21.6.23
PARENTALIDADE CONSCIENTE
23.5.22
8 SEGREDOS PARA UMA SEXUALIDADE FELIZ
O sexo é aquilo que diferencia uma relação romântica das outras relações afetivas, pelo que, para que nos sintamos felizes e entusiasmados na nossa relação conjugal, também precisamos de sentir satisfação sexual. Quais são os segredos para uma sexualidade feliz?
1. Escolher a pessoa certa
Claro que quando iniciamos uma relação é porque nos sentimos suficientemente atraídos por um conjunto de atributos daquela pessoa que nos levam a acreditar que ela é – ou pode ser – a pessoa certa. Mas a maior parte das pessoas que eu conheço – dentro e fora do consultório – já passaram por desgostos amorosos e muitas dessas pessoas reconhecem que tendem a sentir-se atraídas pelo mesmo “tipo” de pessoas. Como refiro no livro “Manual do Amor”, cada um de nós tem um estilo de vinculação amorosa – seguro, ansioso, evitante ou desorganizado. Num mundo ideal seríamos todos seguros e as relações teriam maior probabilidade de dar certo, mas esse mundo também seria provavelmente mais monótono e entediante. Na prática, há algumas combinações mais desafiantes do que outras e escolher a pessoa certa pode implicar conhecermo-nos suficientemente bem, conhecermos as características e necessidades do nosso estilo de vinculação amorosa e, já agora, aprendermos a reconhecer se a pessoa que nos atrai é ou não aquela que vai ser capaz de vir ao encontro das nossas necessidades.
2. Falar abertamente sobre sentimentos e necessidades, também no que toca à sexualidade.
Um casal que não discute é, por norma, um casal que não se conhece mutuamente, que não tem uma relação que possa ser considerada íntima do ponto de vista emocional e um casal que, mais cedo ou mais tarde, também vai sentir-se insatisfeito em relação à sexualidade. Ora, se no início de uma relação é sobretudo o desejo por “aquilo” que não é nosso que nos move, numa relação de compromisso o desejo anda de mãos dadas com a segurança e com o preenchimento das nossas necessidades. Se nos esquivarmos a falar sobre o que sentimos – dentro e fora da cama – o mais provável é que comecemos a olhar para a pessoa por quem nos apaixonámos como alguém que até pode continuar a parecer-nos fisicamente atraente, mas por quem não sentimos desejo. Todas as pessoas têm problemas, inquietações e dificuldades. Aquilo que costuma diferenciar os casais satisfeitos com a sua sexualidade dos outros não é a inexistência de problemas ou de sentimentos desagradáveis. É, sobretudo, a capacidade de responder com atenção, afeto e compaixão a cada dificuldade.
3. Fazer “conchinha” depois do sexo
Ao contrário do que uma boa parte do cinema e da imprensa nos tenta “vender”, não é o número de vezes que fazemos sexo ou o número de posições do kamasutra que experimentamos que faz com que nos sintamos mais felizes com a nossa sexualidade. Um dos indicadores de satisfação sexual que a ciência nos tem demonstrado é a “conchinha”. Os casais que se sentem mais felizes com a sua sexualidade tendem a aninhar-se um no outro depois do sexo. Na verdade, isso é mais uma demonstração da ligação que sentem.
4. Cultivar a confiança
Pode não ser a frase mais sexy do mundo, mas a amizade é a base de qualquer relação conjugal feliz e é também, segundo a investigadora Emily Nagoski, educadora sexual com décadas de experiência, um dos dois grandes pilares da satisfação sexual (o outro está identificado no ponto 7). Nós podemos ter sexo louco e intenso com um desconhecido, podemos ter sexo diariamente com pessoas diferentes, mas as investigações mostram que as pessoas casadas tendem a assumir que fazem mais e melhor sexo do que quando estavam solteiras. Isso tem tudo a ver com a amizade e com a confiança. Diariamente podemos escolher entre assumirmos uma postura honesta, confiável e transparente ou não. Quando mostramos o que realmente sentimos, mesmo que seja o nosso desagrado, estamos a cultivar a confiança. Quando mostramos que nos importamos com o que a pessoa que amamos sente e que queremos estar “lá” para ela, estamos a cultivar a confiança. Quando honramos os nossos compromissos e fazemos aquilo que prometemos, também.
5. Alimentar a própria individualidade
A sexóloga Esther Perel popularizou o termo “inteligência erótica”. Segundo a investigadora, é dificílimo desejarmos aquilo que já temos, pelo que, se nos descuidarmos, é possível que ao fim de alguns anos passemos a olhar para a pessoa que está ao nosso lado mais como um/uma irmão/irmã do que como um(a) amante. Na prática, a nossa individualidade, aquilo que continuamos a fazer por nós, para além dos planos a dois, é uma das formas de mantermos uma “distância de segurança”, que nos permite olhar um para o outro com a certeza de que há sempre algo para descobrir. É como se aquilo que fazemos por nós, individualmente, nos permitisse aliar uma dose de mistério, de adrenalina e de incerteza à segurança e à previsibilidade que existem nas relações duradouras.
6. Manter a mente aberta em relação à novidade
Uma relação precisa tanto de segurança e previsibilidade quanto de mistério e novidade. Mas não é apenas a novidade na individualidade. À medida que os anos passam, a vida muda-nos. Nenhum de nós é a mesma pessoa depois de vinte ou trinta anos e muitas vezes não é fácil acompanhar as mudanças da pessoa que está ao nosso lado, manter o ritmo. Algumas pessoas deixam de comer carne e passam a ser vegetarianas. Outras descobrem o prazer de viajar depois de os filhos saírem de casa. Ou o prazer do exercício físico. Se cada um estiver disponível para continuar a descobrir o outro e para alinhar em programas novos, experiências novas, aventuras novas, é mais provável que o casal continue a sentir-se unido e entusiasmado.
7. Ir à festa… mesmo quando não apetece
Certamente já passou pela experiência de não ter a mínima vontade de ir a uma festa ou a outro evento, mas acabar por ser arrastado(a) por outras pessoas ou sentir-se na obrigação de marcar presença por consideração a um familiar ou a um(a) amigo(a) e, depois, assumir que foi a melhor coisa que fez porque acabou por se divertir. Nem sempre nos apetece fazer sexo. Às vezes já temos o pijama vestido ou está a começar a nossa série de televisão favorita e é fácil dizer “não”. Mas quando cedemos e nos deixamos levar pelas carícias da pessoa que amamos, acabamos por divertir-nos e sentir prazer. Aquilo que os casais mais felizes com a sua sexualidade têm em comum é a amizade e o facto de darem prioridade ao sexo. Eles aparecem na festa, ainda que, no início, nem sempre lhes apeteça. Isso não significa que estejam sempre disponíveis ou que não haja negas. Claro que há! Outra coisa que estes casais têm em comum é o facto de saberem lidar com as negas: não há culpabilização nem amuos. Há carinho e compaixão.
8. Gerir as expectativas
Os casais felizes NÃO são almas gémeas, não leem pensamentos, não são atores pornográficos, nem chegam diariamente montados num cavalo branco com um ramo de flores na mão. A satisfação sexual tem pouco a ver com performance ou com a frequência das relações sexuais. A maior parte das pessoas faz menos sexo do que gostaria ou do que idealizara. Porquê? Porque a vida acontece. Porque há rotinas que nos atropelam, há problemas que nem sempre conseguimos afastar do nosso pensamento, porque há birras e outras solicitações para gerir, porque há sono, muito sono. De vez em quando podemos ter de colocar na agenda um ou outro lembrete para que não nos esqueçamos de namorar, ou simplesmente reservar tempo e escolher, intencionalmente, manter o resto da vida (preocupações) em stand by. Gerir as expectativas não é baixar a fasquia. É sermos justos e bondosos connosco e com a pessoa que está ao nosso lado.
22.9.21
SERÁ QUE ELE(A) MUDA?
Quando gostamos de uma pessoa, mas não nos sentimos felizes na relação, agarramo-nos à esperança de que ele(a) mude e possamos voltar a ser felizes. Às vezes damos por nós a repetir os mesmos erros e a ter dúvidas. Será que ele(a) é capaz de mudar?
Quando nos sentimos infelizes numa
relação, é provável que, mais cedo ou mais tarde, façamos um ultimato: «Ou tu
mudas, ou a relação acaba». De uma maneira geral, estas palavras são fruto do
cansaço, do desespero, da solidão e da mágoa, mas podem facilmente ser
encaradas como uma manifestação de falta de amor. Afinal, já todos ouvimos
dizer que «Amar é aceitar o outro como ele é» e que «Quem ama não tenta mudar o
outro». Estes são clichês que são válidos para a maioria das relações,
sobretudo quando falamos de alguns defeitos irritantes, mas inofensivos ou de
hábitos de que não gostamos, mas que contribuem para a felicidade da pessoa que
amamos.
Quando os comportamentos da
pessoa que amamos nos magoam e/ou comprometem o nosso bem-estar e a nossa
felicidade, é bom que nos queixemos, que demos voz ao nosso mal-estar e que
ofereçamos à outra pessoa a oportunidade de fazer escolhas que nos ajudem a ser
felizes. Isso é especialmente importante se se tratar de comportamentos
abusivos, como a chantagem emocional, as humilhações, as ameaças ou as explosões.
Nesse caso, é mesmo imperativo exigir um compromisso sólido com a mudança, sob
pena de a nossa saúde emocional e a nossa autoestima ficarem comprometidas.
Quando a outra pessoa se sente
aflita com o risco de a relação terminar e promete mudar, enchemo-nos de
esperança num futuro melhor, mas a autenticidade demonstrada num momento de
aflição pode dar lugar a uma mão cheia de nada e, então, voltamos a sentir-nos sem
chão.
Será que as pessoas mudam (mesmo)?
A boa notícia é que as pessoas mudam. A má notícia é que isso dá trabalho.
Todos nos lembramos de colegas de escola que, no final do ano letivo, se mostravam genuinamente aflitos com a perspetiva de reprovar e que suplicavam aos professores para que lhes dessem nota positiva. Em muitos desses casos, a aflição era acompanhada de um conjunto de promessas que se desvaneciam no ano seguinte.
Como é que podemos saber que ele(a) está mesmo disposto(a) a mudar?
Só o tempo nos poderá dar
certezas absolutas sobre o grau de compromisso de uma pessoa, mas há alguns
sinais a que podemos estar atentos e que podem alimentar a esperança de que
ele(a) mude:
Arrependimento genuíno.
Este é o primeiro passo para a mudança. Está longe de ser condição suficiente,
mas é uma condição necessária. Se a pessoa de quem gosta estiver genuinamente
arrependida, você vai perceber. O rosto dele(a) vai inundar-se de sofrimento e
sentimentos de culpa. Esses sentimentos desconfortáveis são a alavanca para a
mudança. Se, pelo contrário, a pessoa de quem gosta oscilar entre palavras de
arrependimento e outras que, de forma explícita ou implícita, coloquem a
responsabilidade do seu lado, é pouco provável que haja compromisso com a
mudança. Por exemplo, se a pessoa que ama o(a) traiu e, depois de numa primeira
fase se ter mostrado arrependido(a), passar a dizer que você tem de esquecer o
assunto e seguir em frente, dificilmente estará genuinamente capaz de empatizar
com o seu sofrimento ou de se comprometer com mudanças. Se ele(a) tiver
comportamentos abusivos e, perante as suas queixas, for exclamando «Tu és
demasiado sensível», é pouco provável que haja mudanças sólidas.
Há espaço para conversar sobre o que o(a) incomoda.
Quando a pessoa está genuinamente empenhada em mudar e
fazê-lo(a) feliz, há disponibilidade para conversar sobre os assuntos geradores
de mal-estar. Isso não significa que dê pulos de contentamento ou que mostre
uma paciência de santo(a). Significa que mostra que quer mesmo saber do que é
que você precisa e que está empenhado(a) em investir em ações concretas.
Investe gradualmente de forma diferente.
Não há mudanças sem ação. Se voltarmos à metáfora da escola,
você sabe que um aluno não está verdadeiramente comprometido com a mudança se
continuar a dizer que estuda «amanhã». Quando queremos mudar, aproveitamos o
hoje para fazer o que estiver ao nosso alcance. Se a pessoa que ama tem estado
muito ausente, mais centrada no trabalho ou noutras prioridades, mas estiver
comprometida com a mudança, é expectável que você observe um esforço genuíno
para reservar tempo para a relação e que ele(a) tenha o cuidado de o(a)
informar ou de o(a) consultar quando tiver de voltar a ficar a trabalhar até
mais tarde. Se não estiver genuinamente comprometido(a), vai provavelmente
escudar-se num conjunto de desculpas para repetir as escolhas de sempre.
Há transparência.
Há
poucas coisas que nos ofereçam tanta segurança como o facto de alguém fazer
aquilo que diz que vai fazer, sem mentiras nem desculpas esfarrapadas. Quando a
pessoa que amamos se mostra empenhada em restaurar a nossa confiança e assume
uma postura clara e honesta, isso é sempre um bom sinal. Dizer a verdade não é
sempre fácil, sobretudo se a confiança tiver sido quebrada – pode dar origem a
alguma insegurança ou até a mal-entendidos. Mas, como é fácil de adivinhar, as
mentiras provocam danos ainda maiores e são, invariavelmente, um sinal de que o
compromisso com a mudança é muito débil.
Há planos a dois e a sua vontade é considerada.
Uma das características de uma relação infeliz é o
sentimento de desconsideração. Quando a pessoa que está ao nosso lado está
excessivamente centrada em si mesma, acaba invariavelmente por fazer escolhas
que nos magoam e que desconsideram a nossa vontade. Não há um verdadeiro
compromisso. Pelo contrário, quando a relação é devidamente valorizada e há
compromisso com a mudança, observamos que os nossos sentimentos e as nossas
necessidades são tidos em conta e passa a ser possível sonhar a dois.
Ele(a) é capaz de pedir ajuda.
Não há dúvida de que um compromisso é muito mais sólido quando é assumido
publicamente. Quando uma pessoa decide fazer dieta ou deixar de fumar, sabe que
se falar sobre isso com terceiros há uma probabilidade maior de essa mudança
lhe ser “cobrada”. Essa pressão é uma alavanca para a mudança. Quando há
comportamentos abusivos, uma traição ou outros acontecimentos que abalem a
solidez de uma relação, é importante falar abertamente sobre o assunto com
alguém que possa ajudar. Se a pessoa que ama está disponível para pedir ajuda
profissional, esse é um bom sinal. Claro que, depois, é essencial que se
comprometa com essa ajuda. Também é um sinal positivo se ele(a) assumir os
próprios erros junto de familiares e amigos. Pelo contrário, querer esconder os
problemas pode indicar alguma desvalorização e menor compromisso com a mudança.
Qualquer um de nós é capaz de
mudar, mas, de uma maneira geral, precisamos de sentir-nos suficientemente
desconfortáveis para implementarmos mudanças significativas. É natural que
queiramos manter-nos na nossa zona de conforto indefinidamente. Se estivermos
confortáveis e houver a mínima hipótese de a pessoa de quem gostamos nos
aceitar exatamente como somos, não vamos fazer nada para mudar. Se ficar claro
que ele(a) só vai manter-se na relação se houver mudanças sólidas, temos duas
hipóteses: ou valorizamos mesmo a relação e arregaçamos as mangas com medo de a
perder, ou mantemo-nos na nossa zona de conforto à espera que ele(a) ceda.
Qualquer um de nós pode manter-se
numa relação que não nos satisfaça. Fazemo-lo quase sempre com a esperança de
que, mais cedo ou mais tarde, a outra pessoa se dê conta de que precisa mesmo
de mudar. Na prática, somos nós que temos de dar voz àquilo de que precisamos
para sermos felizes e isso pode passar por fazer escolhas difíceis, como
afastarmo-nos de alguém que amamos, mas que não é capaz de mudar.
11.2.21
COMO AUMENTAR A RESILIÊNCIA
Todas as pessoas passam por situações difíceis ou até traumáticas, mas, na maioria das vezes, têm a capacidade de seguir em frente. O que é que nos permite levantar e arregaçar as mangas de cada vez que caímos? Porque é que há pessoas mais resilientes do que outras? Como é que podemos desenvolver a resiliência?
O que é a resiliência?
A resiliência é a capacidade de
nos adaptarmos às situações mais stressantes e desafiadoras da vida. Ao
contrário do que possamos imaginar, a maioria das pessoas são resilientes.
Claro que um simples olhar à nossa volta nos mostra que há pessoas mais
resilientes do que outras. Todos conhecemos pessoas que fazem um drama à menor
contrariedade e outras que mostram uma capacidade incrível de se reerguer mesmo
nas maiores adversidades. Quando olhamos para desafios intensos como o
diagnóstico de um cancro, a perda de emprego ou um divórcio, é evidente que se
trata de marcos muito significativos capazes de abalar a felicidade e a
estabilidade da maioria das pessoas. Mas também é claro que a maior parte das
pessoas que conhecemos acabam por ultrapassar estes desafios, adaptando-se e
reerguendo-se.
Podemos desenvolver a resiliência?
Os estudos sobre a Psicologia
positiva evoluíram muito nas últimas décadas e contribuíram para o conhecimento
que hoje temos sobre este tema. A resiliência está diretamente relacionada com
níveis mais elevados de autoconfiança, bom humor, e uma imagem positiva de nós
mesmos e a boa notícia é que podemos desenvolvê-la em qualquer momento da
nossa vida.
Dicas para desenvolver a resiliência
1. Conte
com o apoio dos outros.
Perante um problema difícil, pode
ser tentador fechar-se na sua concha e contar apenas consigo mesmo. As pessoas
que cresceram por sua conta, sem sentirem que pudessem confiar ou contar com os
adultos à sua volta, podem sentir maior dificuldade em vulnerabilizar-se,
confiar nos outros ou pedir apoio. É importante que tenhamos compaixão pelas
nossas vulnerabilidades, pelas nossas feridas emocionais, mas que não
permitamos que elas se cristalizem e nos impeçam de explorar novos caminhos.
Se tem dificuldade em pedir apoio ou em confiar
nos outros, é porque em algum momento da sua
vida houve a necessidade de esse mecanismo de
defesa surgir, mas isso não significa que hoje não
haja ninguém que seja merecedor da sua confiança.
Desabafar e contar com o apoio
dos outros é um meio importante para nos sentirmos amparados e conseguirmos
enfrentar com resiliência as adversidades.
2. Olhe
para os problemas com flexibilidade.
Não podemos mudar aquilo que nos
aconteceu no passado nem podemos mudar alguns acontecimentos do presente, mas
podemos mudar a forma como olhamos e reagimos a todos estes eventos. Quando
olhamos para trás e identificamos os acontecimentos mais difíceis da nossa
vida, temos, pelo menos, duas alternativas. Uma é vitimizarmo-nos, olhar
para nós mesmos como coitadinhos, olhar para os acontecimentos como catástrofes
em relação às quais nada podemos fazer, olhar para os traumas como
inultrapassáveis e para as pessoas que causaram esses traumas como monstros. A
outra é olhar para os acontecimentos com abertura e curiosidade e olhar para as
pessoas à nossa volta com compaixão, reconhecer as suas próprias vulnerabilidades
e o sentido de humanidade comum que está associado à certeza de que cada pessoa
faz, num dado momento, o melhor que sabe. De uma maneira geral, esta abordagem
ajuda-nos a reconhecer também o lado mais positivo de cada evento negativo. Por
exemplo, as pessoas que cresceram com um progenitor alcoólico serão mais
resilientes na medida em que sejam capazes de perceber que a forma como esse
progenitor cresceu e a forma como recebeu (ou não recebeu) o amor dos seus
cuidadores condicionou a estruturação da sua personalidade. Esta compaixão abre
espaço para que consigam reparar nos gestos daquele progenitor que mostram
afeto, apesar de todas as feridas emocionais.
3. Aceite
que o sofrimento faz parte da vida.
«Shit happens», já ouviu dizer?
Quando nos confrontamos com uma adversidade, é fácil questionar «Porquê eu?
Porque é que isto me aconteceu?», mas a verdade é que a pergunta mais razoável
é «E porque não eu?». Olhe à sua volta: conhece alguém que nunca tenha
passado por dificuldades sérias? Talvez lhe ocorra responder que sim.
Afinal, todos conhecemos pessoas a quem a vida parece estar sempre a sorrir. Ou
será que são sobretudo pessoas que assumem uma postura otimista em relação à
vida?
Não há um único ser humano adulto
que nunca tenha enfrentado uma dificuldade séria – um divórcio, um problema de
infertilidade, uma traição, a perda de emprego, o alcoolismo de um familiar,
uma doença séria, a perda de um ente querido. Uma das coisas que diferencia as
pessoas resilientes é a aceitação de que o sofrimento faz parte da vida. É
também por isso que elas arregaçam as mangas mais rapidamente, em vez de
perderem tempo a vitimizar-se. Elas não precisam de ver o vizinho a sofrer para
reconhecerem a humanidade comum que as liga às outras pessoas. Elas não olham
para um momento de dor como uma tragédia que as exclui do direito à vida
perfeita que as outras pessoas mostram no Instagram.
Aceitar o seu sofrimento não
significa alimentar quaisquer sentimentos de pena de si próprio(a). Significa,
isso sim, reconhecer que as tragédias acontecem e que a forma como você
responde a essas tragédias vai influenciar (muito) o seu bem-estar. Aceitar que
o sofrimento faz parte da existência humana ajuda-nos a reconhecer que, nos
momentos difíceis, as escolhas que fazemos podem ajudar-nos a afundar ou a
nadar até à tona.
4. Enfrente
os problemas de forma ativa e direta, em vez de os evitar.
Enfiar a cabeça na almofada é um
direito seu, pelo menos na medida em que essa seja uma escolha transitória e uma
forma de permitir a si mesmo(a) sentir a dua dor. Mas esta opção deixa de ser
uma alternativa saudável na medida em que se transforme na única resposta aos
problemas. Quanto mais evitarmos confrontar-nos com os nossos problemas, maior
é a probabilidade de eles se transformarem em bichos papões que pareçam cada
vez mais difíceis de ultrapassar. Enfrentar os problemas, dar-lhes um nome e
fazer um plano para lidar com eles é a melhor forma de voltar a sentir que tem
controlo sobre a sua vida.
5. Liberte
a sua ansiedade.
Cada pessoa tem a sua própria
forma de lidar com a ansiedade, mas há escolhas que são mais saudáveis do que
outras. As pessoas que se disciplinam no sentido de incluir na sua rotina
hábitos como a meditação, a prática de exercício físico ou a realização de
hobbies que as ajudem a desconectar-se dos problemas e a descontrair, costumam
enfrentar as adversidades com maior resiliência.
6. Identifique
o seu propósito.
A vida leva-nos muitas vezes a um
piloto automático em que dificilmente paramos para prestar atenção às coisas
que mais valorizamos. Quando estamos demasiado acelerados pelo ritmo frenético
das nossas vidas, é fácil sentirmo-nos assoberbados, stressados e frustrados.
Parar para prestar atenção às coisas (e às pessoas) que mais valorizamos –
praticando ativamente a gratidão, por exemplo – pode ajudar-nos a reconhecer
com maior clareza o nosso propósito de vida e a definir objetivos que
genuinamente nos aproximem de uma vida mais feliz.
7. Crie
tempo para a brincadeira.
Se quisermos ver uma criança
feliz, é só criarmos espaço para que ela tenha a oportunidade de brincar, de
preferência acompanhada. Brinquedos + companhia = diversão. Às vezes, nem
sequer é preciso que haja brinquedos de verdade. Já reparou como duas crianças
se podem divertir com caixas velhas enquanto fingem que se trata de carros em
competição? Ou como brincam aos médicos mesmo quando não têm qualquer
equipamento que se assemelhe a um estetoscópio? A imaginação e a companhia são o
suficiente.
E este hábito é ainda mais
importante e terapêutico nos períodos de maior stress. Lembre-se disso da
próxima vez que disser que não tem tido tempo para fazer as coisas de que
gosta.
8. Foque-se
naquilo que pode mudar.
Somos muito bons a identificar as
ameaças. Na verdade, o nosso cérebro está altamente programado para isso. Este
mecanismo de sobrevivência é essencial nas situações em que a nossa
sobrevivência está em causa, como quando estamos na presença de um animal
feroz. A questão é que a nossa vida não está sistematicamente em risco.
Quando focamos toda a nossa atenção naquilo
que não controlamos, estamos a desperdiçar a nossa
energia e, mais importante do que isso, estamos a
desperdiçar a oportunidade de canalizar a nossa
atenção para aquilo que podemos mudar.
Por exemplo, quando um pai ou uma
mãe perde um filho, é evidente que o seu mundo muda para sempre. A morte é
irreversível e deixa-nos com um sentimento de impotência brutal. Não é por
acaso que diversos estudos mostram que a prevalência do divórcio é altíssima
depois de um acontecimento como este. Mas a verdade é que há muitos casais que
se mantêm unidos e cuja relação prospera, apesar de terem enfrentado a maior
das adversidades. Estes casais conseguem perceber que aquilo que perderam não
tem de lhes roubar aquilo que ficou.
Eles conseguem sentir-se gratos por aquilo que ainda têm e conseguem
centrar a sua atenção naquilo que podem fazer para manter aquilo que têm. Esta
postura – de praticar a gratidão e de centrar a atenção naquilo que podemos
mudar – é aplicável a todas as tragédias da vida.
9. Pergunte
a si mesmo(a): «As escolhas que estou a fazer são boas para mim?».
Se tiver acabado de ser
deixado(a) e estiver a passar por um divórcio, é natural que queira seguir
todos os passos do(a) seu(sua) ex-companheiro(a). Talvez passe horas nas redes
sociais na tentativa de saber se ele(a) tem alguém ou simplesmente para saber
se está online. Mas será que essas escolhas lhe fazem bem? Será que o(a)
ajudam a ficar melhor? Nem sempre conseguimos fazer as escolhas que nos
protegem ou que promovem o nosso bem-estar. Às vezes até sabemos exatamente o
que é que “deveríamos” estar a fazer, mas não é essa a nossa escolha. Há uma
diferença entre sabermos o que nos faz bem e sermos capazes de nos
comprometermos com essa escolha. Mas se formos capazes de trazer esta pergunta
para o nosso dia-a-dia, aumenta a probabilidade de sermos genuinamente gentis
connosco próprios.
Isto é aplicável às mais diversas
adversidades e a pergunta pode assumir diferentes formatos:
Será que eu preciso
mesmo de comprar isto?
Será que é bom para
mim deixar de ir ao ginásio e ficar fechada em casa a sofrer por amor?
Será que me faz bem
ir todas as semanas ao cemitério?
Será que me faz bem
alimentar pensamentos como «Nunca vais ser capaz de conseguir aquele emprego»?
Será que me faz bem
“googlar” sobre doenças?
10. Reconheça
a sua força.
Olhe para trás e repare na forma
como respondeu às diferentes adversidades com que já se confrontou. Que
características o(a) ajudaram a ultrapassar esses acontecimentos? Que escolhas
contribuíram para que não se afundasse?
Quando olhamos para os
acontecimentos mais difíceis da nossa vida, é natural que as recordações
estejam maioritariamente relacionadas com os sentimentos desconfortáveis por
que passámos, com o sofrimento vivido. Mas a esmagadora maioria destas
situações foram ultrapassadas graças à nossa resiliência, às escolhas que
fizemos e que também traduzem a nossa força. Por outro lado, estes
acontecimentos também acrescentam invariavelmente uma dose considerável de
crescimento pessoal. Há competências que nem sequer sabíamos que tínhamos e/ou
que foram aprimoradas na resposta às dificuldades. Há aprendizagens que jamais
teríamos feito se não tivéssemos passado por certos eventos. Sermos capazes de
reconhecer a nossa força, as características que nos ajudam a enfrentar as
dificuldades, é fundamental para que reconheçamos a resiliência que há em nós
para lidar com o que está por vir.
10.2.21
CONSULTAS DE PSICOLOGIA E TERAPIA DE CASAL ONLINE
Em tempos de Covid-19 e isolamento, a terapia online é a única forma de receber ajuda especializada no que toca à saúde psicológica. Será que funciona? Como é que se processa? É para todos? Como é que sabemos que podemos confiar?
A Terapia online funciona?
- Há investigações que mostram que a terapia cognitivo-comportamental, que permite estimular a consciência sobre padrões de pensamentos negativos ajudando os pacientes a responder a situações desafiantes, é tão eficaz por videoconferência quanto pela via presencial.
- Um estudo mostrou que os adolescentes que realizaram consultas por telefone para a perturbação obsessivo-compulsiva obtiveram tanto sucesso no tratamento quanto os colegas que foram acompanhados presencialmente.
- Uma investigação mostrou que os veteranos que sofrem de perturbação pós stress traumático respondem tão bem à terapia por videoconferência quanto ao tratamento recebido no consultório.
Posso confiar no profissional que
está do outro lado do ecrã?
- A Ordem dos Psicólogos dispõe de uma lista de todos os profissionais registados e autorizados a exercer em Portugal. Certifique-se de que é acompanhado(a) por um(a) psicólogo(a) inscrito na Ordem.
- Converse com o seu médico de família e peça uma recomendação. Os médicos de família estão habituados a fazer o encaminhamento para consultas de especialidade e poderão ajudar a encontrar a melhor alternativa.
- Se se sentir confortável, peça uma referência a um(a) amigo(a) ou a um familiar. Não há nada como a certeza de que alguém já foi bem-sucedido no acompanhamento psicológico com determinado(a) profissional.
- Faça perguntas. Antes de marcar uma consulta, faça uma lista com todas as suas dúvidas. Telefone ou envie um e-mail para o(a) psicólogo(a) que está a pensar consultar. Estas respostas ajudá-lo(a)-ão a fazer a sua escolha. Se não obtiver resposta, isso também o(a) ajudará a fazer a sua escolha 😊.