa. Afinal, o que é que é preciso para que estas conversas diárias nos
ajudem a reduzir o stress?
Não sei se já lhe aconteceu, mas
quase todos os dias ouço alguém dizer-me que se sente incompreendido(a) pelo(a)
companheiro(a). Na maioria das vezes são pessoas que se sentem
desamparadas na relação conjugal – ou porque a pessoa que está ao seu lado não
presta atenção, ou porque não valoriza os seus sentimentos ou, pior, porque
critica em vez de apoiar. Não vale a pena precipitarmo-nos a julgar. A verdade
é que, em algum momento, já todos falhámos nesta matéria. Nem sempre é fácil
estarmos exatamente no mesmo comprimento de onda que o(a) nosso(a)
companheiro(a) e, na azáfama dos dias, há alturas em que estamos tão absorvidos
pelas nossas próprias inquietações (ou prazeres) que acabamos por não conseguir
estar tão disponíveis para a pessoa que amamos.
Claro que uma coisa é “falhar” a
título excecional e outra, bem diferente, é estarmos sistematicamente indisponíveis.
O momento certo para conversar
a dois
Quando chega a casa, o que é que
prefere? Parar, sozinho(a), durante alguns minutos para “desligar” do stress do
trabalho e só depois conversar com a pessoa de quem gosta? Ou é daquelas
pessoas que entra em casa pronto(a) para “descarregar” tudo aquilo que lhe
aconteceu?
Pessoas diferentes têm
necessidades diferentes. E está tudo bem. Pelo menos, na medida em que essas
diferenças não se transformem em braços-de-ferro. Se os membros do casal
respeitarem as diferenças, é mais provável que encontrem uma solução de
compromisso a propósito do momento mais ajustado para que estas conversas
aconteçam.
Às vezes, estas conversas a dois
acontecem ao longo do jantar, com o “ruído de fundo” das crianças, da televisão
e de outras distrações. Noutras, acontecem ao serão, na cama. O importante é
que nos disciplinemos para que aconteçam e que aceitemos as limitações e
imperfeições da vida no dia-a-dia.
Para que servem estas conversas de casal?
Para descomprimir a dois. Para
criar uma sensação de união e pertença. Para que nos sintamos amparados.
As conversas a dois que acontecem
habitualmente no final de cada dia são um dos “segredos” dos casais mais
felizes. Acontecem praticamente todos os dias e permitem que cada um se sinta
visto, compreendido e amado. São autênticos “calmantes” naturais que nos ajudam
a perceber que é ao lado da pessoa que escolhemos que nos sentimos mais
relaxados. Num dia normal são precisos 20 a 30 minutos para estas conversas.
Mas é preciso ter atenção ao
propósito destas conversas e a tudo aquilo que elas Não são! Estas conversas
diárias a dois NÃO servem para falar sobre os problemas da relação.
Na verdade, em 99% das vezes
estas conversas não são sobre a relação. São conversas sobre todas as pequenas
e grandes coisas que mexem com cada um dos membros do casal ao longo do dia.
São uma espécie de atualização diária a respeito daquilo que vai acontecendo quando
os membros do casal não estão juntos. Claro que a ideia não é apenas a de cada
um fazer um relatório do seu dia. A intenção é a de partilhar, acolher, demonstrar
interesse, apoiar e incentivar.
Se pensarmos naquilo de que
precisamos quando escolhemos desabafar com alguém, é fácil perceber o papel de
quem está do outro lado. De uma maneira geral, quando falamos sobre aquilo que
mexe connosco, seja pela positiva ou pela negativa, gostamos de:
Perceber que a outra pessoa
presta atenção;
Sentir o seu interesse / a sua
curiosidade genuína;
Receber o seu apoio / colo;
Perceber o seu entusiasmo em
relação ao que nos faz felizes.
No entanto, é quase sempre mais
desafiante oferecermos tudo isto à pessoa que amamos. Pelo menos, de forma
consistente. Quando ele/ ela comete algum erro ou passa por alguma dificuldade,
nem sempre temos o discernimento para dar colo antes de dar um sermão. Quando
os sonhos dele/dela colidem com as nossas necessidades nem sempre conseguimos
mostrar entusiasmo, quanto mais incentivá-lo(a) a lutar pelos seus objetivos.
É por isso que é tão importante prestar
atenção à forma como estamos a comunicar com a pessoa que amamos. É que se
deixarmos que o piloto automático tome conta de nós, é muito fácil fazer
escolhas que façam com que a pessoa de quem gostamos sinta que está a desabafar
com o inimigo!
Como devem ser estas conversas de casal?
Se acha que é daqueles/daquelas
que facilmente se enche de boas intenções, mas rapidamente se esquece daquilo
que deve fazer, o melhor é apontar ou imprimir as seguintes “regras” e
guardá-las num sítio onde seja provável que as releia (na porta do
frigorífico?):
#1: ALTERNEM OS PAPÉIS.
Cada membro do casal deve ter
(mais ou menos) o mesmo tempo para falar.
#2: NÃO DÊ CONSELHOS QUE NÃO LHE
FORAM SOLICITADOS.
Se der rapidamente uma sugestão
para o dilema do(a) seu(sua) companheiro(a), ele(a) poderá achar que você está
a minimizar a situação. Na prática, você está a dizer «Isso não é assim tão
complicado. Porque é que tu não…?».
É preciso que a pessoa que ama
sinta que você compreende e empatiza com o dilema antes de sugerir uma solução.
Por vezes, aquilo de que a outra pessoa precisa nem é de uma solução –
basta-lhe que você seja um bom ouvinte, ou que ofereça o seu ombro. Existe uma
significativa diferença de género nesta regra. Quando a mulher partilha os seus
problemas com o marido, normalmente reage de um modo muito negativo quando ele
lhe dá conselhos imediatamente. Em vez disso, ela quer ouvir que ele compreende
a situação. Os homens são muito mais tolerantes perante as tentativas imediatas
para resolver o problema. Ainda assim, se um homem partilhar com a mulher os
seus problemas no trabalho, provavelmente preferirá que ela lhe demonstre
empatia em vez de uma solução.
#3: MOSTRE INTERESSE GENUÍNO.
Não deixe que a sua mente
divague. Centre-se naquilo que o(a) seu(sua) companheiro(a) está a dizer.
Coloque questões. Olhe nos olhos.
#4: MOSTRE A SUA EMPATIA.
Deixe que a pessoa que ama saiba
que compreende o que ela está a sentir: «Que frustração! Eu também ficaria em
stress. Percebo porque é que te sentes assim».
#5: FIQUE DO LADO DO(A) SEU(SUA)
COMPANHEIRO(A).
Isto implica dar apoio, mesmo que
considere que a perspetiva dele(a) não é razoável. Não fique do lado oposto. Se
o patrão da sua mulher implicou com ela porque chegou 5 minutos atrasada, não
diga «Bem, não te deverias ter atrasado». Em vez disso, diga «Que chatice!». A
ideia não é ser desonesto(a). A questão é que o timing é determinante. Quando
o(a) seu(sua) companheiro(a) vem ter consigo à procura de apoio emocional (e
não de conselhos), a sua função não é a de fazer juízos de valor ou a de lhe
dizer o que fazer. A sua função é a de dizer «Estou aqui para ti».
#6: EXPRESSE O SEU AFETO.
Abrace o(a) seu(sua)
companheiro(a), diga-lhe que o(a) ama.
#7: VALIDE AS EMOÇÕES DO(A) SEU(SUA) COMPANHEIRO(A).
Diga-lhe que aquelas emoções
fazem sentido, que ele(a) tem o direito de se sentir “assim”: «Sim, isso é
muito triste. Eu também ficaria preocupado(a)».