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27.2.25

Ansioso, evitante ou seguro? Como o estilo de vinculação influencia a sua relação

 


Quando a Susana está numa relação, vive com medo que o namorado a deixe – basta um emoji diferente no chat para ela entrar em pânico. Já o Tiago, assim que a namorada começa a falar em viverem juntos, sente um frio na barriga e começa a arranjar desculpas para se distanciar. Duas atitudes opostas, mas ambas comuns em relacionamentos amorosos. A raiz pode estar nos diferentes estilos de vinculação amorosa (ou estilos de apego) de cada um.

A teoria da vinculação, desenvolvida por psicólogos, explica que as nossas primeiras experiências de amor – lá atrás na infância, com os nossos cuidadores – moldam a forma como nos ligamos aos outros em adultos. Simplificando, tendemos a desenvolver um de três estilos principais: ansioso, evitante ou seguro. Nenhum estilo é “defeito” seu, são adaptações que fizemos para sobreviver emocionalmente. Mas podem afetar (e muito) a sua vida de casal hoje.

Vamos descobrir em que perfil você (ou o seu parceiro) se encaixa?

Estilo Ansioso: o medo de não ser amada

Quem tem um apego ansioso anseia por proximidade e tem um medo profundo do abandono. Amor e ansiedade andam lado a lado, o que pode ser extremamente desgastante. Algumas características típicas de uma pessoa com estilo ansioso:

  • Hipersensibilidade a sinais do parceiro: Repara em cada pequena mudança de tom de voz, olhar ou mensagem. Se o outro parece mais calado num dia, já imagina que o amor esfriou.
  • Necessidade constante de reafirmação: “Tu amas-me mesmo?” poderia ser o lema. Precisa de frequentes demonstrações de afeto e segurança de que está tudo bem na relação.
  • Medo de expressar necessidades: Ironicamente, quem tem medo de ser abandonado às vezes evita falar do que o incomoda, com receio de afastar o parceiro. Engole sapos e finge que está tudo bem para manter a paz.
  • Comportamentos de protesto: Quando se sente insegura, pode acabar por fazer “joguinhos” (mesmo sem querer). Por exemplo, demorar de propósito a responder a uma mensagem para ver se o outro se preocupa, ou mostrar ciúmes exagerados para testar o quanto ele se importa.

Por trás do estilo ansioso há, muitas vezes, a crença de não ser suficientemente boa ou de que vai acabar sozinha. Essas pessoas dão tudo de si na relação amorosa, mas às vezes esquecem de dar valor a si próprias. A boa notícia? Com consciência e trabalho interior (muitas vezes em terapia), é possível acalmar essas inseguranças e criar ligações mais seguras. Aliás, ao ganhar confiança em si, deixa de precisar de “joguinhos” para chamar a atenção do parceiro, construindo interações mais honestas.

Estilo Evitante: o medo de perder a liberdade

No outro extremo, o estilo evitante valoriza tanto a independência que a intimidade profunda pode assustar. Pessoas evitantes desejam amor como qualquer outra pessoa, mas o excesso de proximidade aciona um alarme interno de que estão a ser “sufocadas” ou de que vão perder a autonomia.

Características comuns de um perfil evitante:

  • Precisa de espaço (muito espaço): Gosta de estar num relacionamento, mas se o parceiro começa a exigir mais tempo ou compromisso, sente necessidade de se afastar para “respirar”.
  • Dificuldade em expressar vulnerabilidade: Falar sobre sentimentos profundos ou necessidades emocionais não é confortável. Prefere evitar essas conversas ou tratá-las de forma racional, quase como se as emoções fossem um incómodo.
  • Tendência a focar-se nos defeitos do parceiro: Inconscientemente, pode sabotar a intimidade arranjando defeitos no outro quando a relação se aprofunda. Pensamentos do tipo “ela é ótima, mas não é bem perfeita para mim” funcionam como desculpa para manter alguma distância.
  • Autossuficiência extrema: Orgulha-se de ser independente. Em momentos de stress ou conflito, retira-se para dentro de si em vez de buscar apoio. Para o parceiro, parece frio ou indiferente.

Quem é evitante nem sempre percebe o quanto magoa o outro com o vai-e-vem emocional. Provavelmente, lá atrás, aprendeu que depender de alguém acaba em dor – então decidiu “não precisar” de ninguém. O desafio é entender que deixar alguém entrar não significa perder a identidade. Com paciência e possivelmente ajuda profissional, um evitante pode equilibrar independência e intimidade.

Estilo Seguro: o equilíbrio saudável

O estilo seguro é aquele com que todos nascemos potencialmente, e muitos conseguem desenvolver – normalmente fruto de ter recebido cuidados consistentes e afeto na medida certa em criança. Adultos com um estilo de vinculação seguro têm um equilíbrio saudável entre proximidade e autonomia.

Como os podemos reconhecer?

  • Confortáveis com a intimidade: Gostam de estar próximos, mas também não se afligem quando há espaço ou momentos a sós. Conseguem dar e receber amor sem drama excessivo.
  • Comunicação clara e empática: Expressam o que sentem (para o bem e para o mal) de forma respeitosa. Se algo os incomoda, falam diretamente sem acusar; se estão chateados, conseguem ouvir o outro sem explodir ou fugir.
  • Confiança e suporte mútuo: Tendem a confiar no parceiro e a ser confiáveis. Não fazem jogos para testar o amor. Também aceitam bem os “nãos” do outro, sem interpretar isso como rejeição pessoal devastadora.

Estar com alguém seguro é muitas vezes descrito como “fácil” (no bom sentido!). Há menos adivinhações e mais certeza. Mas atenção: ser seguro não significa não precisar de esforço; apenas torna a navegação da vida a dois mais suave.

Podemos mudar nosso estilo de vinculação?

Sim! A melhor notícia de todas é que os estilos de vinculação não são uma sentença perpétua. São padrões aprendidos, e qualquer coisa aprendida pode ser ajustada. Uma pessoa ansiosa pode tornar-se mais segura ao aprender a acalmar os seus medos e a fortalecer a autoestima. Um evitante pode, gradualmente, sentir-se mais confortável em depender de quem merece confiança.

As relações com pessoas seguras ajudam muito porque“reeducam” o nosso coração a confiar. Além disso, a própria terapia de casal ou individual é um espaço onde podemos explorar essas feridas antigas num contexto seguro. Com autoconhecimento e prática, é possível construir relacionamentos mais seguros mesmo que o seu ponto de partida tenha sido ansioso ou evitante.

No fim das contas, conhecer o seu estilo de vinculação é uma ferramenta poderosa. Ajuda a explicar, por exemplo, porque é que entra em pânico se a outra pessoa se afasta um pouco, ou porque sente vontade de fugir quando alguém chega perto demais. Essa consciência é o primeiro passo para mudar o que for preciso e aproximar-se do equilíbrio ideal: nem medo do abandono, nem medo de compromisso – apenas um amor em que a confiança e a autonomia caminham de mãos dadas.

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