Quando gostamos de uma pessoa, mas não nos sentimos felizes na relação, agarramo-nos à esperança de que ele(a) mude e possamos voltar a ser felizes. Às vezes damos por nós a repetir os mesmos erros e a ter dúvidas. Será que ele(a) é capaz de mudar?
Quando nos sentimos infelizes numa
relação, é provável que, mais cedo ou mais tarde, façamos um ultimato: «Ou tu
mudas, ou a relação acaba». De uma maneira geral, estas palavras são fruto do
cansaço, do desespero, da solidão e da mágoa, mas podem facilmente ser
encaradas como uma manifestação de falta de amor. Afinal, já todos ouvimos
dizer que «Amar é aceitar o outro como ele é» e que «Quem ama não tenta mudar o
outro». Estes são clichês que são válidos para a maioria das relações,
sobretudo quando falamos de alguns defeitos irritantes, mas inofensivos ou de
hábitos de que não gostamos, mas que contribuem para a felicidade da pessoa que
amamos.
Quando os comportamentos da
pessoa que amamos nos magoam e/ou comprometem o nosso bem-estar e a nossa
felicidade, é bom que nos queixemos, que demos voz ao nosso mal-estar e que
ofereçamos à outra pessoa a oportunidade de fazer escolhas que nos ajudem a ser
felizes. Isso é especialmente importante se se tratar de comportamentos
abusivos, como a chantagem emocional, as humilhações, as ameaças ou as explosões.
Nesse caso, é mesmo imperativo exigir um compromisso sólido com a mudança, sob
pena de a nossa saúde emocional e a nossa autoestima ficarem comprometidas.
Quando a outra pessoa se sente
aflita com o risco de a relação terminar e promete mudar, enchemo-nos de
esperança num futuro melhor, mas a autenticidade demonstrada num momento de
aflição pode dar lugar a uma mão cheia de nada e, então, voltamos a sentir-nos sem
chão.
Será que as pessoas mudam (mesmo)?
A boa notícia é que as pessoas mudam. A má notícia é que isso dá trabalho.
Todos nos lembramos de colegas de escola que, no final do ano letivo, se mostravam genuinamente aflitos com a perspetiva de reprovar e que suplicavam aos professores para que lhes dessem nota positiva. Em muitos desses casos, a aflição era acompanhada de um conjunto de promessas que se desvaneciam no ano seguinte.
Como é que podemos saber que ele(a) está mesmo disposto(a) a mudar?
Só o tempo nos poderá dar
certezas absolutas sobre o grau de compromisso de uma pessoa, mas há alguns
sinais a que podemos estar atentos e que podem alimentar a esperança de que
ele(a) mude:
Arrependimento genuíno.
Este é o primeiro passo para a mudança. Está longe de ser condição suficiente,
mas é uma condição necessária. Se a pessoa de quem gosta estiver genuinamente
arrependida, você vai perceber. O rosto dele(a) vai inundar-se de sofrimento e
sentimentos de culpa. Esses sentimentos desconfortáveis são a alavanca para a
mudança. Se, pelo contrário, a pessoa de quem gosta oscilar entre palavras de
arrependimento e outras que, de forma explícita ou implícita, coloquem a
responsabilidade do seu lado, é pouco provável que haja compromisso com a
mudança. Por exemplo, se a pessoa que ama o(a) traiu e, depois de numa primeira
fase se ter mostrado arrependido(a), passar a dizer que você tem de esquecer o
assunto e seguir em frente, dificilmente estará genuinamente capaz de empatizar
com o seu sofrimento ou de se comprometer com mudanças. Se ele(a) tiver
comportamentos abusivos e, perante as suas queixas, for exclamando «Tu és
demasiado sensível», é pouco provável que haja mudanças sólidas.
Há espaço para conversar sobre o que o(a) incomoda.
Quando a pessoa está genuinamente empenhada em mudar e
fazê-lo(a) feliz, há disponibilidade para conversar sobre os assuntos geradores
de mal-estar. Isso não significa que dê pulos de contentamento ou que mostre
uma paciência de santo(a). Significa que mostra que quer mesmo saber do que é
que você precisa e que está empenhado(a) em investir em ações concretas.
Investe gradualmente de forma diferente.
Não há mudanças sem ação. Se voltarmos à metáfora da escola,
você sabe que um aluno não está verdadeiramente comprometido com a mudança se
continuar a dizer que estuda «amanhã». Quando queremos mudar, aproveitamos o
hoje para fazer o que estiver ao nosso alcance. Se a pessoa que ama tem estado
muito ausente, mais centrada no trabalho ou noutras prioridades, mas estiver
comprometida com a mudança, é expectável que você observe um esforço genuíno
para reservar tempo para a relação e que ele(a) tenha o cuidado de o(a)
informar ou de o(a) consultar quando tiver de voltar a ficar a trabalhar até
mais tarde. Se não estiver genuinamente comprometido(a), vai provavelmente
escudar-se num conjunto de desculpas para repetir as escolhas de sempre.
Há transparência.
Há
poucas coisas que nos ofereçam tanta segurança como o facto de alguém fazer
aquilo que diz que vai fazer, sem mentiras nem desculpas esfarrapadas. Quando a
pessoa que amamos se mostra empenhada em restaurar a nossa confiança e assume
uma postura clara e honesta, isso é sempre um bom sinal. Dizer a verdade não é
sempre fácil, sobretudo se a confiança tiver sido quebrada – pode dar origem a
alguma insegurança ou até a mal-entendidos. Mas, como é fácil de adivinhar, as
mentiras provocam danos ainda maiores e são, invariavelmente, um sinal de que o
compromisso com a mudança é muito débil.
Há planos a dois e a sua vontade é considerada.
Uma das características de uma relação infeliz é o
sentimento de desconsideração. Quando a pessoa que está ao nosso lado está
excessivamente centrada em si mesma, acaba invariavelmente por fazer escolhas
que nos magoam e que desconsideram a nossa vontade. Não há um verdadeiro
compromisso. Pelo contrário, quando a relação é devidamente valorizada e há
compromisso com a mudança, observamos que os nossos sentimentos e as nossas
necessidades são tidos em conta e passa a ser possível sonhar a dois.
Ele(a) é capaz de pedir ajuda.
Não há dúvida de que um compromisso é muito mais sólido quando é assumido
publicamente. Quando uma pessoa decide fazer dieta ou deixar de fumar, sabe que
se falar sobre isso com terceiros há uma probabilidade maior de essa mudança
lhe ser “cobrada”. Essa pressão é uma alavanca para a mudança. Quando há
comportamentos abusivos, uma traição ou outros acontecimentos que abalem a
solidez de uma relação, é importante falar abertamente sobre o assunto com
alguém que possa ajudar. Se a pessoa que ama está disponível para pedir ajuda
profissional, esse é um bom sinal. Claro que, depois, é essencial que se
comprometa com essa ajuda. Também é um sinal positivo se ele(a) assumir os
próprios erros junto de familiares e amigos. Pelo contrário, querer esconder os
problemas pode indicar alguma desvalorização e menor compromisso com a mudança.
Qualquer um de nós é capaz de
mudar, mas, de uma maneira geral, precisamos de sentir-nos suficientemente
desconfortáveis para implementarmos mudanças significativas. É natural que
queiramos manter-nos na nossa zona de conforto indefinidamente. Se estivermos
confortáveis e houver a mínima hipótese de a pessoa de quem gostamos nos
aceitar exatamente como somos, não vamos fazer nada para mudar. Se ficar claro
que ele(a) só vai manter-se na relação se houver mudanças sólidas, temos duas
hipóteses: ou valorizamos mesmo a relação e arregaçamos as mangas com medo de a
perder, ou mantemo-nos na nossa zona de conforto à espera que ele(a) ceda.
Qualquer um de nós pode manter-se
numa relação que não nos satisfaça. Fazemo-lo quase sempre com a esperança de
que, mais cedo ou mais tarde, a outra pessoa se dê conta de que precisa mesmo
de mudar. Na prática, somos nós que temos de dar voz àquilo de que precisamos
para sermos felizes e isso pode passar por fazer escolhas difíceis, como
afastarmo-nos de alguém que amamos, mas que não é capaz de mudar.