Em tempos de confinamento, manter um relacionamento harmonioso é cada vez mais desafiante, sobretudo quando temos de conjugar o trabalho, a ocupação de crianças pequenas, o acompanhamento escolar e todas as tarefas que uma casa exige. Hoje partilho algumas sugestões que podem ajudar-nos a manter a ligação com a pessoa que amamos.
Em duas palavras, é mais provável
que nos mantenhamos conectados se houver altruísmo e (boa) comunicação. Aqui
estão algumas dicas:
#1: Oferecer “bolsas de tempo”
A inexistência de limites físicos
entre a vida profissional e familiar é uma das grandes fontes de stress. Quando
os membros do casal conseguem comprometer-se a “segurar as pontas” para
oferecer ao outro algumas bolsas de tempo – para relaxar, fazer desporto ou
outra coisa qualquer, reduzem o stress, sentem-se mais unidos e com maior
sensação de controlo sobre a própria vida.
#2: Aceitar as tentativas de
fazer as pazes
Quanto mais tempo se passa em
confinamento, maior é a irritabilidade e a impaciência. Os conflitos são
praticamente inevitáveis e é muito importante tentar fazer as pazes. Quando o
membro do casal que tenta uma reaproximação se confronta com um “chega para
lá”, surgem sentimentos de rejeição difíceis de ultrapassar. Pelo contrário,
quando aceita o pedido de desculpas ou a tentativa de fazer as pazes, a
escalada diminui e aumenta a probabilidade de voltar a haver trocas de carinho
e o sentimento de amparo.
#3: Assumir a própria
responsabilidade
É preferível assumir a sua quota
parte de responsabilidade em vez de tentar provar que tem razão. Depois de um
momento de tensão, este pode ser um passo importante para que o outro também o
faça e o conflito seja mais facilmente ultrapassado. Claro que é muito mais
fácil dizer do que fazer. Quando assumimos, com humildade, que também errámos
ou que não devíamos ter dito algumas coisas, abrimos espaço para o diálogo e
para a reaproximação. Mostramos à outra pessoa que a vemos e que nos importamos
com o que ela sente.
#4: Mostrar desagrado
focando-se em situações específicas
Há uma diferença significativa
entre fazer uma queixa e fazer uma crítica. Uma queixa é situacional, refere-se
a um comportamento e ao impacto que esse comportamento provocou. Uma crítica
implica quase sempre uma generalização que acaba por ser sentida como um ataque
à personalidade do(a) companheiro(a).
Uma das ferramentas que proponho
frequentemente no consultório e que permite que qualquer pessoa manifeste o seu
desagrado de forma emocionalmente inteligente é a seguinte:
ABC
A – «Quando…» (descrição clara e objetiva da situação/
comportamento/ episódio)
B - «… eu senti-me»
(identificação dos sentimentos)
C - «Preferia que…/ Preciso que…»
(reconhecimento das próprias necessidades).
#5: Importância da empatia /
esperar o melhor do outro /aceitar a não-intencionalidade de magoar
Antes de fazer qualquer desabafo,
é importante tentar colocar-se na posição do outro, reconhecer os desafios que
ele(a) enfrenta. O mais provável é que ambos se sintam assoberbados com a
multiplicidade de tarefas, especialmente quando há filhos, e que ninguém esteja
no seu melhor. O facto de haver erros, equívocos de comunicação ou
esquecimentos está longe de querer dizer que a pessoa que está ao seu lado não
se importa. Quando começamos por dizer “Eu sei que não fizeste por mal…” ou “Eu
sei que estás com muito trabalho…”, mostramos empatia e reconhecimento.
#6: A importância dos pequenos
gestos de bondade
Diariamente, há pequenas
oportunidades para mostrarmos à pessoa que amamos que nos importamos com ela,
que a queremos fazer feliz. Quando o(a) deixamos dormir até mais tarde e
asseguramos os cuidados às crianças porque sabemos que ele(a) esteve a
trabalhar até tarde, quando trazemos do supermercado os miminhos de que ele(a)
gosta, quando preparamos uma refeição especial, quando celebramos as suas pequenas
conquistas profissionais ou quando o(a) ajudamos na elaboração de um relatório
ou na tradução de um trabalho, estamos a encher o mealheiro de afetos.
#7: Manter as conversas
diárias
O facto de ambos estarem a
trabalhar a partir de casa não significa que haja maior disponibilidade para prestar
atenção e conhecer as pequenas coisas que mexem com cada um. É importante
manter rituais de conversação em que cada um possa desabafar um pouco e os
membros do casal possam acalmar-se mutuamente.
As conversas a dois que acontecem
habitualmente no final de cada dia são um dos “segredos” dos casais mais
felizes. Permitem que cada um se sinta visto, compreendido e amado. São
autênticos “calmantes” naturais que nos ajudam a perceber que é ao lado da
pessoa que escolhemos que nos sentimos mais relaxados.
Mas é preciso ter atenção ao
propósito destas conversas e a tudo aquilo que elas Não são! Estas conversas
diárias a dois NÃO servem para falar sobre os problemas da relação.
São conversas sobre todas as
pequenas e grandes coisas que mexem com cada um dos membros do casal ao longo
do dia. São uma espécie de atualização diária a respeito daquilo que vai
acontecendo quando, apesar de estarem na mesma casa, não estão a prestar
atenção ao outro. A intenção é a de partilhar, acolher, demonstrar interesse,
apoiar e incentivar.